Brasil abre disputa na OMC contra os EUA

  • Por Estadão Conteúdo
  • 11/11/2016 13h17
Nos três primeiros meses do ano, o Porto de Paranaguá assumiu a liderança na exportação de congelados, ultrapassando Santos e Itajaí. Foto: Divulgação APPA Fotos Públicas Porto Paranaguá

O Brasil abriu nesta sexta-feira (11) uma disputa comercial com os Estados Unidos e alega que as barreiras colocadas por Washington sobre as exportações do aço nacional são ilegais. O processo agora irá tramitar na Organização Mundial do Comércio e colocará, frente à frente, a diplomacia brasileira às promessas de campanha de Donald Trump de proteger a indústria siderúrgica dos EUA.

A queixa está sendo circulada nesta sexta tanto na Casa Branca como na sede da OMC, em Genebra.

Num primeiro momento, norte-americanos e brasileiros realizarão consultas para tentar evitar o recurso aos árbitros da OMC. Mas, do lado da chancelaria em Brasília, ninguém acredita que o atual governo americano de Barack Obama ou o futuro de Trump aceitarão simplesmente retirar as barreiras, voluntariamente.

O contencioso se refere a uma sobretaxa sobre o aço laminado brasileiro que foram impostas contra o país há dois meses. Washington acusa a produção brasileira de ser subsidiada e, portanto, entrando no mercado dos EUA com preços injustos. 

Mas o setor nacional já vinha sendo afetado desde o início do ano, quando os americanos passaram a investigar as exportações nacionais. Empresas como a CSN e Usiminas passaram a ser sobretaxas em 11%, afetando a capacidade dessas exportações competirem no mercado americano. Apenas em 2015, o Brasil vendeu quase US$ 1,3 bilhão em chapas de aço laminado ao mercado americano.

Sob o governo Trump, a perspectiva da indústria brasileira é de que haja uma pressão ainda maior por barreiras. O presidente eleito prometeu elevar as tarifas de importação e rever acordos comerciais. Em muitos de seus discursos, a proteção ao setor do aço americano foi o carro-chefe da campanha de Trump nos EUA, principalmente nos estados com altas taxas de desemprego. Num dos debates com Hillary Clinton, o presidente eleito chegou a dizer que visitou comunidades afetadas pela “invasão (do aço) da China e de todas as partes do mundo”. 

Trump ainda contratou como seu principal assessor para comércio um ex-CEO de uma siderúrgica local. O escolhido foi Dan DiMicco, ex-presidente da siderurgica Nucor Corp. Conhecido como um crítico do livre-comércio, ele acaba de publicar um livro sobre como apenas a produção nos EUA pode voltar a “fazer a economia americana forte”. 

Usando a situação de algumas das cidades afetadas pela importação de aço, portanto, Trump alertou que a globalização havia ajudado a “elite financeira, enquanto deixou milhões de trabalhadores sem nada”. Num dos momentos mais importantes da campanha, ele chegou a discursar em uma siderúrgica, em um palco repleto de metal. “Eles conseguem a expansão de seus negócios e nós o desemprego”, disse, sobre acordos comerciais. “Isso não vai mais acontecer”, prometeu ao eleitorado.

Em outro discurso, em meados de julho, ele ainda alertou que os EUA “já vivem uma guerra comercial”. “E estamos sendo derrotados”. 

Se Trump hoje promete proteger o aço americano, ele é acusado até mesmo por sindicatos de ter erguido seus três últimos projetos de construção com o material chinês, inclusive de empresas que haviam sido apontadas pelas autoridades em Washington como tendo praticado dumping de preços.

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