De aspirador de pó robô a notebook, o que mudou no consumo de eletroeletrônicos na pandemia

Procura por aspirador de pó robótico cresceu quase 1.000% durante o isolamento social, segundo a GfK; consumidor buscou adaptar o lar para a nova realidade

  • Por Caroline Hardt
  • 13/07/2020 12h59
Pixabay Nas primeiras semanas da pandemia, itens como notebooks, aspiradores robôs, desktops e videogames foram responsáveis pelos maiores aumentos das vendas no varejo

Notebook, videogame e roteadores foram alguns dos produtos que a analista de qualidade de software Aryadne Bastos adquiriu durante os primeiros meses de pandemia da Covid-19. Feitas totalmente online, as compras foram impulsionadas pela necessidade de adaptar o lar para a nova realidade imposta pelo isolamento social. Aryadne conta que as aquisições, realizadas em conjunto com o noivo, foram cuidadosas para que não extrapolassem o orçamento do casal. “Comprei dois notebooks, um para o meu noivo e o outro para uma tia, que também está de home office. O videogame foi para minha irmã, que é pequena e precisa de algo para passar o tempo. E teve também roteadores, adquiridos por necessidade, porque a internet estava instável e precisávamos de uma conexão melhor.”

O perfil de compras de aparelhos eletroeletrônicos de Aryadne na quarentena reflete o que aconteceu com grande parte do consumidor brasileiro, que passou a adquirir itens de casa, informática e lazer para adaptar o lar durante a pandemia da Covid-19. Os aspiradores de pó robôs foram um fenômeno de vendas desde o início do isolamento social no país em março, e chegaram a ter aumento médio de 914% no período de 20 de abril até o final de maio (na comparação com os mesmo período de 2019), segundo estudo realizado pela empresa de pesquisas GfK. O levantamento considera os dados de faturamento do varejo, tanto em lojas físicas como online, e analisa as variações de consumo por itens, valores e marcas, comparando as informações com os resultados do ano anterior.

“O aspirador robô foi emblemático, e se tornou o símbolo da pandemia no seguimento de eletroeletrônicos no Brasil. O consumidor se viu em casa, em uma realidade forçada, em que precisava gerenciar o lar e acumular funções, como home office, cuidados com os filhos, limpeza da casa. E viu que o robô ajuda a administrar a rotina”, explica o coordenador da análise e diretor da GfK, Fernando Baialuna, à Jovem Pan.

Essa urgência de facilitação no lar foi justamente o que impulsionou o funcionário público Daniel Cordeiro a adquirir uma versão do aspirador robótico. Ele conta que, com o distanciamento social, houve a necessidade de suspender os serviços semanais da diarista, o que o levou a comprar o produto. “Depois de um mês da quarentena e muita dor na lombar, eu decidi que o robô seria mais barato que consertar a minha coluna”, comenta. Assim como Daniel, outros consumidores também recorreram às compras para facilitar etapas do dia a dia. Segundo a GfK, na fase do pânico, que foi do início do isolamento em março até meados de abril, o consumidor priorizou compras de aspirador de pó, de videogame e de notebook, para se preparar para o que estava por vir. E de abril até meados de maio, uma fase inicial de adaptação ao novo cenário, o estudo mostrou que outros produtos para o lar passaram a entrar na cesta de compras, como mixers, batedeiras e fritadeiras – além daqueles três que continuaram crescendo.

Celular de stand-by

Passada uma segunda fase de adaptação, que foi de maio até junho, os celulares, que chegaram a registrar queda na média semanal de mais de 40% em faturamento para as lojas no período de pânico, voltaram a operar no azul, com crescimento de mais de 30%, em média, nas vendas nas últimas semanas. “O celular é um símbolo da mobilidade, de estar conectado independentemente de onde a pessoa esteja. Esse símbolo perdeu a importância no início da pandemia, porque o consumidor deu prioridade para equipar o lar. Com a adaptação ao novo cenário, os celulares tiveram uma recuperação, e agora essa troca é vista como uma característica de compras por indulgência, pelo ‘eu mereço’, para auto presentear”, explica Baialuna.

Com a reabertura das lojas físicas, a GfK estima que o “novo normal” do varejo seja marcado por um perfil de cliente mais racional e mais familiarizado com o ambiente online, assim como pela ascensão da jornada “figital” de consumo – ou seja, aquela com a mistura de contato aos ambientes físicos e digitais para a tomada de decisão pelos consumidores. Em relação às categoriais, Baialuna analisa que a compra de celulares e de itens da linha branca, como refrigeradores, fogões e microondas, postergada durante o isolamento, deve se recuperar nos próximos meses. Enquanto isso, os emblemáticos aspiradores robôs devem se popularizar ainda mais, apresentando versões mais acessíveis ao mercado.

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