Bombardeios na Ucrânia tornam mediação internacional inútil

  • Por Agencia EFE
  • 19/11/2014 17h19

Boris Klimenko.

Kiev, 19 nov (EFE).- Os novos bombardeios no leste da Ucrânia, nos quais morreram pelo menos dez civis nas últimas 24 horas, frustram os recentes esforços de mediação internacional e fizeram ruir os acordos de paz de Minsk.

Desse total de vítimas, sete, entre elas duas crianças, morreram na região de Lugansk devido aos bombardeios das forças governamentais, denunciaram nesta quarta-feira os separatistas pró-Rússia.

Em Pervomaisk, cidade ponte entre os redutos rebeldes de Lugansk e Donetsk, cinco pessoas, incluindo duas crianças, morreram quando um míssil atingiu o portão do edifício residencial onde viviam. Já na cidade de Kirovsk, outros dois civis morreram, e um gasoduto foi danificado.

Horas antes, as autoridades de Lugansk leais a Kiev informaram sobre a morte de três civis em um ataque rebelde com plataformas de lançamento de mísseis Grad na cidade de Toshkivka.

“Vários projéteis atingiram um edifício residencial na rua Donetskaya. Alguns apartamentos ficaram destruídos. Três pessoas morreram na hora e outras quatro ficaram feridas gravemente, entre elas duas crianças de cinco anos e seis meses”, afirmaram.

O cessar dos ataques contra áreas povoadas e a retirada do armamento pesado dos arredores das cidades é um dos pontos fundamentais do Memorando de Paz de Minsk assinado por governo e separatistas no dia 19 de setembro.

“Desde a assinatura dos acordos de Minsk, não vimos nem um só exemplo nem fomos informados uma só vez sobre a retirada do armamento pesado, quando essa é uma de seus principais cláusulas”, constatou nesta quarta o porta-voz da missão da OSCE na Ucrânia, o canadense Michael Bociurkiw.

Além disso, os observadores da OSCE detectaram um aumento da artilharia e do número de comboios militares sem identificação com canhões e plataformas de lançamento de mísseis na região. O governo de Kiev diz que a Rússia está por trás desses armamentos.

O comando militar ucraniano informou hoje que pelo menos dois soldados foram mortos e outros 13 ficaram feridos em ataques realizados pelas milícias pró-Rússia nas últimas 24 horas.

Por isso, o ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, se mostrou hoje pessimista sobre uma rápida solução para o conflito ucraniano após a reunião que teve ontem à noite em Moscou com o presidente russo, Vladimir Putin.

“Vendo o estado da situação, infelizmente estamos ainda muito longe de uma melhora e mais longe ainda de uma solução política”, afirmou o diplomata em seu retorno a Berlim.

Steinmeier reconheceu que há “sérias diferenças” na percepção que Rússia e Alemanha têm sobre a crise na Ucrânia, mas pediu que os acordos de paz sejam deixados de lado.

Enquanto isso, Ucrânia e Rússia não chegam a um consenso sobre o formato de negociações, já que Kiev defende a inclusão de potências ocidentais, enquanto Moscou insiste em um diálogo direto entre as autoridades e os insurgentes a fim de “conseguir acordos mutuamente aceitáveis”.

“As tentativas de questionar a vigência dos documentos de Minsk (…) são feitas por quem quer fazer esse processo retroceder a um formato no qual as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk não estejam representadas”, disse Sergei Lavrov, o ministro das Relações Exteriores russo, no Parlamento.

Lavrov respondeu assim à proposta formulada ontem pelo primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, de retornar ao formato negociador de Genebra (Ucrânia, Rússia, Estados Unidos e a União Europeia).

“O formato de Genebra é uma etapa passada”, declarou Lavrov.

Segundo ele, Kiev quer excluir os separatistas e tenta pressionar o Ocidente para que consiga que a “Rússia participe na qualidade de parte do conflito”.

“Esta é uma política provocadora e contraproducente que não tem nenhuma possibilidade de sucesso”, ressaltou.

Yatseniuk, então, respondeu de forma dura ao chefe da diplomacia russa: “Não faremos negociações diretas com vossos mercenários”.

“Se vocês (Rússia) querem a paz, cumpram os acordos de Minsk”, disse, alegando que Moscou continua fornecendo armas aos rebeldes e mantém milhares de soldados em território ucraniano.

O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chega à Ucrânia na sexta-feira, por ocasião do primeiro aniversário do começo dos protestos antigovernamentais contra o agora ex-presidente Viktor Yanukovich. EFE

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