Bósnia elege novo parlamento em meio a apatia e paralisia

  • Por Agencia EFE
  • 10/10/2014 18h34

Tariq Jablic.

Sarajevo, 10 out (EFE).- A Bósnia-Herzegovina realiza eleições gerais no próximo dia 12 imersa em uma profunda crise econômica e com poucas expectativas de melhora devido à ineficácia e a disputas de uma classe política que mantém o país paralisado há anos.

Nada mudou nesse sentido desde as eleições gerais de quatro anos atrás.

O país não avançou no caminho para a entrada na União Europeia (UE) e nem essa meta serviu para que representantes das três etnias majoritárias do país: croatas, muçulmanos e sérvios, conseguissem trabalhar juntos.

Ao contrário, o discurso nacionalista é a principal arma na campanha eleitoral e foi usado como desculpa para justificar a falta de soluções para os problemas econômicos e sociais do país.

“Quatro anos depois, os eleitores vivem muito pior. Temos mais aposentados do que empregados; os cidadãos acumulam cada vez mais dívidas; o salário médio continua estagnado enquanto o custo de vida dobrou”, explicou Nihada Hasic, analista política do jornal “Nezavisne”, de Sarajevo.

Outros analistas opinam que estas eleições são as mais incertas desde o fim da guerra, em 1995, e que nenhum candidato pode ter certeza do resultado, nem das possíveis coalizões de governo.

No domingo, 3,2 milhões de eleitores escolherão os membros da presidência tripartite da Bósnia, formada por um muçulmano, um sérvio e um croata. E também votarão nos deputados que formarão o parlamento central e as assembleias dos dois entes autônomos em que o país se divide: o sérvio e o comum a muçulmanos e croatas.

Serão escolhidos também o presidente do ente servo-bósnio e os deputados dos parlamentos locais dos dez cantões que formam o ente muçulmano-croata.

Estas serão as sétimas eleições desde o fim da guerra, encerrada há 19 anos com o Tratado de Dayton.

Entre os muçulmanos, espera-se uma dura corrida pelo posto presidencial entre o nacionalista Bakir Izetbegovic, atualmente no cargo, e o social-democrata Bakir Hadziomerovic.

Os sérvios provavelmente manterão Milorad Dodik como presidente do ente autônomo, por ele ser defensor de mais autonomia e inclusive independência para os sérvios da Bósnia.

As pesquisas preveem que a opção nacionalista também será a mais votada entre os croata-bósnios.

De fato, quase sempre as mesmas políticas têm sucesso na Bósnia, apesar de não terem trazido até agora melhorias para a população.

Segundo Hasic, as elites “manipulam com perfeição e potencializam o receio” que persiste entre os povos que se enfrentaram na guerra que deixou, entre 1992 e 1995, 100 mil mortos e centenas de milhares de feridos e deslocados.

“(Agem assim) principalmente nas eleições para mobilizar e homogeneizar os eleitores sob a base étnica. Os convencem que a principal ameaça não são os baixos salários e pensões, ou o péssimo sistema educacional e administrativo, mas que seus inimigos são os outros dois povos”, criticou Hasic.

O desemprego na Bósnia supera 40% e é ainda maior entre os jovens, o que fez com que, para muitos, as únicas opções sejam emigrar ou buscar um emprego na hipertrofiada administração pública, onde os salários são um pouco melhores do que no setor privado.

O panorama é desalentador: o salário médio é de 415 euros (cerca de R$ 1.260) mensais, o país vive dos créditos internacionais, muitas empresas privatizadas fecharam e a corrupção floresce.

O enorme descontentamento social explodiu em fevereiro na forma de violentos protestos, principalmente no meio croata-muçulmano.

Embora as autoridades quase não tenham reagido, o fato de o povo ir para as ruas após quase duas décadas de passividade foi considerado um sinal de que algo estava mudando.

No entanto, a situação só piorou por causa das graves inundações que o país sofreu em maio, que deixaram milhares de famílias desabrigadas e causaram prejuízos avaliados em 2 bilhões de euros.

A complicada e descentralizada estrutura política do país favorece a ineficácia e as discórdias entre seus líderes. Por exemplo, depois da última eleição, em outubro de 2010, os eleitos levaram um ano e meio, quase meio mandato, para pactuar um governo comum.

Fora do parlamento e do governo federal, cada um dos entes autônomos conta com suas próprias instituições.

Além disso, o ente muçulmano-croata tem dez cantões com assembleias legislativas próprias e inclusive existe o distrito especial de Brcko com uma administração própria, sob supervisão internacional.

Este complexo mapa foi desenhado nos acordos de Dayton, apoiado pelas grandes potências e que pôs fim à guerra mais sangrenta de todas vividas pelo desmembramento da Iugoslávia.

Por causa dessa paralisia e da falta de reformas estruturais, a Bósnia ainda não foi reconhecida como candidata para entrar na União Europeia. EFE

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