Com crise, lentidão do trânsito em São Paulo tem maior queda em 6 anos
Apesar do aumento da frota de veículos registrados na cidade, que já soma mais de 8,3 milhões, o índice oficial de lentidão em São Paulo caiu em 2016 pelo segundo ano consecutivo. Balanço recém-divulgado pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) mostra que a média de congestionamentos no centro expandido da capital foi de 58 km ao longo do ano passado, índice 12% menor do que os 66 km medidos nas vias centrais em 2015. Foi a maior queda registrada nos últimos seis anos.
Especialistas em trânsito ouvidos pela reportagem atribuem a queda da lentidão no trânsito paulistano à crise do País, que reduziu a atividade econômica e, consequentemente, a circulação pela cidade. Os dados da CET já haviam mostrado em 2015, primeiro ano da crise, uma redução de 10,7% em relação a 2014. As medições são feitas entre 7 e 20 horas.
Em 2017, segundo dados parciais até abril, a tendência de queda nos engarrafamentos continua. Em abril, por exemplo, a média foi de 65 km nos horários de pico da manhã (7h às 10h) e da tarde (17h às 20h). “Embora a frota tenha crescido, o fluxo de veículos é totalmente dependente da economia. Se a lentidão no trânsito diminuir é porque a atividade econômica retraiu, infelizmente. Não tivemos nenhuma ação na operação do trânsito que pudesse melhorar o desempenho. Pelo contrário, temos um problema grave com a operação dos semáforos da cidade”, disse o consultor de trânsito Sérgio Ejzenberg.
Os anos de 2015 e 2016 foram marcados por uma política de redução mais intensa dos limites de velocidade na cidade, com padrão 50 km/h, implementada pela gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Para Ejzenberg, porém, a medida não surtiu efeito nos índices de congestionamento. “Aumentou o número de pessoas desempregadas, principalmente na região metropolitana. Isso reduz a circulação de pessoas e, consequentemente, o trânsito”, corrobora Luiz Vicente Figueira de Melo, professor de engenharia de tráfego da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
O relatório da CET, que faz uma avaliação anual da Operação Horário de Pico desde 1997, quando foi instituído o rodízio de veículos em São Paulo, mostra que o pico de lentidão na cidade continua sendo às 19 horas, com 104 km de congestionamentos em média. No ano passado, o índice neste horário era ainda maior (111 km).
Aplicativo
Para os especialistas, o uso de aplicativos de trânsito como o Waze, que auxiliam os motoristas a fugirem dos engarrafamentos nas principais vias da cidade, ajuda a explicar a redução da lentidão nas vias monitoradas. Morador da Aclimação, na zona sul, o assessor comercial Carlos Ietoso, de 57 anos, faz “tudo de carro” e não sai de casa sem se conectar ao aplicativo, que usa há cerca de dois anos. “Ajuda muito. Em 90% das vezes, a direção indicada é a mais rápida.”
Proprietário de uma empresa de decoração em Perdizes, na zona oeste, Michael Balog, de 45 anos, usa o carro a trabalho, atendendo a uma média de dez clientes por dia a domicílio, e recorre sempre a duas dicas de trajeto para driblar os congestionamentos. “Fica Waze de um lado, GPS do outro, daí a gente faz uma média”, diz.
Quando é dia de rodízio de seu veículo, ele se organiza para sair mais cedo ou mais tarde para fugir dos horários de restrição de circulação para os compromissos. Segundo o balanço da CET, em média, 22% dos carros proibidos de circular no dia antecipam suas viagens pela manhã, entre 6h30 e 6h45, e 12% entre 6h45 e 7h, quando se inicia o rodízio. Já 14% saem entre 10h e 10h15, e 21% entre 10h15 e 10h30, após o término da restrição municipal.
De acordo com a CET, o índice de obediência ao rodízio permaneceu praticamente estável no ano passado, chegando a 90% no período da manhã e 84% no período da tarde. Isso significa, por exemplo, que 16% dos veículos proibidos de circular em determinado dia ainda são flagrados nas ruas da capital entre 17 e 20 horas.
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