Base critica “excesso” de MPs do governo

  • Por Estadão Conteúdo
  • 31/10/2017 08h41
Marcelo Camargo/Agência Brasil Marcelo Camargo/Agência Brasil Em busca de mais protagonismo político para viabilizar seus projetos eleitorais de 2018, Maia tem dado sinais de descolamento do governo

Mesmo após demonstrações públicas de contrariedade do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com o número de medidas provisórias enviadas pelo presidente Michel Temer, o governo decidiu encaminhar na segunda-feira, 30, via MP, um pacote de ajustes para a área fiscal. No início do mês, Maia chegou a anunciar que não votaria mais este instrumento no plenário da Casa. Neste ano, a Câmara apreciou 25 medidas provisórias e outras 19 aguardam na fila.

Aliados do presidente da Câmara criticaram ontem a postura do governo. “A estratégia que me parecia melhor para o momento seria buscar a sintonia, numa saída construída em conjunto com a Câmara, e não a imposição de uma Medida Provisória”, afirmou o líder do DEM, deputado Efraim Filho (PB).

Em busca de mais protagonismo político para viabilizar seus projetos eleitorais de 2018, Maia tem dado sinais de descolamento do governo. Logo após a votação da segunda denúncia contra Temer, na semana passada, Maia afirmou que pretendia priorizar uma pauta própria, com projetos nas áreas econômicas, saúde e segurança.

Aliados de Maia afirmam que ele esperava que, após o desgaste público pela suspensão da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, o Planalto fizesse um gesto que sinalizasse a construção de saídas conjuntas com a Casa.

A medida provisória é um instrumento com força de lei que deve ser usado pelo presidente da República em casos de urgência e relevância. A Constituição brasileira prevê que se não for votada em até 45 dias após sua publicação, a MP tranca a pauta da Casa legislativa.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast na semana passada, Maia criticou a edição excessiva de MPs. “O instrumento da Medida Provisória é um instrumento autoritário. As MPs vêm da ditadura brasileira: dão o direito ao presidente de dar eficácia de lei a algo que o povo representado na Câmara não participou”, disse. Procurado ontem para falar sobre a nova MP, Maia, que está em missão oficial a Israel, não se manifestou.

Repercussão

O envio de MPs é criticado até mesmo por integrantes da base governista na Câmara. “Não é o instrumento mais adequado para a operação legislativa. O mais adequado é projeto de lei”, afirmou o deputado Carlos Marun (MS), vice-líder do PMDB na Casa. Para ele, a MP é um recurso que só deve ser usado para decisões urgentes. “É preciso ter um diálogo entre o governo e a presidência da Câmara para se chegar a um meio-termo”, disse.

O líder da bancada do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), também criticou a paralisação da pauta da Casa com a edição de MPs. “É um verdadeiro absurdo. Mesmo que quisessem votar a reforma da Previdência, o governo teria dificuldades porque tem essas MPs, a menos que deixassem cair”, disse.

Líder do PSB, o deputado Júlio Delgado (MG), disse que a edição de MP é a demonstração de que o governo tem medo que o Congresso rejeite o projeto de lei. “É a demonstração da fragilidade total da base porque não tem número (de votos) para aprovar nada. É fraqueza.”

Urgência

O líder do governo na Casa, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), por sua vez, defendeu o gesto do governo. “A explicação técnica para envio por MP em vez de projeto de lei é que o pacote fiscal precisa ter efeito imediato, porque (as medidas) já vão constar do Orçamento.”

Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) defende uma negociação entre governo e Congresso sobre o envio de MPs. Ele ressaltou que, no caso do pacote fiscal, era necessário o uso do instrumento porque as medidas precisam ter validade imediata. “Tem MP que a tramitação dura mais tempo do que projeto de lei com urgência. Agora, a Câmara tem de entrar em acordo com o governo”, justificou.

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