Brasil tem 4,8 milhões de crianças e adolescentes sem internet
Uma pesquisa divulgada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontou que no Brasil, 4,8 milhões de crianças e adolescentes na faixa de 9 a 17 anos não têm acesso à internet em casa. A discussão ganhou grande proporção no Brasil após a decisão do Ministério da Educação sobre não adiar o ENEM, maior vestibular do país, que está agendado para acontecer no início de novembro.
O estudo TIC Kids Online 2019, que será lançado na íntegra em junho, conta com o levantamento feito pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Os dados foram solicitados pelo Unicef para medir, em meio à pandemia do novo coronavírus, causador da covid-19, quantas crianças e adolescentes estão sem acesso a aulas online, e a outros conteúdos da internet que garantam a continuidade do aprendizado.
“A gente está em um momento de crise, uma crise aguda em função da pandemia, que vai ter impacto na vida das crianças e adolescentes, como um todo. Do ponto de vista da educação, a gente está com uma questão séria: o que é preciso fazer para que essas crianças e adolescentes tenham acesso a algum tipo de aprendizagem”, diz o chefe de Educação do Unicef, Ítalo Dutra.
A pandemia evidencia as desigualdades do cotidiano, segundo Dutra. Há escolas que têm infraestrutura adequada e de qualidade, e outras que não, o que já impacta o aprendizado das crianças.
“Com a pandemia, com as escolas fechadas, temos, obviamente, uma situação que é ainda mais aguda. Vemos com preocupação a situação em que nos encontramos e, principalmente, entendemos a necessidade de olhar para uma maneira de garantir o acesso de crianças, adolescentes e suas famílias à internet.” É parte da garantia de direitos de crianças e adolescentes, afirmou.
A pesquisa mostra que algumas crianças e adolescentes conseguiam acessar a rede em outros locais, mas diante da pandemia, essa realidade mudou. Cerca de 11% não conseguem acessar a internet de nenhuma forma.
A exclusão é maior entre crianças e adolescentes que vivem em áreas rurais, onde a porcentagem daquelas que não acessm a rede chega a 35%. Nas regiões norte e nordeste, o percentual é 21% e, entre os domicílios de classes D e E, 20%. As informações foram coletadas entre outubro de 2019 e março de 2020.
Em linhas gerais, o acesso cresceu em relação ao último levantamento, de 2018, quando 14% das crianças e adolescentes não navegavam pela rede. As desigualdades regionais e de renda, no entanto, permanecem, diz o coordenador de Projetos de Pesquisas do Cetic.br, Fàbio Senne. “Os não usuários estão mais presentes nas regiões Norte e Nordeste e têm vulnerabilidade socioeconômica maior. Essas dimensões permanecem nas pesquisas, nos últimos anos, apesar do aumento constante de usuários.”
Mesmo entre aqueles que têm acesso à internet e contam com a rede em casa, a qualidade da conexão não é a mesma. “A gente nota que, mesmo entre os que têm acesso, há diferença em relação à posse de um pacote de dados 3G ou acesso a wi-fi, o que limita o tipo de conteúdo que pode ser acessado”, diz Senne, que acrescenta: “Há variações do ponto de vista da estrutura por regiões, principalmente na região Norte e em áreas rurais, onde é mais difícil, mesmo que se tenha acesso à internet, acessar conteúdos de streaming, que demandam muita quantidade de banda.”
* Com Agência Brasil
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