Crimes ainda podem estar ocorrendo em contratos com o governo do Rio, diz MPF

  • Por Jovem Pan
  • 23/11/2017 12h55 - Atualizado em 23/11/2017 13h00
Rodrigo Viga/RJ Agentes da Polícia Federal chegam ao prédio onde reside o empresário Georges Sadala Rihan, sócio de uma das empresas que administravam o Rio Poupa Tempo, em Ipanema, zona Sul do Rio de Janeiro

Procuradores fluminenses do Ministério Público Federal deram detalhes nesta quinta-feira (23) sobre novo esquema de propina de empresas com o Estado do Rio de Janeiro na época do ex-governador Sérgio Cabral. Eles alertaram que, como ainda há contratos em voga entre companhias investigadas e o governo, o esquema criminoso ainda pode estar ocorrendo.

“A (construtora) Macadame (uma das empresas investigadas) conta ainda com diversos contratos ativos com o Estado do Rio de Janeiro, DNIT e DER, o que aponta para a possível contemporaneidade de suas condutas criminosas”, disse a procuradora Marisa Ferrari durante entrevista coletiva.

Na operação C’est Fini, desdobramento da Lava Jato, desta quinta (23), foi preso o ex-chefe da Casa Civil de Cabral, Régis Fichtner, acusado de recolher propina de mais de um milhão e meio de reais. “Ele pode ter recebido, certamente recebeu mais, mas não há provas contundentes disso. Nós estamos apenas nos fiando em provas irrefutáveis”, disse ainda a procuradora, ao elucidar os números.

Parte das provas foi obtida durante o depoimento de Luiz Carlos Bezerra, ex-assessor de Cabral e um dos operadores financeiros do esquema criminoso. Também foram utilizadas provas e anotações descobertas no dia da deflagração da Operação Calicute.

Operação, nomes e valores

A ação da Polícia Federal desta quinta (23) foi denominada Operação  C’est Fini (“Este é o Fim”, em francês). Este seria o fim da “farra dos guardanapos”, foto em que o ex-governador Sérgio Cabral, secretários do governo e empresários aparecem em festa em Paris. A Operação é desdobramento da Operação Calicute.

Entre os alvos da prisão preventiva (sem prazo para liberação) estão Régis Fichtner, ex-chefe da Casa Civil do governo Cabral; Georges Sadala, ex-sócio de empresa que administrava o Rio Poupa Tempo; Henrique Alberto Santos Ribeiro, ex-presidente do DER (Departamento de Estradas de Rodagem) no governo Cabral; Maciste Granha de Mello Filho, presidente da empresa Construtora Macadame LTDA; e Lineu Castilho Marins, indicado, por Henrique Ribeiro, para diversos cargos no DER.

Fichtner teria recebido pelo menos R$ 1,56 milhão em propina em repasses feitos em dinheiro vivo.

Henrique Ribeiro, da DER, seria o responsável por recolher propina e distribuí-la a agentes políticos que integravam a organização criminosa de Cabral.

Outro empresário, Alexandre Accioly, dono de uma rede de academias, foi intimado a depor à Polícia Federal. Foram realizadas buscas na casa dele, no mesmo prédio em que vive Sadala.

Georges Sadala é um dos empresários da foto da “farra dos guardanapos”. “Cabral exigia um porcentual de todos os serviços contratados pelo Estado, o que não foi diferente com Georges Sadala”, disse um dos procuradores.

Divulgação/Blog do Garotinho

Secretários do governo Cabral fazendo festa com guardanapos na cabeça ao lado do empreiteiro Fernando Davendish

Maciste é acusado de pagar R$ 552 mil em propinas para obter contratos com o governo do Estado.

Dois consórcios suspeitos receberam mais de R$ 170 milhões do Estado. Apenas a empresa de Georges Sadala recebeu R$ 40 milhões entre 2009 e 2012. Foram detectadas movimentações financeiras muito altas, incompatíveis com a receita bruta declarada, o que gerou a suspeita de lavagem de dinheiro pelos investigadores.

O esquema teria movimentado, entre 2007 e 2016, cerca de R$ 21 milhões somente em propina.

Fernando Cavendish, da construtora Delta, já preso em outras operações, foi alvo de condução coercitiva da operação desta quinta.

Justificativa das prisões

Para o procurador responsável, as prisões preventivas são justificáveis pois trata-se de uma “organização criminosa muito poderosa, com braços até na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio)”. Ele lembrou que uma oficial de justiça foi impedida de entrar na Alerj para cumprir os mandados de prisão de deputados estaduais acusados de integrar o esquema criminoso de Cabral em outra operação.

“Para aqueles casos em que não há indícios claros de autoria ou materialidade, ou se faz a busca e apreensão, ou chamamos para ele esclarecer”, disse o membro do Ministério Público.

Outra justificativa seria a tentativa de destruir provas, como foi observado no encerramento de contas de e-mail de Régis Fichtner.

Mais um esquema – precatórios

Sem muitos detalhes, os procuradores anteciparam também que os decretos sobre precatórios de empresas com dívidas com o Estado são alvo de investigação.

O governo Sérgio Cabral permitiu por meio de leis que empresas que deviam ao Rio de Janeiro comprassem precatórios (títulos de dívida do Estado com a população) para abater suas próprias dívidas.

“Os precatórios judiciais foram sempre um tema muito tenebroso e suspeito” da administração Cabral, disse a procuradora.

O ex-secretário Régis Fichtner é investigado por supostamente integra o esquema dos precatórios.

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