Deputado acusa Eduardo Cunha de “conluio” com ministro do STF para manter financiamento privado

  • Por Thiago Navarro/ Jovem Pan
  • 08/03/2015 14h20

Deputado Ivan Valente (PSOL-SP) durante reunião da CPI da Petrobras na última quinta (05)

Alan Marques/Folhapress Deputado Ivan Valente (PSOL-SP) durante reunião da CPI da Petrobras na última quinta (05)

Em entrevista exclusiva ao Portal Jovem Pan, o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), membro da CPI da Petrobras, considerou que uma forma adequada de evitar novos escândalos de corrupção seria proibir o financiamento de empresas a partidos políticos e candidatos. Valente criticou a demora do Supremo Tribunal Federal (STF), que julga ação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a fim de proibir doações privadas, travada por um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes. O deputado também vê com maus olhos a atitude do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, que estabeleceu comissão de reforma política cujo projeto torna legal o financiamento privado de campanhas.

Valente estabeleceu uma conexão. “É isso que o Eduardo Cunha fez: ele está querendo constitucionalizar na reforma política o financiamento privado em conluio, na minha opinião, com o ministro do Supremo Tribunal Federal que pediu vistas há 10 meses numa votação já definida por 6 a 1, pela ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) da OAB”, disse. Recém-eleito presidente da Câmara dos Deputados, Cunha estabeleceu em 10 de fevereiro uma comissão especial para a reforma política. O projeto escolhido para guiar o debate foi do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). Nessa PEC (352/2013), o financiamento privado é constitucionalizado.

“Não dá mais para as campanhas serem financiadas por empresas”, disse. “Só que a esmagadora maioria dos deputados depende do financiamento privado e não sabe fazer campanha olhando no olho dos trabalhadores sem poder econômico”, condenou.

“Isenção”

O deputado criticou também seus colegas de CPI que receberam dinheiro legal de empreiteiras investigadas pela própria Comisssão em suas campanhas eleitorais. “Mais de 60% da Câmara dos Deputados foi financiada por 12 ou 15 empresas e empreiteiras que estão envolvidas criminalmente na Operação Lava Jato”, disse, apesar de não colocar um número preciso. Na verdade, 255 dos 513 deputados (quase metade, 49,7%) receberam dinheiro das empresas envolvidas na corrupção com a Petrobras. Na CPI que investiga o caso na Câmara, 12 dos 27 membros estão na mesma condição.

Valente enfatizou que proprietários de empresas estão presos pela Polícia Federal do Paraná, em Curitiba. “O pior de tudo é que pessoas que estão até na cpi, no Conselho de Ética receberam das empreiteiras, estão na lista do procurador Janot”, afirmou. “E os que ocupam cargo de mando da Casa, presidente do Senado, presidente da Câmara, presidente da CCJ, todos eles estão envolvidos, acusados pelo procurador-geral e acatados pela Justiça, pelo STF”, disse Valente, em referência a Renan Calheiros (PMDB), Eduardo Cunha (PMDB) e Arthur Lira (PP), cujos nomes constam na lista de pedido de inquérito do procurador Rodrigo Janot.

“Como nós podemos ter isenção se toda a cadeia de comando está sendo acusada e favorecida pelas empreiteiras da Lava Jato”? questionou.

O deputado lembrou também do bate-boca em que terminou sessão da CPI, do qual participou, criticando Hugo Motta (PMDB), presidente da Comissão, que nomeou quatro sub-relatores para acompanhar os trabalhos. “O PSOL recorreu à presidência, só que o presidente é o próprio Eduardo Cunha que escolheu o presidente (da CPI) Hugo Motta, que é do grupo dele”, analisou Valente.

“Momento histórico”

Sobre a sequência das investigações da Lava Jato, Valente defende que empreiteiras e políticos sejam igualmente punidos. “Essa cadeia precisa ser fechada”, disse. “É preciso punir todos: os que receberam dinheiro, sejam políticos ou não, operadores, os partidos, e também as empreiteiras; e essa deve ser a grande lição desse momento histórico que nós estamos vivendo”, clamou.

Impeachment

Valente não defende o movimento de impeachment contra a presidente Dilma. “É um movimento comandado por setores conservadores de direita que não querem respeitar o resultado das urnas”, classificou.

Embora critique o que chama de “estelionato” praticado por Dilma ao não cumprir suas promessas de campanha, Valente é contra uma oposição que peça a queda da presidente. “Uma outra coisa é ser oposição programática, é fazer as críticas ao sistema e até ao estelionato eleitoral praticado pela Dilma, mas a nossa posição é totalmente contrária ao impeachment”, disse.

“Nós estamos defendendo que se vá para as ruas para defender as grandes reinvidicações que interessam ao povo e não ao mercado financeiro”, afirmou, citando reforma urbana, reforma agrária, e “que o povo não pague a conta da crise, di ajuste fiscal”.

Defendendo as instituições e o “estado democrático de direito”, Valente disse: “espero que a gente não retroaja a uma ditadura militar ou uma ditadura civil”.

“O Brasil já tem maturidade para punir corruptores e corruptos, fazer uma grande reforma política, e está na hora de o povo ir à rua para reinvidicar um outro modelo econômico, com igualdade, justiça social e participação popular”, conclamou. “A punição e a crise causada por todo esse escândalo da Petrobras não pode impedir o Brasil de andar à adiante”, finalizou.

Ouça a entrevista gravada em meio à manifestação pelo Dia Internacional da Mulher na Avenida Paulista no áudio acima.

Por Thiago Navarro

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