Agência de intercâmbio encerra atividades e frustra clientes; alunos estimam R$ 1,5 mi de prejuízo

  • Por Camila Corsini
  • 02/03/2020 07h00 - Atualizado em 02/03/2020 07h04
Pedro França/Agência Senado passaporte A Agência Mundi, de acordo com a própria empresa, está em atividade desde 2013 e possui filiais em seis capitais brasileiras

Pelo menos 250 jovens tiveram seus planos de intercâmbio frustrados após descobrirem que a Agência Mundi, empresa contratada por eles como intermediadora da viagem, não repassou a verba para as instituições estrangeiras. Alguns alunos, inclusive, sequer estavam matriculados. 

A Agência Mundi, de acordo com a própria empresa, está em atividade desde 2013 e possui filiais em São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro e Vitória. 

Na sexta-feira (21), dois meses antes de embarcar para Londres, na Inglaterra, a analista de Trade Bruna Tainara Francisco recebeu a ligação de uma amiga dizendo que a empresa publicou uma nota no Facebook anunciando o encerramento das atividades. 

“Eu terminei de pagar a agência em outubro, então eu achei que estava tudo certo com a minha viagem. Quando tentei contato via SAC, por e-mail ou WhatsApp, só recebi resposta automática.” O prejuízo dela foi de aproximadamente R$ 7 mil.

De acordo com um levantamento dos próprios clientes, que se uniram para tentar achar alternativas e calcular o prejuízo, pelo menos 250 clientes tinham viagens fechadas e foram prejudicados. No total, ainda segundo eles, os pagamentos não repassados a escolas, empresas aéreas e hospedagem passam de R$ 1,5 milhão. 

A agente de aeroporto Mayara Chabes foi mais uma das clientes lesadas em cerca de R$ 6 mil. Ela embarcaria no último sábado (29) para Malta mas, na última segunda-feira (24), recebeu um e-mail da escola em que iria estudar durante o mês de março. “Me avisaram que minha matrícula estava feita, mas nada estava pago. Assim, teria até quinta (27) para realizar o pagamento.”

Ela procurou a Agência e, para sua surpresa, foi bloqueada no WhatsApp e não teve e-mails respondidos. “Eu estou desanimada e assustada com tudo que vem acontecendo, não quero dar continuidade por nenhuma outra escola em Malta pois desisti de ir.”

Estudantes pediram demissão para viajar

A jovem Giovanna Violante, formada em Turismo, foi dispensada do trabalho na última sexta-feira (21) – mesmo dia que descobriu que sua viagem provavelmente não aconteceria como o previsto. Ela pediu demissão porque embarcaria para Dublin, na Irlanda, no próximo dia 10 de março. Como ela ficaria mais tempo na viagem, cerca de 8 meses, o prejuízo foi de quase R$ 16 mil. 

“A primeira coisa que me chamou a atenção foi que eles demoraram muito e não enviaram meus vouchers de passagem. Todo mundo que já viajou sabe que, depois que você compra, eles são emitidos na hora. Eles justificaram que estavam esperando a companhia aérea.” De acordo com a Giovanna, a situação foi se estendendo. 

“Coloquei meu voto de confiança, sempre perguntava e me confirmaram que estava tudo certo. Depois que vi o post nas redes sociais pedi ao meu pai, que mora em Dublin, para ele ir até a escola que eu deveria estar matriculada. Meu nome não constava nem como reserva, nem como pago. Entrei em contato com a companhia aérea e falaram que eu também não constava na lista de passageiros.”

O analista de suporte Matheus de Vilela enfrentou situação parecida. “Eu vendi meu carro e expliquei no meu trabalho com bastante antecedência, em julho do ano passado, que precisaria ser mandado embora no início do ano para poder viajar. Segunda-feira (2) serei demitido e estou esperando que se resolva alguma coisa.”

Ele também embarcaria para Dublin, na Irlanda – mas viajaria em maio. Matheus teve o prejuízo de mais ou menos R$ 9 mil. “Passei quase um ano pagando. Eu nem queria meu dinheiro de volta, só queria que me realocassem. Eu quero fazer meu intercâmbio, é algo que planejei e estou vendo tudo desmoronar na minha frente. Os sonhos das pessoas foram destruídos. É muito triste.”

“Crise financeira muito grande”

Os alunos informaram que a responsável pela Agência Mundi, Aline Martínez Muniz dos Santos, abriu uma lista de transmissão no WhatsApp para informar quem foi prejudicado, mas não respondeu nenhum caso nominalmente.

A equipe da Jovem Pan teve acesso às conversas em que Aline diz que a empresa se encontra “em uma crise financeira muito grande”. “De um ano pra cá as vendas caíram muito, o câmbio subiu mais de 65 centavos (usd), o mercado ficou instável e sem credibilidade.”

Ela apresentou duas possibilidades para os clientes, mas todas incertas. “No melhor cenário possível conseguimos ajuda para atender os clientes e não afetar os planos. Vendemos a empresa, pagamos todos os fornecedores e a Mundi entrega o servido prometido.”

“O pior cenário possível seria não conseguirmos ajuda e termos que responder caso a caso judicialmente, negociando a devolução do valores pagos. Nesse caso, cada cliente está em seu direito de exigir danos morais, além dos materiais.”

Aline ainda falou de um “meio termo” após dizer que está em contato com outras agências. “Podemos conseguir ajuda até certo ponto e os clientes precisarem desembolsar valores não previstos para conseguirem realizar a viagem no prazo pretendido – e receber de volta judicialmente o ressarcimento depois.”

De acordo com o Procon, a Agência Mundi tem 18 reclamações no órgão de defesa ao consumidor entre novembro de 2019 e fevereiro de 2020. Dessas, 13 foram realizadas entre os últimos dias 20 e 26.

Como a situação da empresa ainda está legal – ou seja, não foi decretada recuperação judicial ou falência – os clientes podem recorrer. Do contrário, a única saída seria um processo na Justiça.

Direito de resposta

Procurada, a Agência Mundi reforçou que não declarou falência. As atividades foram suspensas na quinta-feira, dia 20 de fevereiro, e, de acordo com eles, estão passando por uma auditoria financeira.

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