Cardozo relata desgaste pessoal e político e críticas de parlamentares do PT

  • Por Jovem Pan
  • 02/03/2016 14h20
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Marcelo Camargo/Agência Brasil José Eduardo Cardozo

Em entrevista exclusiva ao jornal Folha De S. Paulo, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, que deixou o cargo na segunda (29), comentou sua saída do ministério ao qual responde a Polícia Federal. Cardozo assumiu que sofreu “desgaste pessoal e político” por causa das investigações da PF que envolvem políticos aliados e opositores, mas negou pressão “direta” de Lula ou Dilma.

Em poucas palavras, Cardozo também garantiu que o novo ministro da Justiça, Wellington César Lima e Silva, não vai mudar o andamento da Operação Lava Jato. “(Wellington César) agirá, não tenho a menor dúvida, dentro dos mesmo padrões que têm caracterizado minha conduta. Ele tem o mesmo comprometimento democrático e talvez até maior habilidade para conduzir o processo do que eu”, disse, ressaltando o “forte compromisso do governo com o respeito ao Estado Democrático de Direito”.

“Sou o ministro mais longevo do período democrático. O tipo de atribuição que o Ministério da Justiça tem implica em uma série de desgaste, seja pessoal ou político, que recomenda que tenhamos renovação de ministros. Quando falei com a presidente Dilma, fiz ponderações sobre isso e acho que existe uma fadiga de material numa permanência tão alongada. Era a hora certa da substituição”, afirmou o ex-ministro ao jornal.

Cardozo assumiu que quem ocupa o Palácio da Justiça em Brasília é “acusado” por investigar aliados e reafirmou: “não tenho o controle da polícia que alguns acham que eu deveria ter”. O ex-ministro negou que tenha sofrido “pressão direta” do ex-presidente Lula ou de Dilma Rousseff.

Ele assumiu, porém, que “militantes ou parlamentares petistas fizeram críticas e sugestões em relação a melhorar a atuação da Polícia Federal, evitar abusos e ilegalidades” e disse: “isso era frequente”.

Sobre Dilma, entretanto, garantiu. “A presidente nunca, em momento algum, me dirigiu qualquer orientação para que tentasse obstar, criar dificuldades ou embaraços em qualquer investigação”.

“O Brasil está pouco ambientado com a dimensão de uma atuação institucional republicana. As pessoas sempre acham que, por força da PF estar vinculada ao Ministério da Justiça, tudo é uma ação política, quando não é”, explicou o mais longevo a ficar no ministério, desde 2011.

O ex-ministro reconheceu também que foi acusado de “perseguição” quando a polícia foi atrás de adversários políticos. “Vivi as duas situações, que mostram o nível de tensão e desgaste político que um ministro da Justiça sofre no Brasil”.

Cardozo disse ainda que um ministro sabe de uma operação da Polícia Federal apenas no momento de sua deflagração e que sua função se limita a verificar a legalidade dos pressupostos jurídicos. “As pessoas não entendem isso, talvez acostumadas a outro período da história brasileira”, completou, elogiando o trabalho dos governos Lula e Dilma contra os “engavetamentos”.

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