Campos Neto é aprovado para o Banco Central em votação unânime de comissão do Senado
A indicação do economista Roberto Campos Neto para a presidência do Banco Central foi aprovada por unanimidade na tarde desta terça-feira (26) por parlamentares que integram a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.
Essa foi a primeira vez na história recente em que a sabatina para o cargo não virou um bate-boca entre senadores sobre diretrizes da autoridade monetária. A ressalva ficou com a questão de juros no cartão de crédito, concentração e concorrência bancária.
Neto do ex-ministro Roberto Campos, ele vai ter pela frente uma taxa básica de juros brasileira (Selic) no menor patamar da série – 6,5% ao ano -, a inflação sob controle, um estoque alto de reservas internacionais (US$ 378 bilhões) e a dívida externa baixa.
Durante a sabatina, em defesa do sistema financeiro, o economista admitiu o alto nível de concentração bancária, mas apostou que as novas tecnologias serão fundamentais para o aumento da concorrência e redução de juros e spread bancário.
Campos Neto elogiado pelos senadores ao citar a necessidade de reformas. No Senado ele foi questionado sobre o baixo crescimento do País, mesmo com juros baixos. Em resposta, disse: “A coisa mais importante para o crescimento é a estabilidade de preços”.
“Nos países onde se sacrificou inflação por crescimento, a expansão da atividade durou pouco e depois houve recessão. Isso aconteceu também no Brasil”, acrescentou, em discurso indicando continuidade das políticas atuais do Banco Central.
Ao mesmo tempo, reconheceu que o setor bancário no Brasil é concentrado, mas alegou que ainda assim existe competição. “Precisamos distinguir competição e concentração. Na crise de 2008, vários países aceitaram troca de mais concentração por mais segurança.”
“Vários governos estimularam isso no sentido de um sistema mais concentrado, porém mais sólido.” Apesar do crescimento do lucro dos bancos, ele observou que, nos últimos anos, “a rentabilidade tem caído”. “Não se pode confundir lucro com rentabilidade.”
“É preciso olhar o retorno sobre o capital empregado. O retorno dos bancos já foi maior que 19%, caiu para 12%, e agora voltou para algo em torno de 15%. Apesar dos lucros maiores, a rentabilidade ainda está longe do máximo”, afirmou Campos Neto.
Novas tecnologias
O economista sinalizou em vários momentos a intenção de estimular novas tecnologias no setor financeiro, como forma de intensificar a concorrência no mercado. “O maior instrumento democratizante do século está aqui, a tecnologia”, disse, mostrando o celular.
“É importante os senadores entenderem que, se há estímulo à tecnologia, e intermediação grande, a tecnologia será a maior plataforma para desintermediação.” Ele lembrou que fintechs – empresas de tecnologias que atuam no setor financeiro – eram raras há dois anos.
“Hoje já são mais de 300 empresas [no segmento de fintechs]. Imagine daqui a dois anos. Isso é exponencial”, declarou aos senadores. “Esse aumento da competição já está acontecendo, e temos que monitorar para que esse processo seja feito de forma saudável.”
Os comentários estão em sintonia com as experiências profissionais do próprio Campos Neto na iniciativa privada. No banco Santander, o economista iniciou um projeto global de inovação tecnológica e fez parte do grupo responsável pelo banco digital da instituição.
Subsídios
Questionado por senadores a respeito de subsídios concedidos pelo governo – algo que vem sendo criticado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes – Campos Neto afirmou que o governo não é contra estes instrumentos, mas sim contra a falta de transparência.
“É importante que os subsídios sejam transparentes e mensurados, e que se mostre para a sociedade qual é o retorno deles”, disse o presidente indicado do BC. “A rede de subsídios foi feita com os juros em 14%, mas hoje estão em 6,5%. Gostaríamos de reavaliar os subsídios justamente para colocar mais recursos onde é mais necessário.”
Campos Neto foi aprovado por 26 votos a zero. Também passaram pela sabatina, pelo mesmo placar, Bruno Serra Fernandes, que ocupará a Diretoria de Política Monetária, e João Manoel Pinho de Mello, da Diretoria de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC. A expectativa é que o plenário aprove os nomes ainda nesta terça.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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