BM afirma que batalha contra o ebola reflete a luta contra a desigualdade

  • Por Agencia EFE
  • 01/10/2014 19h23
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Alfonso Fernández.

Washington, 1 out (EFE).- O presidente do Banco Mundial (BM), Jim Yong Kim, reconheceu nesta quarta-feira que a resposta global ao surto do ebola foi “inadequada” e afirmou que seu combate encarna “a batalha contra a desigualdade” econômica na qual se embarcou o organismo.

Kim lembrou que nos países desenvolvidos existe “o conhecimento e infraestrutura para tratar os doentes e conter o vírus”, mas que “fomos incapazes de fazer com que estes avanços chegassem às pessoas de poucos recursos em Guiné, Libéria e Serra Leoa”.

Por isso, ressaltou que milhares de pessoas morrem porque “na loteria do nascimento, nasceram no lugar errado”.

Em um ato na Howard University de Washington, uma das universidades de maior tradição afro-americana dos Estados Unidos, o presidente do BM, médico e antropólogo de formação, lembrou um recente estudo da ONG Oxfam que indica que as 85 pessoas mais ricas do mundo conta com a mesma riqueza que os 3,6 bilhões mais pobres.

Kim marcou como objetivo desde sua chegada à principal instituição de desenvolvimento global o combate contra a desigualdade por meio da eliminação da pobreza extrema (aquelas pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia) no mundo até 2030 e o impulso da prosperidade compartilhada para 40% dos mais pobres nos países em desenvolvimento.

Os últimos cálculos do BM situam a população mundial em situação de pobreza extrema em torno de 1,3 bilhão de pessoas.

Sobre a epidemia do ebola, reconheceu que “até agora, a resposta (ao surto) foi inadequada”, mas ressaltou que nas últimas semanas tanto os Estados Unidos como os governos de Reino Unido e França elevaram seus recursos para deter a expansão do vírus.

O surto de ebola já custou a vida de mais de três mil pessoas em Guiné, Serra Leoa e Libéria e outras 10 mil já poderiam ter sido infectadas.

De acordo com o BM, o impacto econômico do ebola poderia ser “catastrófico” nos três países epicentro da epidemia e cifrar-se em mais de US$ 800 milhões para 2015.

Kim lamentou, além disso, que o surto chegue após uma década de crescimento sustentado no continente africano, ao advertir que a melhor maneira de diminuir a desigualdade é fomentando a criação de emprego e oportunidades.

O ebola e a desigualdade serão dois dos principais temas da agenda da reunião anual do BM e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que será realizada na próxima semana em Washington.

O organismo internacional comprometeu mais de US$ 400 milhões para ajudar os governos de Guiné, Libéria e Serra Leoa e fortalecer seus sistemas sanitários, e colaborou no envio de pessoal especializado em doenças contagiosas.

“Se não detemos o ebola, se estenderá a outros países”, disse Kim, ao lembrar que precisamente nesta terça-feira se confirmou o primeiro caso de ebola diagnosticado nos Estados Unidos e apontou que os cenários mais negativos falam que poderia chegar-se até a 1,4 milhão de pessoas infectadas.

As palavras de Kim foram bem recebidas pelas ONGs, e Nicholas Mombrial, diretor da Oxfam em Washington, concordou que o “problema subjacente é de desigualdade”.

“Mas, além da promissora resposta, o Banco Mundial deve exercer seu papel na hora de encarar realidades estruturais que tornam mais difícil para aquelas pessoas em países em desenvolvimento acessar o atendimento sanitário básico”, assegurou em comunicado enviado à Agência Efe após o discurso de Kim.

“É crucial que os doadores aprendam a lição”, ressaltou Mombrial, “e realizem compromissos financeiros de longo prazo que apoie estes países para desenvolver serviços de saúde pública que possam fazer frente a desastres como o ebola”. EFE

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