Após pressão de Maia, Bolsonaro ‘altera rota’ e abre Planalto a políticos

  • Por Jovem Pan
  • 13/04/2019 11h56 - Atualizado em 13/04/2019 12h51
Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo Crítico do "toma lá, dá cá", Jair Bolsonaro se reuniu com 57 políticos nas últimas duas semanas

Mudança de rota. Tradicionalmente crítico ao que chama de “toma lá, dá cá” e das negociações por cargos, o presidente Jair Bolsonaro recebeu nas últimas duas semanas um total de 57 políticos, entre líderes partidários, deputados e senadores. Nos encontros, o líder do Poder Executivo fez acenos aos parlamentares e atendeu, inclusive, aos interesses do pequeno varejo.

O presidente vinha sendo cobrado, principalmente pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a participar mais ativamente da articulação política. Por isso, fez uma investida que tem como principal meta consolidar uma base parlamentar aliada para aprovar a reforma da Previdência.

Do total de 57 políticos recebidos – entre eles um senador do PT -, só quatro ex-colegas de Câmara tiveram acesso exclusivo ao presidente, em reuniões particulares, sem a presença dos ministros da articulação no Congresso.

Eles encontraram um Bolsonaro relaxado, que contou piadas, prometeu acatar alguns pedidos e chegou a se comprometer a visitar seus Estados. “Eu pego o helicóptero e vou lá”, disse ao deputado José Nelto (Podemos-GO), que o convidou para participar de uma audiência pública em Porangatu (GO), para tratar da rodovia Belém-Brasília.

Sempre sentado no sofá e sem computador ou bloco de anotações por perto, Bolsonaro não tem o hábito de registrar os diálogos. Raramente mantém o celular ao lado. Um ajudante de ordem – que acompanha praticamente todas as reuniões – se encarrega de passar o telefone quando alguma ligação não pode esperar. Já os convidados deixam os celulares do lado de fora, em uma gavetinha, e carregam as suas listas de pedidos.

José Nelto disse ter aconselhado o presidente a não enviar para os governadores os recursos do pré-sal e usar o dinheiro para atender as prefeituras. “Estou sendo muito pressionado, viu”, rebateu Bolsonaro ao deputado. O parlamentar então sugeriu usar os recursos do pré-sal na educação de tempo integral. “Nessa hora, ele mandou o ajudante anotar a ideia. Acho que vai acatar”, relatou Nelto.

O perfil amistoso e divertido de Bolsonaro nas reuniões surpreendeu até mesmo o presidente do PSDB, Geraldo Alckmin, que ouviu ter recebido o voto dele para presidente em 2006. “Votei em você, duas vezes”, brincou Bolsonaro, quebrando o gelo com o tucano. A conversa se enveredou para Juiz de Fora, onde nasceu o secretário nacional do PSDB, Marcus Pestana, e cidade onde Bolsonaro foi esfaqueado.

Na transmissão ao vivo pelo Facebook, anteontem, Bolsonaro elogiou a sugestão do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), de liberar emendas parlamentares para municípios endividados. Os débitos travavam a entrada de recursos, com base em entendimento da Advocacia-Geral da União (AGU). “Foi uma ideia trabalhada pelo líder e pelo ministro André (Luiz Mendonça, da AGU)”, disse o presidente.

Cada contato é vital para Bolsonaro, que contabiliza votos para a reforma da Previdência. A forma de trabalhar por esses votos contrasta com a dos últimos ocupantes do Palácio do Planalto. Parlamentares afirmam que Michel Temer era o presidente do “vamos conversar, veja bem”. Dilma dificilmente recebia. Lula fazia com que todos saíssem com a certeza de que seriam atendidos. Pouco, de fato, ocorria.

Os pedidos

Ao anunciar o fim do horário de verão, na semana passada, o presidente disse ter atendido ao desejo de um parlamentar. A proposta surgiu do deputado João Campos (PRB-GO) e foi discutida com o Ministério de Minas e Energia. A justificativa seria a redução na economia gerada, de R$ 405 milhões para R$ 159 milhões.

Numa audiência privada que durou uma hora e meia, o deputado Sargento Fahur (PSD-PR) pediu que o governo reforçasse a segurança nas fronteiras do Paraná, especialmente com a Argentina e o Paraguai. “Há muito armamento pesado que entra por lá”, afirmou Fahur.

Enquanto esteve no gabinete presidencial, Sargento Fahur permitiu que Bolsonaro recebesse o governador do Pará, Helder Barbalho, com deputados e senadores do Estado, que pediam pela reconstrução da ponte do Rio Moju, no município do Acará. O senador Paulo Rocha (PT-PA) disse ter saído do encontro convencido de que o presidente vai se empenhar para resolver a situação. “Ele imediatamente mandou que olhassem se há recursos disponíveis para enviar ao Estado. Achei muito boa a conversa”, contou o petista.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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