Bretas aceita medidas de segurança após “intimidação” de Cabral

  • Por Jovem Pan
  • 17/11/2017 12h31 - Atualizado em 17/11/2017 12h33
MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO Juiz disse ter a “noção de que o réu (Cabral) está passando por um drama pessoal”

Em entrevista ao Jornal O Globo, o juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio de Janeiro, comentou as ameaças do ex-governador Sérgio Cabral durante audiência e disse que não tem medo, mas reforçou medidas de segurança.

“Eu cuido (da minha segurança), porque tenho que ser responsável, mas não temo e não vivo com medo. Tenho recebido todo o apoio do Tribunal (Regional Federal da 2ª Região) e do Conselho da Justiça Federal. Conversei com a ministra Laurita Vaz (presidente do STJ) e com o corregedor do Conselho da Justiça Federal, ministro Raul Araújo”, afirmou, quando questionado se está preocupado.

“Não tenho que viver com medo. Tenho que fazer meu trabalho, mas deixei de recusar medidas de segurança”, destacou o magistrado.

Questionado sobre o futuro, Bretas afirmou: “Minha preocupação nem é o presente, que já cansa muito. Quem está envolvido e sente a aprovação da sociedade tem o desejo de responder a isso com o trabalho. O que me preocupa é depois, mas meu futuro está nas mãos de Deus”. Ele disse estar feliz como juiz federal de primeira instância e disse que tem vontade “zero” de entrar na política. “Jamais”.

“Não é minha vocação, nunca foi. Mas democracia não se faz sem políticos. Cada um tem o seu papel. O problema (do político) é o ato de corrupção”, ressalvou.

Ele admitiu que o trabalho é “intenso”, “difícil e cansa bastante”.

Bretas disse que viu uma “intimidação” na fala de Cabral durante a audiência, aludindo a que a família do magistrado trabalha com a maior loja de bijuterias do Estado. “Ele mencionou uma informação que não é de domínio público. Se tem uma coisa que não admito, é alguma forma de me intimidar a não fazer meu trabalho”

Bretas afirmou, no entanto, ter a “noção de que o réu (Cabral) está passando por um drama pessoal”.

Sobre as supostas regalias de Cabral na prisão, Bretas disse que o caso não foi levado a juízo pelo Ministério Público. “Muito é dito, mas pouco é trazido à Justiça. Quando foi trazido, eu decidi (quando transferiu Cabral a Curitiba). Tenho a responsabilidade de decidir, mas, infelizmente, as questões não têm sido trazidas para serem avaliadas. Isso é uma atribuição do Ministério Público Federal e Estadual”, alfinetou.

Marcelo Bretas afirmou ainda que a velocidade dos processos da Lava Jato na primeira instância, pela qual é responsável, “é metade do que poderia estar sendo” devido a providências que a Vara aguarda de instâncias superiores.

O juiz também disse que concorda com a percepção de que há uma “operação abafa” orquestrada pela classe política contra a Lava Jato. “Exemplos disso são as tais leis aprovadas na madrugada. Desconfio que, na véspera dos feriados de fim de ano, haja tentativa de aprovar mais leis que dificultem as investigações”, projetou.

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