Costa e Youssef contam versões divergentes sobre campanha presidencial de Dilma
Em mais de quatro horas de acareação na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, os dois principais delatores da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, mantiveram versões divergentes para o suposto uso de dinheiro de propina na campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010.
Costa disse em depoimentos à Justiça Federal que o ex-ministro Antonio Palocci pediu na época R$ 2 milhões para a campanha, dinheiro que teria sido disponibilizado por Youssef.
Já o doleiro voltou a negar ter operacionalizado o repasse. Youssef insinuou, porém, que houve pagamentos para a campanha, mas operacionalizados por outra pessoa. E essa pessoa, segundo ele, estaria colaborando com a Justiça. “Eu não conheço Palocci, nem assessor dele, nem o irmão dele e não fiz o repasse. Mas existe outro réu colaborador que está falando. Há uma investigação em relação ao Palocci e em breve vocês vão saber quem repassou os recursos”, disse.
Youssef e Costa já tinha sido submetidos a uma acareação pela Polícia Federal. A defesa do doleiro alegou isso ao pedir ao Supremo Tribunal Federal um habeas corpus para que ele pudesse deixar de responder as perguntas, medida concedida pelo ministro Teori Zavascki.
Munido do habeas corpus, Youssef se recusou a responder algumas perguntas, principalmente as relativas à escuta clandestina encontrada na cela dele na carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR). “Não vou falar sobre isso porque o caso está sob investigação”, disse, ao ser questionado pelo relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PMDB-RJ).
Durante a acareação, o doleiro e o ex-diretor da Petrobras ratificaram os depoimentos anteriores. Costa chegou a dizer que prestou 126 depoimentos à Polícia Federal e à Justiça Federal. “Confirmo todos eles”, disse.
Além da informação de que um novo delator estaria detalhando repasses à campanha presidencial de Dilma Rousseff, a única surpresa no depoimento foi a acusação, feita por Youssef, de que estaria sendo intimidado pelo deputado Celso Pansera (PMDB-RJ), que aprovou requerimentos pedindo a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico da ex-mulher e das filhas dele.
“O senhor sabe que minhas filhas não estão envolvidas”, disse o doleiro. “Eu é que me sinto ameaçado. O senhor pode estar certo que não estou tentando intimidá-lo”, respondeu o deputado.
Sem novidades
Youssef repetiu o que já havia dito em depoimentos anteriores. Disse, por exemplo, que tinha a percepção, enquanto durou o esquema de desvio de dinheiro da estatal para agentes políticos, que o “Palácio do Planalto” tinha conhecimento das operações irregulares.
“Essa percepção eu tinha pelo que eu ouvia nas conversas e também porque Paulo Roberto Costa conseguia sinalizações do planalto”, disse Youssef. “Isso o fazia sentir mais seguro?”, perguntou o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA). “Sim”, respondeu o doleiro.
Ele também repetiu o teor de depoimento anterior em que relatou ter sido informado pelo empresário Júlio Camargo a respeito do pagamento de propina relativa a contratos da Petrobras com o estaleiro Samsung. Camargo era o representante das duas empresas junto à estatal.
Camargo, segundo Youssef, afirmou ter sido pressionado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para pagar comissão pelo contrato entre a Petrobras e a Samsung depois que a Samsung parou de pagar a comissão relativa ao contrato.
O doleiro informou que operacionalizou o pagamento de R$ 6 milhões a Fernando Soares, acusado de ser o operador do PMDB, a pedido de Júlio Camargo.
Fernando Soares e Eduardo Cunha negam envolvimento em recebimento de propina relativa à contratação de navios-plataforma pela Petrobras e também de outras denúncias da operação Lava jato.
Outras denúncias
Costa e Youssef repetiram ainda a acusação de que houve pagamentos aos senadores Gleisi Hoffmann (PT-PR), Valdir Raupp (PMDB-RO) e Lindberg Farias (PT-RJ) no esquema de desvio de dinheiro da Petrobras.
Os dois também reafirmaram a informação de que houve pagamento de propina de R$ 10 milhões para evitar uma CPI no Congresso. Paulo Roberto Costa disse que o dinheiro foi entregue ao então presidente do PSDB, Sérgio Guerra, e ao deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), que não quis comentar a acusação. De acordo com sua assessoria, até que se prove o contrário, ele é inocente. O deputado vai acionar sua defesa.
Youssef também confirmou o teor de depoimento em que afirma que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) recebeu propina em contratos que envolviam Furnas Centrais Elétricas. O Ministério Público Federal, porém, pediu a absolvição do senador por falta de provas.
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