Brasil quer expandir “diplomacia agrícola” na África e na América Latina

  • Por Agencia EFE
  • 01/02/2014 09h08

Pablo Giuliano.

São Paulo, 1 fev (EFE).- O Brasil pretende expandir em 2014 sua “diplomacia agrícola”, como é conhecida a rede de cooperação em tecnologia agropecuária que o governo vem realizando em mais de 30 países da África e América Latina e que faz parte da estratégia sul-sul da política externa brasileira.

“Este será o ano de massificar os projetos de agricultura familiar, sobretudo na África, destinados principalmente à segurança alimentar”, disse à Agência Efe o diretor de projetos de cooperação técnica da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Alberto Santana.

A estatal atua na África e na América Latina através da Agência Brasileira de Cooperação, órgão do Ministério das Relações Exteriores, e é uma das ferramentas da política externa do país, que aspira ser um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 2014 será o Ano Africano da Agricultura e da Segurança Alimentar.

De 2002 até 2013, por exemplo, a relação comercial entre Brasil e África cresceu 449%, de acordo com os números do fluxo comercial do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, como parte da estratégia traçada em 2003 com a chegada ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

“Isto faz parte da cooperação sul-sul iniciada com o governo Lula, porque a grande questão na África é a cultura alimentícia e dotar a população rural de conhecimento e técnica para que não sejam dependentes dos alimentos estrangeiros”, política que continua com a presidente Dilma Rousseff, segundo Santana.

Na África, o Brasil tem escritórios de Embrapa em Moçambique e Gana e a presença de um funcionário no Mali.

Os países que recebem cooperação do Brasil, principalmente destinada à agricultura familiar, são Senegal, Guiné-Bissau, Mali, Burkina Fasso, Gana, Togo, Benin, Nigéria, Chade, Gabão, Congo, Angola, Zâmbia, Moçambique, Malawi, Quênia, Etiópia, Uganda e Burundi.

“Sempre atuamos sob a demanda do país interessado”, ressaltou Santana.

Em Moçambique, a Embrapa trabalha com o Japão no programa Pró Savana para a difusão entre os agricultores familiares de produtos como milho, feijões, sorgo, mandioca, amendoim, algodão, arroz e soja.

Da mesma maneira, trabalha com a agência de cooperação americana (USAID) na confecção de uma rede de produtos agrícolas que possam ser provedores da merenda escolar, à base de hortaliças, aos alunos das escolas públicas.

“Nosso trabalho é fortalecer a pesquisa rural, a infraestrutura e o treinamento dos agricultores”, sustentou Santana, para quem um dos pontos mais importantes na cooperação será o envio de maquinaria agrícola.

A experiência brasileira sobre algodão nos países do centro da África foi levada a partir dos resultados da produção na Bahia e em outros do nordeste.

Os resultados, de acordo com os técnicos de Embrapa, serão vistos em cinco anos porque devem sobrepor-se, para estes cultivos, barreiras culturais e antropológicas em relação ao uso da terra.

Em relação à América Latina, existem cooperações diferenciadas, como na Venezuela com um programa de plantação da soja extensiva.

No âmbito sul-americano, o Brasil tem um projeto de aplicar na Bolívia, Peru, Argentina, Uruguai e Paraguai um projeto para financiar a cooperação técnica em adaptar o cultivo do algodão nas pequenas propriedades rurais com a produção de alimentos.

Esta iniciativa se encontra no marco da sanção da Organização Mundial do Comércio (OMC) de 2009 que autoriza o Brasil a adotar represálias comerciais contra os Estados Unidos no valor de US$ 830 milhões por ano pelo fato de ter subsidiado seus produtores de algodão, o que prejudicou os brasileiros.

Na América Central, a apicultura em Honduras é o principal projeto e no Caribe a cooperação aponta à assessoria técnica no plantio de frutas e hortaliças em Trinidad e Tobago e no Haiti, com agricultura familiar voltada para a alimentação nacional.

Nesse sentido, a Empraba desenvolve em Cuba, país visitado nesta semana por Dilma, uma das maiores conquistas da pesquisa brasileira desde os anos 70, que é a semente de soja tropical.

Em Cuba “temos quatro projetos: soja, milho, combate às pragas agrícolas e controle de metais pesados na agricultura, além de criação de gado ovino e caprino”, concluiu Santana. EFE

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