Bósnia recolhe escombros e avalia danos no dia seguinte aos protestos
Sarajevo, 8 fev (EFE).- Sarajevo e outras cidades de Bósnia- Herzegovina dedicaram este sábado a recolher os escombros do violento dia de protestos de sexta-feira enquanto avaliavam os danos materiais causados em mais de 30 cidades.
Na capital bósnia, os incêndios nos edifícios da presidência e do governo cantonal de Sarajevo foram controlados, mas de algumas dependências atacadas ainda saía fumaça hoje.
Em torno dos edifícios públicos danificados haviam cadeiras e outros móveis, televisores, computadores e papéis que os enfurecidos manifestantes atiraram pelas janelas após invadir as instituições para expressar seu descontentamento.
Nas ruas centrais de Sarajevo também podiam se ver veículos policiais incendiados, e algumas paradas de bondes demolidas.
O acesso ao Ministério das Relações Exteriores, à presidência e à sede do governo do cantão de Sarajevo está bloqueada.
Muitos cidadãos consultados pela imprensa disseram que as imagens de Sarajevo fez lembrar os dias da guerra bósnia (1992-1995).
O Arquivo de Sarajevo foi também incendiado, e foramdestruídos materiais de grande valor cultural e histórico, confirmaram hoje seus responsáveis.
De acordo com a imprensa local, será preciso mais tempo para avaliar com exatidão os danos materiais sofridos, mas a imprensa estima que já tenha chegado aos 25 milhões de euros.
Segundo os dados dos centros clínicos sarajevitas disponíveis até o momento, mais de 200 pessoas ficaram feridas nos protestos nas cidades bósnias, só em Sarajevo 121, cem deles policiais.
A polícia da capital informou que 37 manifestantes violentos foram detidos ontem, entre eles seis menores de idade. Entre os presos está também Josip Milic, líder da união de sindicatos independentes da federação croata-muçulmano, acusado de ter instigado os protestos.
No cidade de Tuzla, no norte do país, onde começou a onda de protestos e onde também foram atacados e incendiados os edifícios do governo cantonal, os bombeiros dizem que continuarão atentos nos próximos dias para impedir que os incêndios voltem a acontecer.
Uma centena de vizinhos dessa cidade se somaram aos empregados dos serviços comunitários para ajudar a recolher os escombros e limpar a praça em frente ao edifício do governo.
O ministro bósnio do Interior, Fahrudin Radoncic, apelou contra a violência, mas qualificou os protestos como um “golpe do povo contra a máfia estatal”.
“Não temos peixes grandes nas prisões. Não temos procuradorias que trabalhem em grandes casos de luta contra a corrupção. As denúncias penais que arruinariam os gigantes econômicos estão nas gavetas dos promotores”, denunciou Radoncic.
“Este é o resultado de 17 anos de mal governo”, reconheceu o político bósnio.
Enquanto isso, uma comissão do Parlamento do cantão de Tuzla aprovou hoje a renúncia do primeiro-ministro e do governo cantonal, exigido pelos manifestantes como uma das condições para a solução dos problemas.
Um grupo de manifestantes de Tuzla publicou na Internet um manifesto em que exige uma “revolução política e um futuro melhor” para um país onde o salário médio é de 400 euros, nem a metade do que considerado necessário para subsistir.
Com seis pontos de reivindicação, exigiram, entre outras coisas, que se estabeleça um “governo técnico, formado por profissionais, não filiados a partidos políticos e não comprometidos, que dirijam o cantão de Tuzla até as eleições de 2014”.
Também pedem que os salários dos políticos e funcionários sejam equivalentes aos de empregados comuns e que não se permitam pagamentos múltiplos por exercer vários cargos ao mesmo tempo.
Dezenas de milhares de pessoas se manifestaram ontem em toda Bósnia para expressar seu mal-estar com a pobreza e a corrupção em um país que segue dividido desde a guerra que de 20 anos atrás. EFE
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