Atuação de bastidores é marca de Antonio Palocci

  • Por Estadão Conteúdo
  • 27/09/2016 08h46
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Video/Imagem Palocci

A prisão do ex-ministro Antonio Palocci representa mais um capítulo da ruína em que vive o PT. Mesmo antes de comandar a Fazenda, de 2003 a 2006, Palocci sempre foi homem de confiança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chegou a ser o todo-poderoso chefe da Casa Civil, durante cinco meses, no primeiro mandato de Dilma Rousseff.

A marca de Palocci é a articulação de bastidores, da política à arrecadação de dinheiro para campanhas. Para a cúpula petista, não há dúvida de que a Operação Lava Jato fecha o cerco para desferir um tiro de morte contra Lula e Dilma.

Palocci seria o candidato de Lula à Presidência em 2010 se o caso da violação de sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa não o tivesse abatido. Embora José Dirceu – que caiu antes, no mensalão, e hoje é um dos presos da Lava Jato – também quisesse ser o sucessor de Lula, o preferido do então presidente era o titular da Fazenda. Com Palocci e Dirceu defenestrados, Dilma furou a “fila”.

Foi de Palocci, ex-prefeito de Ribeirão Preto, a ideia da Carta ao Povo Brasileiro, documento para Lula acalmar o mercado, na disputa presidencial de 2002. À época, o petista – chamado em sua cidade de “doutor Palocci”, por ser médico – comandava o programa de governo. Dirceu era o coordenador-geral da campanha.

Apesar de ser próximo de Lula e de ter presidido o PT de São Paulo, de 1997 a 1998, Palocci nunca foi considerado “orgânico” no partido. Ao contrário: sempre teve divergências com a cúpula da sigla. Dono de fala mansa e estilo conciliador, ele muitas vezes recomendou “Maracujina” para Dirceu e seus companheiros, que criticavam o ajuste fiscal.

A desgraça do então ministro da Fazenda começou quando Rogério Buratti, que havia sido seu secretário em Ribeirão Preto, o acusou de receber R$ 50 mil mensais de propina da empresa Leão & Leão para favorecimento em licitações da prefeitura. Depois disso, veio o pior: a quebra do sigilo bancário de Francenildo, o caseiro que o acusou de frequentar uma mansão, em Brasília, onde eram feitas negociatas.

Acuado, Palocci caiu em 27 de março de 2006, ainda no primeiro mandato de Lula, que o substituiu por Guido Mantega – outro alvo da Lava Jato. Nunca, porém, se afastou de Lula. Eleito novamente deputado federal – cadeira que já havia ocupado antes -, Palocci era sempre chamado no Planalto para opinar sobre medidas econômicas e não havia um único anúncio importante que não passasse por seu crivo.

Em 2010, ele coordenou a campanha de Dilma a pedido de Lula. Por seu bom relacionamento com empresários, era o arrecadador informal de recursos para o comitê. Com Dilma eleita, Palocci foi reabilitado à cena política como chefe da Casa Civil. Virou uma espécie de primeiro-ministro até ser acusado de enriquecer ilicitamente, multiplicando em vinte vezes o seu patrimônio, entre 2006 e 2010. “Não existe nenhum centavo aqui que se refira à campanha”, disse ele, na ocasião, atribuindo a evolução de bens a seu trabalho de consultor.

Dilma não segurou Palocci, que caiu em junho de 2011. Em conversas reservadas, dirigentes do PT rifaram o ex-ministro e passaram a criticá-lo. Muitos estranharam o aumento vertiginoso de seu patrimônio. As atividades de Palocci em sua empresa de consultoria, a Projeto, sempre foram cercadas de mistério.

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