Brasil é exceção de teoria defendida por Piketty, diz Marcelo Neri

  • Por Agencia EFE
  • 22/08/2014 18h03
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Pablo Giuliano.

São Paulo, 22 ago (EFE).- A trajetória da distribuição de renda no Brasil e outros países periféricos está na contramão da teoria da desigualdade lançada pelo economista francês Thomas Piketty no livro “O capital no século XXI”, afirmou o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Marcelo Neri.

Em mesa redonda nesta sexta-feira sobre a obra do economista francês na Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo, Neri apresentou várias estatísticas oficiais para demonstrar a complexidade do caso brasileiro na redução da desigualdade.

“Na última década o Coeficiente de Gini, que é usado para medir a desigualdade, ficou em níveis dos anos 60”, disse Neri, que mostrou que o indicador era de 0,63 em 1991 e se reduziu a 0,6 em 2010.

Neri afirmou que o governo da presidente Dilma Rousseff conseguiu em 2014 retomar a redução da desigualdade no país depois de dois anos de estagnação nesse sentido, mas esclareceu que a medição do Gini “capta melhor a renda dos ricos que a dos pobres”.

“Ao contrário do que mostra o livro de Piketty, aqui a desigualdade entre municípios do Brasil caiu 80% entre 2000 e 2010”, ressaltou o ministro no fórum convocado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Para Neri, a atual realidade mundial é a mais virtuosa da história, com indicadores como um aumento de 30 anos em um século sobre a expectativa de vida das pessoas, mas advertiu que os processos de avanços não são lineares.

O ministro usou como exemplo a África do Sul, cujo Coeficiente de Gini aumentou a desigualdade a partir do fim do regime segregacionista do apartheid.

No entanto, na mesma mesa redonda, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira elogiou o trabalho de base dos dados usados por Piketty e apontou que uma das chaves do grande sucesso internacional de “O capital no século XXI” é falar das desigualdades no sistema tributário, o que beneficia os mais ricos.

“O livro em termos teóricos deixa a desejar, mas, para mim, é um grande livro”, afirmou Bresser.

O especialista, um dos maiores defensores do desenvolvimentismo e da desvalorização do real para “reindustrializar” o país, sustentou que Piketty esqueceu de incluir nos “males” da distribuição da renda o “capitalismo financeiro rentista” e a influência nas corporações multinacionais dos bônus financeiros.

Bresser afirmou que o Brasil, ao contrário da tendência no mundo desenvolvido e sobretudo nos Estados Unidos, conseguiu “redistribuir os volumes de salários” desde que Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência, em 2003, por sua política de melhorar os salários mínimos.

No entanto, afirmou que desde a abertura econômica de 1991 o país vive um “mal holandês” que é a “desindustralização progressiva, produto de uma inflação passada e a preferência por uma era de consumo indefinido e medo da desvalorização da moeda”.

Bresser opinou que a perda de salário e a inflação produto de uma desvalorização serão males menores e passageiros.

Para o economista, que foi ministro da Fazenda no governo de José Sarney e de Ciência e Tecnologia e Reforma do Estado nos de Fernando Henrique Cardoso, o Brasil deve desvalorizar o real em 25% para ganhar competitividade no comércio mundial.

Sobre o livro de Piketty também opinou o economista Samuel Pessoa, que faz parte do conselho curador da equipe do candidato à presidência, Aécio Neves, que disse admirar o livro do francês, embora tenha “o pecado de não levar em conta a globalização”.

Nesse sentido, destacou a importância de China e Índia na conformação do comércio mundial e assinalou que o capítulo sobre as desigualdades no livro “O capital no século XXI” está focado demais na experiência de concentração de renda da França.

Pessoa não descartou que o livro de Piketty, apesar das objeções feitas por alguns economistas, possa render um reconhecimento internacional ao francês, até mesmo um próprio Prêmio Nobel. EFE

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