Bento XVI: um papa aposentado, mas ainda muito presente

  • Por Agencia EFE
  • 27/02/2014 06h23

Cristina Cabrejas.

Cidade do Vaticano, 27 fev (EFE).- Apesar de ter dito que gostaria de permanecer “escondido do mundo” após sua renúncia, o papa emérito Bento XVI nunca foi esquecido pelo Vaticano e nem por seu sucessor, o papa Francisco, e esteve bastante presente neste primeiro ano de convivência.

Após o abalo inicial que sua renúncia provocou, a grande pergunta que veio à tona em 28 de fevereiro, quando Bento XVI voou de helicóptero em direção a sua retirada em Castel Gandolfo, foi como seria a convivência entre dois papas no Vaticano.

Celestino V, que também renunciou em 1294, foi confinado no castelo de Fumone, situado nos arredores de Roma, por conta do temor de que alguém pudesse reconhecê-lo como pontífice.

Já Joseph Ratzinger, que recebeu o título de papa emérito, vive em uma tranquila residência nos jardins vaticanos, se transformou em uma grande referência para muitos e, inclusive, para seu sucessor.

“Me parecia absolutamente claro que não havia nenhum motivo para temor”, disse o porta-voz vaticano, Federico Lombardi, em relação às incertezas desta situação.

A prova disso foi a presença de Bento XVI na Praça São Pedro no último dia 22, quando 19 novos cardeais foram empossadas e quando, pela primeira vez na história, dois pontífices se encontraram e se abraçaram publicamente.

Bento XVI também quebrou o silêncio após um ano aposentado para garantir em carta enviada ao jornal “La Stampa” que “são absurdas as especulações” sobre as pressões e conspirações em torno de renúncia. Publicada ontem, o papa emérito também afirmou “que não existe diarquia alguma” na Igreja.

O papa emérito respondeu assim ao vaticanista do jornal “La Stampa”, Andrea Tornielli, que tinha enviado algumas perguntas sobre as razões que teriam o levado a renunciar.

“A única condição da validade é a plena liberdade da decisão. As especulações sobre a invalidez da renúncia são simplesmente absurdas”, escreveu o papa alemão.

A intenção do Vaticano de não ocultar Bento XVI foi tomada desde o início, como se demonstrou quando foi comunicado que o primeiro telefonema de Francisco depois de ser eleito foi para seu antecessor, que também retransmitiu com todos os detalhes o histórico primeiro encontro entre os dois em 23 de março em Castelgalndolfo, inclusive o abraço que trocaram e a imagem de como rezaram juntos.

E continuaram a ser divulgadas mais imagens, mais momentos e mais detalhes desta convivência “solidária” entre os papas, como definiu Lombardi.

“Ele (Bento XVI) agora vive no Vaticano e alguns me perguntam como é isso, dois papas no Vaticano”, relatou Francisco aos jornalistas durante o voo de volta do Brasil, onde participou da Jornada Mundial da Juventude em julho.

“Encontrei uma frase para isto: é como ter o avô em casa, mas o avô sábio. Em uma família se o avô está em casa, é venerado, é amado, é escutado”, explicou.

Em 5 de julho, os dois papas que convivem na Cidade do Vaticano voltaram a se abraçar publicamente na inauguração de uma estátua do arcanjo São Miguel nos jardins vaticanos.

O Vaticano também não hesitou em divulgar em seus órgãos de informação a homilia que Joseph Ratzinger pronunciou em 2 de setembro em uma missa na capela do governo (sede da administração) da Santa Sé com seus antigos alunos de teologia.

“Um foi à casa do outro e vice-versa. E existem as outras formas de contato, que podem ser o telefone ou as mensagens que trocam”, relatou Lombardi sobre como tem se dado a relação entre os dois.

O papa Francisco visitou Bento XVI em dezembro em Mater Ecclesiae, e depois o papa emérito retribuiu a visita e almoçou com ele em Santa Marta, residência eleita pelo pontífice argentino.

A visita de Bento XVI ao seu irmão, George, internado no hospital romano Gemelli, também foi fotografada.

O porta-voz do vaticano garantiu que o papa emérito não “vive isolado” e tem atividades normais para um idoso, religioso”. Ele reza, medita, lê e escreve, o que significa responder à correspondência que recebe, pois Ratzinger não deve publicar nenhum texto ou declaração que possa interferir no pontificado de Francisco.

O teólogo suíço Hans Küng, um dos maiores críticos de Ratzinger, revelou recentemente que o papa alemão escreveu para ele uma carinhosa carta em afirmava que sua “única e última tarefa era sustentar com orações o pontificado de Francisco”, e que mantém uma amizade de coração com seu sucessor. EFE

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