Com golpe da maquininha de cartão, Pix e falsos motoboys, criminosos causam insegurança nos Jardins

Pessoas famosas se tornaram vítimas de assaltantes na região; delegado destaca ações e policiamento ostensivo como forma de coibir ação de quadrilhas

  • Por Jovem Pan
  • 05/03/2022 12h00
EDSON LOPES JR./SECOM avenida paulista Ocorrência de furtos e roubos na região da Avenida Paulista é preocupação das forças de segurança

O Bairro dos Jardins, um dos mais ricos do centro de São Paulo, tem tido criminosos cada vez mais criativos em suas ruas, aumentando a sensação de insegurança dos moradores e trabalhadores que transitam pelo local. Além de casos de furtos e roubos “tradicionais”, à mão armada ou quando o assaltante toma o celular da mão de uma pessoa desavisada e foge, o bairro também passou a ter bandidos que usam roupas e mochilas de aplicativos de entregas para cometer os crimes ou que obrigam a vítima a repassar o celular, desbloquear a tela e fazer login em aplicativos de bancos para transferir dinheiro via Pix para outras contas. Outra forma é o “golpe da máquina de cartão”, quando o criminoso coloca um valor muito maior ao da compra efetuada pelo cliente. 

O jornalista Antônio [nome fictício] relata que conseguiu escapar por pouco de falsos entregadores em agosto de 2021. “Eu estava sozinho na Alameda Campinas indo para a avenida Paulista pegar metrô, bem tranquilo, não imaginava que ia acontecer algo. Uns três caras que estavam vestidos de entregadores de iFood, me pararam. De primeira, eu não entendi nada, até porque eles estavam de máscara, daí um deles fez o sinal de telefone e eu entendi o buraco onde eu estava. Só me fiz de desentendido e saí andando rapidamente, atravessando eles. Percebi que eles iam me barrar, então eu corri bastante até chegar na Paulista. Foi uma situação tensa”, contou à reportagem da Jovem Pan.

Outras vítimas de crimes no bairro são famosas. A influencer Bruna Santana, irmã do cantor Luan Santana, foi vítima de um assalto à mão armada nos Jardins no último dia 8 de janeiro, quando deixava seu carro no valet de um restaurante – ela disse que o bandido usava mochila de um aplicativo, mas não revelou o que foi roubado. O zagueiro Miranda, do São Paulo, teve o celular furtado enquanto andava pela região por dois homens que estavam em bicicletas – os criminosos transferiram R$ 100 mil de sua conta. O dinheiro foi ressarcido pelo banco. O apresentador Thiago Asmar, da Jovem Pan, também foi roubado no bairro. 

“O pior de tudo não foi perder o celular. O pior é que eu já fui na polícia, eu estou, inclusive, ajudando nas investigações, porque eu não quero deixar que isso fique impune para essa quadrilha, o pior é que é uma quadrilha muito grande, deve ter muita gente grande envolvida, porque eles roubaram meu celular, esse bandido passou para alguém e eles esvaziaram tudo meu, minha conta no banco, minha conta jurídica, esvaziaram meu aplicativo Binance de criptomoeda, que, por sinal, eu vou entrar na Justiça, porque não me reembolsaram. O banco, na hora, já deixou claro que vai me reembolsar. É uma quadrilha. Para você ter ideia, eles criaram uma conta em um banco que eu nem conheço no meu nome, Juno, um banco chamado Juno, no Paraná. E esse banco, já foi apurado, inclusive pela polícia, que tem muita fraude envolvida”, relatou o apresentador.

De acordo com estatísticas disponibilizadas pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) em seu site, o 78º  Distrito Policial, o dos Jardins, registrou 189 roubos de “outros”, categoria na qual se encaixam os de celulares e se excluem os de veículos em janeiro de 2022, o mês mais recente com dados disponíveis. Além disso, 503 furtos de “outros”  foram registrados. O número é acima de outros bairros ricos centrais da capital, como Itaim Bibi (142 roubos e 259 furtos), Santa Cecília (177 roubos e 345 furtos) e Pinheiros (179 roubos e 476 furtos), e abaixo de outras áreas centrais mais populares, como Sé (323 roubos e 731 furtos) e Campos Elísios (703 roubos e 724 furtos). Em 2021, o mês com mais furtos nos Jardins foi setembro, com um pico de 1.276 – nos outros, a partir de abril quando a circulação voltou a níveis normais desde o início da pandemia, o número nunca ficou abaixo de 500 ou acima de 700. O total foi de 6.800 no ano inteiro. Em relação aos roubos, o pico foi em dezembro, com 201; nos outros meses, os registros ficaram entre 100 e 200 a partir de abril. No total, 1.740 ocorrência foram registradas em 12 meses. Nos últimos três anos, mais de 10 mil celulares já foram recuperados no centro de São Paulo.

O delegado Roberto Monteiro, da 1ª Seccional, que cuida da região do centro de São Paulo, atribui parte da insegurança sentida na região ao fato de os crimes atingirem pessoas midiáticas. “É uma área com policiamento ostensivo e muito monitoramento de câmeras. Ali, os crimes têm repercussão muito grande, e isso gera uma sensação de insegurança, é lógico que as pessoas tenham a sensação, apesar de termos verificado uma queda de acordo com os dados da SSP”, afirmou à Jovem Pan. O delegado destacou ações como a “Avenida Aberta”, realizada para evitar furtos na Paulista nos dias em que a via está fechada para carros; a Operação Bad Delivery, que busca os assaltantes que se vestem como entregadores de aplicativos, realizadas pela 1ª Seccional com o 78º  DP, e a operação Móbile, do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap), que abrange toda a cidade e visa coibir furto, roubo, receptação e estelionato cometidos a partir de celulares obtidos de maneira ilegal. Monteiro também citou a prisão de um suspeito de matar o sorveteiro Leonardo Iwamura, que tinha um ponto na rua Oscar Freire e foi morto durante um arrastão em setembro de 2021.

Outras ações de repressão ao crime realizadas pela Polícia Civil foram as buscas por quem auxilia os grupos nos assaltos, oferecendo as contas como intermediárias para o dinheiro transferido via Pix. “Cumprimos seis mandados de busca e apreensão em cima dessas pessoas, que ou fazem parte ou cobram de grupos criminosos para suas contas serem usadas. O marginal ‘lanceiro’ rouba e leva para o receptador, que acaba pagando uma diferença de preço quando o celular está aberto ou desligado porque facilita o acesso a dados pessoais, como o Pix, entre contas bancárias. O celular arquiva senhas, vira um computador de mão, e se for pego desbloqueado, o bandido pode obter uma série de dados pessoais. Esses dados pessoais podem ser usados para fazer engenharia social e aplicar golpes, como o golpe do Whatsapp”, explicou à reportagem Monteiro. O golpe do WhatsApp é feito quando um criminoso usa o nome e imagem de uma pessoa para pedir dinheiro a conhecidos dela.

O delegado também citou ações de policiamento ostensivo e padrões que se repetem. “Nós temos observado que muitos criminosos vêm de outros pontos da cidade e da região metropolitana. Como nos Jardins tem uma classe social que vai a restaurantes e lojas que custam mais, os bandidos são pessoas em busca de quem tem poder aquisitivo diferenciado, um aparelho celular e de um relógio de maior qualidade. Então, as motocicletas que têm placa de cidades da grande São Paulo chamam atenção, e também quando alguém leva outro na garupa na moto”, relata. 

Além do patrulhamento ostensivo e da Operação Móbile, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) disse, em nota enviada à Jovem Pan, também citou as operações Hemera, deflagrada em 17 de fevereiro, que cumpriu mandados de prisão contra pessoas que roubam e utilizam os equipamentos para fazer transferências bancárias, e a Meucci, que tem o objetivo de desarticular quadrilhas que atuam na receptação e desbloqueio de desses equipamentos. “Juntas, ao longo do ano passado, essas ações permitiram a prisão de mais de 530 criminosos e a recuperação de mais de 16 mil aparelhos celulares roubados ou furtados. Desde o início deste ano, 45 criminosos foram detidos e encaminhados à Justiça por crimes dessa natureza”, informou a SSP, acrescentando a operação da Polícia Militar contra quem furta em bicicletas.

Leia abaixo a íntegra da nota enviada à reportagem da Jovem Pan.

“Desde o início da atual gestão os crimes contra o patrimônio na capital paulista vêm caindo. Em 2021, os casos de roubos e furtos recuaram 5% e 7%, respectivamente, na comparação com 2018, fruto do trabalho integrado das forças de segurança de São Paulo. Especificamente sobre os celulares, as polícias paulistas realizam – e tem intensificado – as operações diárias para combater a subtração e a receptação desses equipamentos.  Na última quinta-feira (17), por exemplo, a Polícia Militar deflagrou uma operação para desarticular quadrilhas que utilizam bicicletas para furtar aparelhos celulares na região central da cidade. A Polícia Civil, por meio da 1ª Seccional, também realizou a operação Hemera na mesma data para cumprir mandados de prisão contra pessoas que roubam e utilizam os equipamentos para fazer transferências bancárias. Desde o início deste ano, 45 criminosos foram detidos e encaminhados à Justiça por crimes dessa natureza.

Em toda a capital, são realizadas etapas da operação Mobile, que visa à identificação dos estabelecimentos comerciais que atuam no ramo de compra, venda, desmonte e remonte de telefones celulares usados, como também de aparelhos novos de origem duvidosa de forma a combater o crime de receptação, e da “Meucci”, que tem como objetivo desarticular quadrilhas que atuam na receptação e desbloqueio de desses equipamentos. Juntas, ao longo do ano passado, essas ações permitiram a prisão de mais de 530 criminosos e a recuperação de mais de 16 mil aparelhos celulares roubados ou furtados.

Paralelamente ao trabalho investigativo, a Polícia Militar tem intensificado as atividades de patrulhamento preventivo e ostensivo, por meio diferentes operações, dentre elas a São Paulo Mais Seguro e a Hércules, que tem como objetivo fiscalizar motocicletas e seus ocupantes a fim de combater roubos e furtos cometidos por criminosos com o uso de motos. Em relação às regiões citadas pela reportagem, esclarecemos que as ações de policiamento serão orientadas.”

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