Castro quer atrair insatisfeitos com Cunha e Temer

  • Por Estadão Conteúdo
  • 13/07/2016 08h31
Brasília - O ministro da Saúde, Marcelo Castro e o governador do DF, Rodrigo Rollemberg, participam de ação contra o mosquito Aedes aegypti no Centro de Ensino Fundamental Agrourbano Ipê, localizado no Riacho Fundo (DF) (José Cruz/Agência Brasil) José Cruz/Agência Brasil Ministro da Saúde

“Fizemos papel de bobo. Três meses trabalhando arduamente e não vamos votar o relatório, que já está pronto há 20 dias. O relatório era só 99% do que ele (Eduardo Cunha) queria. Mas ele queria 100%.” Foi assim que o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) definiu a forma como o então presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no auge do seu poder, em maio de 2015, decidiu com os líderes ignorar o relatório de Castro na comissão da reforma política, nomear outro relator e votar outro texto direto no plenário.

O embate já vinha de alguns dias. Na semana anterior a esta, Cunha dissera que faltava “inteligência política” a Castro, que, ao revidar, disse que o então presidente da Câmara deveria ter escolhido um relator “mais submisso”. Desde então, o político ficou marcado como anti-Cunha.

Cinco meses depois, era nomeado pela então presidente Dilma Rousseff ministro da Saúde, após intervenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo da petista para abrir espaço ao PMDB na Esplanada e tentar evitar seu impeachment, estratégia que se mostrou insuficiente.

No ministério, o parlamentar se viu em meio às epidemias de dengue, zika e chikungunya no País, mas focou sua gestão em fazer política e tentar salvar o mandato da petista. Atendeu mais vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, além de senadores, do que entidades ligadas à saúde.

Polêmicas

Como titular da Saúde, Castro causou polêmica com declarações sobre o Aedes aegypti e o vírus da zika, “nós estamos, há três décadas, com o mosquito aqui no Brasil e estamos perdendo a batalha feio para o inseto”, afirmou em janeiro deste ano. Pouco antes, o peemedebista havia dito que o melhor seria “torcer para que as mulheres peguem a zika antes da idade fértil, aí ficariam imunizadas pelo próprio transmissor”.

Castro deixou o cargo para retomar o mandato de deputado e ser um dos sete dos 67 peemedebistas a votar contra o impeachment. Ao justificar seu voto naquele 17 de abril, disse: “A presidente Dilma não matou, não roubou, não tem contas no exterior, não descumpriu nenhuma lei. É uma pessoa digna, honesta e honrada. Não há crime de responsabilidade. Não há crime nenhum. Todo esse processo é forjado, artificial e falso”. Cravando uma imagem como anti-Temer dentro do PMDB. 

Mas é no cruzamento desses feitos na atual legislatura, a quinta seguida, que o psiquiatra piauiense, de 66 anos, chega à eleição para a presidência da Câmara, pretendendo ter os votos dos que não querem a vitória de um nome ligado a Cunha. Sua base também aposta nos insatisfeitos com a falta de espaço no governo Temer. A rigor, uma candidatura ao estilo do PMDB: a que visa a atrair todas as matizes políticas.

“Minha candidatura é do PMDB e de uma ampla base que tem boa relação comigo, principalmente de quando fui ministro. Vou pedir votos a todos os deputados de todos os partidos”, disse na última terça-feira (12). O desafio é afastar a vinculação que adversários têm feito de que se trata de uma candidatura petista. Questionado se conta com esses votos, o político pontuou: “Não tenho essa sorte”.

Histórico

Castro entrou no PMDB em 1981, mas teve passagens pelo PSDB e pelo PPR. Voltou ao partido de origem para se eleger deputado federal, pela primeira vez, em 1998. Apesar da formação em medicina, ele trabalha sua imagem no Estado a partir de sua ligação com o setor de infraestrutura. 

Nos seus mandatos, buscou sempre ser a interface entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e órgãos responsáveis por tocar obras no Piauí. A construtora Jurema, de seus irmãos, é a principal executora de obras públicas no Estado nordestino. 

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