Black Friday: uma sensação de urgência em comprar algo que você não precisa

  • Por Daniel Keny/Jovem Pan
  • 26/11/2015 20h50

Consumidor precisa tomar cuidado para não gastar além da conta na Black Friday e passar o fim de ano no vermelho

Daniel Keny Black Friday

Chegou mais uma Black Friday. As ofertas atraentes, os produtos de encher os olhos e uma coceira nas mãos para consumir tudo. Televisores, notebooks, livros, roupas, tudo com 30%, 50% e até mesmo 70% de desconto. A primeira coisa que vem à cabeça é: “não posso perder essa!”

Será que não pode mesmo?

Campanhas como a Black Friday, que alertam os descontos “passageiros” oferecidos pelas lojas, criam um caráter de urgência nas compras, o que acaba dificultando o discernimento de necessidade e vontade na cabeça do consumidor. Esse impulso de consumir é uma questão sobre a qual não temos total controle.

Na visão do psicoterapeuta Leo Fraiman, nós temos uma tendência em acreditar que conseguimos controlar nosso cérebro, mas não é bem assim. “Somos movidos também pelo inconsciente, e ele está relacionado intimamente com o medo de perder, neste caso, as ofertas”, explica. “Sem dúvidas, do ponto de vista do marketing, as campanhas de vendas são feitas para nos induzir à compra”.

Para o escritor e educador financeiro André Massaro, essa sensação de “fazer um bom negócio” é a grande responsável por gastos desnecessários. “Criar uma falsa urgência é uma das técnicas de venda mais batidas que existe, na Black Friday não é diferente. Muitas pessoas caem nas promoções e gastam com o que não precisam para terem a sensação de que fizeram bons negócios, mas comprar algo mais barato sem necessidade é prejuízo do mesmo jeito.

Um levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e do portal de educação financeira Meu Bolso Feliz apontou que, para 50% dos brasileiros, o prazer de comprar um produto ou serviço é um fator determinante na decisão final. Fraiman concorda, mas ressalta que a satisfação da compra por impulso é passageira. “Se por um lado é verdade que adquirir algo novo gera uma descarga de prazer no cérebro, com o tempo essa sensação não se sustenta caso o bem se mostre desnecessário ou traga dívidas. A felicidade vem de um bom equilíbrio entre prazer e propósito”, diz.

O conselho é um só: pensar antes de comprar

Segundo a pesquisa do portal Meu Bolso Feliz, a bagunça nas finanças pessoais é um motivo que leva as pessoas a se arrependerem das compras. Léo Fraiman chama a atenção para questionamentos que o consumidor deve fazer antes de investir seu suado dinheiro nas promoções da Black Friday: “Eu tenho o dinheiro? As compras vão impactar outros projetos? Eu posso estar mascarando uma baixa autoestima ou uma ansiedade com essa necessidade de comprar? A ideia não é tirar da vida o prazer de comprar, só precisamos tomar cuidado quando transformamos o consumismo num curativo de problemas mal resolvidos”.

Para Isabela Oliveira Pereira da Silva, doutora em Antropologia e professora da Fundação Escola de Sociologia e Política De São Paulo (FESPSP), o consumo consciente é um ponto-chave para equilibrar finanças e desejos. “O consumidor precisa ter uma estratégia para suas aquisições. É importante separar os bens necessários dos secundários, procurando compreender qual o objetivo da compra, quais aspirações e tendências estão por trás do ímpeto de consumir”.

Isabela pontua que eventos como a Black Friday podem trazer vantagens também. “Às vezes a pessoa está esperando para comprar alguma coisa e encontra a oportunidade de pagar mais barato, mesmo sem ter planejado”.

Por fim, a dica do educador financeiro André Massaro: a Black Friday não é a única campanha de promoção do ano. “O mais indicado é esperar a virada do ano, quando as condições comerciais melhoram”, afirma.


Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.