BC fala em “determinação e perseverança” contra inflação e indica juros maiores

  • Por Reuters
  • 11/06/2015 15h09

Bandeira do Brasil do lado de fora da sede do Banco Central REUTERS/Ueslei Marcelino Bandeira do Brasil do lado de fora da sede do Banco Central

O Banco Central endureceu o discurso nesta quinta-feira ao informar que há a necessidade de “determinação e perseverança” no combate à inflação, levando parte dos especialistas a acreditar que o atual ciclo de aperto monetário pode ser mais intenso do que o esperado.

Na ata da última reunião Copom, divulgada mais cedo, o BC reafirmou que os ajustes de preços relativos na economia fazem com que a inflação se eleve no curto prazo e tenda a permanecer elevada em 2015. E acrescentou que é preciso “determinação e perseverança para impedir sua transmissão para prazos mais longos”, frase que não havia mencionado na ata anterior.

Com isso, cresceram as apostas de que, em julho, quando o Copom se reúne novamente, a Selic será elevada novamente em 0,5 ponto percentual, e não em 0,25 ponto como esperava boa parte do mercado diante da atividade econômica debilitada.

Na semana passada, o BC elevou a taxa básica de juros em 0,5 ponto, a 13,75 por cento ao ano, mesmo patamar de dezembro de 2008, auge da crise internacional.

“Acho que o BC quer indicar um pouco mais de alta na Selic do que inicialmente se espera e/ou que pode levar mais tempo para reduzir a taxa de juros”, afirmou a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara, para quem a expectativa de ajuste na Selic de mais 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom ganhou força, bem como a indefinição que virá em seguida.

No mercado de juros futuros, a ata do Copom levava a apostas quase totais de elevação de 0,50 ponto da Selic no mês que vem e dividiu as visões de mais uma alta de 0,50 ponto em setembro com uma de 0,25 ponto percentual que, até a véspera, era majoritária.

A ata levou em consideração dados anteriores à divulgação do IPCA de maio, na véspera, que surpreendeu e acelerou a alta a 0,74 por cento na comparação mensal, chegando a 8,47 por cento em 12 meses, maior taxa acumulada desde dezembro de 2003.

MAIS INFLAÇÃO

O documento mostrou também que o BC elevou a projeção para a inflação neste ano no cenário de referência e manteve a projeção para 2016, em ambos os casos acima do centro da meta perseguida, de 4,5 por cento com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.

Um dos principais vilões da escalada da inflação são os preços administrados, cuja projeção de alta para 2015 foi piorada pelo BC a 12,7 por cento, sobre 11,8 por cento anteriormente. Só energia elétrica subirá 41 por cento no período, na visão da autoridade monetária, acima dos 38,3 por cento calculados até então.

Para 2016, o BC manteve a projeção de alta nos preços administrados em 5,3 por cento.

Numa ata com poucas modificações, o BC repetiu ainda que tem ganhado força o “cenário de convergência da inflação para 4,5 por cento no final de 2016”, mas que os “avanços alcançados no combate à inflação… ainda não se mostram suficientes”. Diante disso, reforçou que a “política monetária deve manter-se vigilante”.

O BC também apontou, sobre o mercado de trabalho, que há confirmação do início de processo de distensão, tendo mencionado anteriormente que dados apenas indicavam esse cenário.

O mercado agora aguarda a publicação do Relatório Trimestral de Inflação, no fim deste mês, para fincar com mais força suas apostas em relação à trajetória dos juros.

Em relatório, o diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, apontou que a ata sugere claramente que um aperto adicional é necessário para levar a inflação ao centro da meta até o fim de 2016.

“O Copom parece determinado a considerar um outro aumento na taxa na reunião de 29 de julho, possivelmente da mesma magnitude (0,5 ponto percentual) como nas cinco reuniões anteriores”, acrescentou.

Segundo a mais recente pesquisa Focus do BC, da semana passada, pela mediana dos economistas consultados, a projeção era de que a Selic subiria a 14 por cento em julho, encerrando o ciclo de aperto.

Por Marcela Ayres

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