Brasil avança rumo à Copa com diversos desafios econômicos no caminho

  • Por Agencia EFE
  • 19/01/2014 07h06

Alba Santandreu.

São Paulo, 19 jan (EFE).- Com as eleições presidenciais e a realização da Copa do Mundo de Futebol no curto prazo, o Brasil tem este ano uma das partidas mais importantes para disputar: evitar que as olhares do mundo se desloquem para outro horizonte de oportunidades econômicas.

Após uma década de decolagem econômica, o país começou a sentir há vários anos um desgaste em alguns indicadores macroeconômicos, levando muitos analistas a repensar o caminho das finanças da maior economia da América Latina.

Desde 2010, ano no qual a crise econômica começou a castigar com força Europa, os países emergentes ganharam maior visibilidade perante os fluxos de capitais. Entre eles, o Brasil, sobretudo, depois que o gigante latino-americano conseguiu um crescimento de 7,5% durante 2010, o último ano do Governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Com sua sucessora, Dilma Rousseff, o crescimento econômico foi de 2,7% em 2011 e de 1% em 2012.

Além disso, se as previsões dos analistas particulares se cumprirem, o PIB crescerá em 2013 2,3% e 1,99% este ano, por isso que a presidente Dilma concluiria seu mandato como a chefe de estado que obteve um menor crescimento econômico desde Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito por voto direto em 1989.

A desaceleração econômica, unida à desvalorização do real, que durante 2013 caiu 15,25% em relação ao dólar, poderiam ser uma das causas para que o Brasil caia uma posição, de sétimo para oitavo no ranking do PIB, segundo estimativas realizadas pela Economist Intelligence Unit (EIU).

A este cenário, segundo analistas, se somam alguns indicadores sobre a recuperação dos Estados Unidos e da Europa.

Tanto a UE como os Estados Unidos podem reconduzir de novo o fluxo de capitais dos países emergentes para os países desenvolvidos, advertiu à Efe o ex-diretor executivo da Comissão Econômica para América Latina (Cepal) e professor da Universidade de Columbia, José Antonio Ocampo.

“O tsunami de capitais em direção às economias emergentes se deveu em parte por falta de oportunidades de investimento no mundo desenvolvido. Agora, seguramente vamos ver muita mais recuperação de fluxo de capital rumo aos países desenvolvidos”, explicou.

Ocampo, ex-ministro de Fazenda colombiano, explicou que os capitais continuarão desembarcando no país sul-americano, embora “para benefício do Brasil” não nas quantidades “gigantescas” nas quais chegavam nos últimos anos, quando o real era pressionado pela entrada de dólares de forma massiva.

“A única coisa para que serviam era para exigir que se acumulassem mais reservas internacionais”.

Dilma também deverá controlar outras frentes abertas na economia brasileira, que em 2013 sofreu a maior fuga de capitais desde 2002, segundo os dados oficiais publicados este mês.

A este dado, se unem outros indicadores como uma balança comercial debilitada após cair 86,8% em relação a 2012, taxas de juros estabelecidos em 10,5% e uma inflação de 5,91%, um valor situado acima das previsões dos analistas privados, mas dentro da meta oficial de 4,5%, com dois pontos percentuais de margem.

Na opinião de José Paulo Rocha, assessor financeiro da empresa de consultoria Deloitte, se o Brasil quer continuar atraindo o interesse dos investidores precisa “reafirmar seu compromisso com as regras estabelecidas há dez anos”, as quais, segundo sua opinião, lhe permitiram durante anos conseguir bons níveis de investimento.

A chave, sugeriu, são a estabilidade e as reformas.

“Para reforçar a imagem é preciso dar continuidade ao plano de estabilidade e realizar reformas estruturais. O Brasil, por exemplo, tem um sistema tributário muito complexo e difícil de entender, uma grande burocracia”, assinalou Rocha, que disse que também é necessário um maior combate contra a corrupção.

O Brasil, segundo Rocha, “está condenado a ter sucesso” devido a que seu mercado consumidor está longe de ter tocado seu teto, mas este cenário com vento a favor é preciso acompanhá-lo, arriscou, com reformas que briguem por atrair o investimento.

Os dois economistas, tanto Ocampo como Rocha, põem como foco a reindustrialização do Brasil como forma de aumentar a velocidade do crescimento do PIB.

Para Ocampo, o Brasil deve aproveitar dados aparentemente negativos no curto prazo, como a desvalorização da moeda, para aumentar as exportações, sobretudo de matérias-primas, que são atualmente a principal fonte de divisas do país. EFE

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