Cardozo afirma que Delcídio mente em delação: “é uma clara retaliação”
Após a delação premiada do senador Delcídio Amaral ser revelada nesta quinta-feira (03), o ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo afirmou que as afirmações feitas têm como motivação a vingança.
“Há um conjunto de mentiras que não param de pé. Basta olhar os fatos com alguma tranquilidade e com busca de isenção. Por que teria havido essa mentira? Porque Delcídio Amaral queria sair da prisão e, por alguma razão, queria atingir algumas pessoas (…) Me parece claro que, se feita, essa delação é uma clara retaliação”, disse.
Cardozo defendeu ainda Dilma e o ex-presidente Lula ao afirmar que nem ele e nem a presidente influenciaram de qualquer forma a condução das investigações da Operação Lava Jato. “Delcídio não apresenta nenhum fato novo”, disse o ex-ministro que acaba de assumir a Advocacia Geral da União. “Ele tenta mais uma vez, criar situações que o beneficiem a sair da prisão e vingar-se daqueles que ele acha que deveriam tê-lo tirado de lá”, completou.
A revista IstoÉ divulgou nesta quinta detalhes da delação premiada do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS). O acordo de colaboração, que ainda não foi homologado no Supremo Tribunal Federal, traz detalhes de como Dilma Rousseff e Lula teriam tentado interferir nas investigações da Operação Lava Jato.
No documento de mais de 400 páginas divulgado nesta quinta-feira (03) pela revista Istoé, o senador disse que a presidente quis atuar três vezes por meio do Judiciário. Delcídio cita a reunião que houve em julho do ano passado em Portugal entre Dilma, o então Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski.
Sobre a reunião, Cardozo desmentiu as informações e questionou o motivo pelo qual apenas a nomeação do desembargador Marcelo Navarro para o STJ na vaga que definiria o julgamento de habeas corpus e recursos da Lava-Jato na corte teria sido negociada. “O tempo que estive no Ministério [da Justiça] tive 16 ministros nomeados para o STJ e dois foram empossados. Tivemos cinco nomeações dos ministros do STF. POde indagar qualquer um deles se eu busquei ou alguém buscou em nome do Governo para isso (…) Não me recordo do STJ ter soltado ninguém (…) O ministro do STJ, quando poderia ter soltado réus monocraticamente indeferiu votos. Tivesse alguma noemação [combinada] ele teria dado habeas corpus”, disse.
O senador Delcídio Amaral disse ainda que chegou a se encontrar com o desembargador que votou favoravelmente pela soltura dos dois empreiteiros. No entanto, José Eduardo Cardozo ressaltou que o ex-líder do Governo falou em delação sobre fatos que já tinham ocorrido. “É muito fácil falar de fatos que já aconteceram quando vou fazer uma delação premiada. Quando o senador Delcídio Amaral foi preso, o voto que ele cita como negociado não tinha sido dado. Ele foi dado durante a prisão de Delcídio. É fácil encaixar versões a posteriori. O senador Delcídio Amaral, se fez a delação, mencionou uma decisão já tomada. Será que resolvemos só negociar com aquele ministro e não com os outros?”, ironizou.
A denúncia publicada pela Istoé traz ainda detalhes da compra da refinaria de Pasadena, à época que Dilma era presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Segundo Delcídio, Dilma tinha pleno conhecimento de todo o processo de aquisição da refinaria e de tudo o que ele representava.
Sobre o caso de Pasadena, Cardozo julgou “curioso” ser citado, já que o Ministério Público arquivou o processo. “É evidente que o MP ao decidir arquivar o fez a partir de informações que constam da ata. A ata registra claramente que o Conselho de Administração [da Petrobras] não sabia”, reiterou.
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