Delcídio diz que Argello pressionou empresários por propinas em forma de doações

  • Por Estadão Conteúdo
  • 24/06/2016 21h17
Senador Gim Argello (PTB-DF), vice-presidente da CPI Mista da Petrobras, durante reunião na qual é ouvido o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli Foto: Pedro França/Agência Senado Pedro França/Agência Senado Gim Argello - Ag. Senado

Em depoimento nesta sexta-feira, 24, ao juiz federal Sérgio Moro, o ex-senador Delcídio Amaral (ex-PT/MS), delator, declarou que o ex-senador Gim Argello (PTB/DF) pressionou empreiteiros envolvidos na Operação Lava Jato por “doações” eleitorais para não convocá-los a prestarem esclarecimentos na CPI Mista da Petrobras, em 2014.

Delcídio citou, ainda, o deputado Marco Maia (PT/RS) e o então senador Vital do Rêgo, hoje ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), como supostamente também terem pedido “apoio, suporte” para as eleições em troca da não convocação dos empresários.

Delcídio depôs como testemunha na ação penal contra Gim Argello e mais sete investigados, todos presos na Operação Vitória de Pirro, desdobramento da Lava Jato.

Na audiência, o procurador da República questionou Delcídio sobre “como era esse movimento”, referindo-se a empreiteiros assediados por Gim Argello. “A gente sentiu que estavam muito indignados com isso, porque aparentemente foi uma CPI na época de eleição. Aliás, determinadas CPIs normalmente aparecem na época de eleição. Esclareço que isso não é um fato isolado. Existem antecedentes em que houve algum tipo de negociação em CPIs. O que se negociava eram doações, trocando doações para o processo político, para as eleições, em se convocando ou não para depor nas CPIs determinada pessoa, no caso empresários.”

Os empresários Léo Pinheiro, da OAS, e Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, teriam contribuído com um total de R$ 5,35 milhões. A maior parte desse valor (R$ 5 milhões) foi repassada à Coligação União e Força, que reunia quatro partidos apoiados por Gim Argello. Outros R$ 350 mil foram parar na conta de uma igreja em Taguatinga, frequentada pelo então senador.

Delcídio disse que o lobista Júlio Camargo, outro delator da Lava Jato e seu amigo, lhe contou da pressão que Gim Argello exercia sobre empresários.

O procurador perguntou a Delcídio. “Em algum momento Júlio Camargo disse ao sr. que Gim Argello fez pedido?”

“Disseram para mim que havia pedido, não só do Gim Argello, mas de outras pessoas, aparentemente Marco Maia e o próprio Vital do Rego que pediam apoio, suporte para as eleições em troca de eles não serem convocados.”

O deputado Marco Maia era o relator da CPMI. Vital integrava a comissão.

Delcídio declarou ao juiz Moro que soube por Júlio Camargo e pelo próprio empresário Ricardo Pessoa que “estaria havendo um movimento de se poupar algumas convocações mesmo com os requerimentos pautados”.

O representante do Ministério Público Federal questionou Delcídio se os empresários tinham preocupação de serem expostos na CPI. “Todo empresário tem preocupação. A CPI, por mais que não dê em nada, posso falar isso porque fui presidente de CPI, isso para as empresas, independentemente, só o fato de ser convocado e mesmo ouvindo perguntas as mais estapafúrdias, que acontecem em uma CPI, ainda mais uma CPI Mista, claro que todo empresário tem preocupação. Essa preocupação deles eu encarei com naturalidade.”

Julio Camargo fez pagamentos para Gim Argello? “Sei que o Júlio fez pagamentos. Não sei se fez o que foi pedido, mas fez pagamentos, sim. Acho que da ordem de R$ 2 milhões, aproximadamente.”

Ricardo Pessoa? “Fez. Foram R$ 5 milhões. O Ricardo estava muito injuriado com tudo isso aí.”

A reportagem encaminhou pedido de manifestação ao deputado Marco Maia, por WhatsApp, e ao ministro do TCU Vital do Rêgo, por e-mail, mas ainda não obteve retorno.

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