Covid-19: Aumento de internações tem relação com flexibilização de medidas, dizem especialistas

‘Primeira onda ainda não acabou no Brasil’, afirma professor da Escola de Medicina da PUCPR; em uma semana, internações no Estado por causa da doença subiram 18%

  • Por Carolina Fortes
  • 18/11/2020 10h06 - Atualizado em 18/11/2020 10h21
Sandro Pereira/Estadão Conteúdo O governo de São Paulo ingressou com ação no STF no dia 10 de fevereiro, após uma semana de ameaças; dois dias antes, governador do Maranhão já havia feito solicitação com o mesmo teor à Corte Porcentagem de casos e mortes se manteve estável na cidade de SP, com um acréscimo, respectivamente, de 2,34% e 0,7% na última semana

O aumento no número de internações por Covid-19 em alguns dos principais hospitais privados da cidade de São Paulo já começa a ser observado também nos hospitais municipais. Em uma semana, as internações na cidade por causa da doença subiram de 581 para 644, um aumento de 10,84%, de acordo com dados da ferramenta Info Tracker, desenvolvida por pesquisadores da Unesp e da USP. Além disso, o governo anunciou, nesta segunda-feira, 16, que a última semana epidemiológica se manteve estável em relação à anterior quanto ao número de novos casos (3.664) e óbitos por Covid-19 (88), mas registrou uma alta de 18% nas internações no Estado — de 859 para 1.009, considerando hospitais públicos e privados. Especialistas afirmam que ainda é cedo para falar em uma segunda onda da doença em São Paulo, e atribuem o aumento de internações à flexibilização e ao relaxamento no cumprimento das normas básicas de higiene, como lavar as mãos, usar máscaras e respeitar o distanciamento social.

“Acho complicado neste momento falarmos em uma segunda onda, porque temos que partir do princípio de que a primeira onda nos estados e municípios acabou, e isso efetivamente não aconteceu no Brasil”, afirmou à Jovem Pan o professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) José Rocha Faria Neto, que está à frente do estudo que monitora a evolução da Covid-19, ligado ao Centro de Epidemiologia e Pesquisa Clínica da Universidade (Epicenter). O especialista observa que, em países como França, Itália e Reino Unido, onde claramente vemos hoje uma segunda onda da doença, durante cerca de vinte semanas houve uma diminuição brusca nos números de casos, até que ressurgissem. Além disso, análises realizadas pela Universidade de Basel, pela Escola Politécnica Federal de Zurique e pelo consórcio espanhol SeqCovid-Spain, liderado pelo Centro Superior de Pesquisas Científicas (CCSI), indicam uma mutação do genoma do vírus, que teria contribuído para a disseminação da doença na Europa.

Apesar do aumento na taxa de internações, a porcentagem de casos confirmados e mortes na cidade de São Paulo se manteve estável, com um acréscimo, respectivamente, de 2,34% e 0,7% na última semana. “Esse aumento de diagnósticos e internações não tem relação, necessariamente, com a mortalidade, pois já aprendemos a lidar muito melhor com a doença e com os tratamentos disponíveis. No entanto, é importante reforçar que, até termos uma vacina, a Covid-19 não está extinta. Ou seja, não podemos relaxar”, disse à Jovem Pan o neurocirurgião Renato Andrade Chaves. Ao anunciar a alta nas internações no estado, o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, pediu apoio da população para que o Plano São Paulo continue tendo sucesso. Ele ressaltou que essa alta reflete o impacto do feriado e das festas registradas nas últimas semanas. “Um pequeno esboço do que virá se não tivermos responsabilidade”, classificou. “Deixem para festejar quando tivermos a vacina”, completou o governador João Doria.

Na rede privada, pelo menos cinco hospitais registraram aumento em diferentes proporções na primeira semana de novembro: Sírio Libanês, HCor, São Camilo, Albert Einstein e BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. No São Camilo, por exemplo, em maio, a média de internações diárias era de 17, com queda para seis em outubro – agora, em novembro, subiu para oito. O professor José Rocha Faria Neto afirma, porém, que é difícil dizer que há uma movimentação semelhante à que ocorreu no início da pandemia, em que os casos começaram a aparecer primeiro nos hospitais privados, e só depois nos públicos. “Lá no início, o que aconteceu nos hospitais privados é que os primeiros casos foram importados, de pessoas que haviam viajado e estavam passando férias na Europa, por exemplo, e trouxeram o vírus junto para o Brasil. Nesse momento, eu acho muito difícil dizer que a tendência seja a mesma, pois os novos casos são gerados aqui mesmo, então não haveria uma explicação lógica para isso.”

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.