Bhopal: vítimas querem que Obama peça perdão por erro em acidente industrial

  • Por Agencia EFE
  • 03/12/2014 10h51
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Nova Délhi, 3 dez (EFE).- As vítimas do desastre da cidade indiana de Bhopal, um dos piores acidentes industriais da história, reividicaram nesta quarta-feira ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que o governo de seu país “expresse seu arrependimento pelos erros históricos” cometidos durante os fatos de 1984.

As cinco organizações de afetados pelo desastre, que completa 30 anos, enviaram uma carta conjunta a Obama na qual denunciam o envolvimento do então secretário de Estado, Henry Kissinger, no financiamento da fábrica que causou a tragédia.

Para isso, as organizações se basearam em documentos do Wikileaks que mostram supostas autorizações de Kissinger em 1975 e 1976 para que o banco estatal EXIM, que financia investimentos no exterior de companhias americanas, recebesse um crédito de US$ 1,2 milhão para instalar a fábrica.

Além disso, as vítimas disseram que outros documentos obtidos do escritório do primeiro-ministro da Índia revelam que Kissinger foi conselheiro da empresa proprietária da feitoria, Union Carbide, e que convenceu em 1988 o então primeiro-ministro da Índia, Rajiv Gandhi, a pagar compensações extrajudiciais que aplacar a opinião pública.

A carta a Obama lembra que cerca de 25 mil pessoas morreram pelo vazamento de gás tóxico da fábrica de pesticidas na noite de 2 para 3 de dezembro de 1985.

Além disso, cerca de 150 mil sofrem com doenças crônicas, 50 mil vivem na zona ainda contaminada e milhares de crianças nascem com más-formações congênitas.

Os afetados lembraram que o principal acusado, o americano Warren Arderson, que então dirigia a empresa, faleceu em setembro nos EUA sem ter sido preso apesar de condenado na Índia, já que a Justiça de seu país nunca concedeu a extradição.

As vítimas exigiram que Obama facilite a extradição de John McDonald, atual secretário da Corporação Union Carbide, para que declare perante os tribunais de Bhopal, já que o processo segue aberto, e expressaram esperança em receber uma resposta antes do presidente dos Estados Unidos visitar a Índia em janeiro.

Bhopal, capital do estado central de Madhya Pradesh, lembra nestes dias o acidente ocorrido há 30 anos com uma série de atos reivindicativos, entre os quais está o envio da carta ao líder dos EUA.

Segundo os dados do governo indiano, a fuga de 42 toneladas de isocianato de metilo da fábrica causou a morte de 5.295 pessoas.

O governo indiano anunciou há duas semanas que revisará o aumento das indenizações aos afetados e fará uma nova apuração de vítimas.

As autoridades indianas exigem da Dow Chemical, proprietária na atualidade de Union Carbide, outros US$ 1,2 bilhão, enquanto as vítimas pedem US$ 8,1 bilhão.

A Union Carbide e o governo do país asiático, que assumiu a representação das vítimas, fecharam em 1989 um acordo extrajudicial pelo qual a empresa pagou US$ 470 milhões.

O proprietário da Union Carbide, o americano Warren Anderson, esteve em Bhopal após o acidente, foi brevemente detido e obteve a liberdad sob pagamento de fiança, e esteve foragido da Justiça indiana até sua morte, em setembro, aos 92 anos de idade. EFE

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