As diferentes versões para a morte de PC Farias, 20 anos depois

  • Por Thiago Uberreich/Jovem Pan
  • 23/06/2016 08h17
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Brasil, Alagoas. Paulo Cesar Farias, fotografado em sua mansão, quando recebeu a imprensa. - Crédito:MAURILO CLARETO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Codigo imagem:6380 MAURILO CLARETO/AE Paulo Cesar Farias - PC Farias - AE

Um dos crimes mais controversos da história recente do Brasil completa nesta quinta (23) 20 anos, longe de ser esclarecido. Paulo César Farias, o personagem central da corrupção do governo Fernando Collor, morreu assassinado em 23 de junho de 1996.

Um dos quartos da luxuosa mansão do litoral alagoano foi palco de um duplo homicídio ou de um assassinato com motivos passionais?

O legista George Sanguineti foi a voz discordante do crime que, em 1996, envolveu o ex-tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Melo.

“As vítimas não foram autoras dos disparos. Havia uma terceira pessoa que adentrou. Na verdade foi um trabalho, uma trama para silenciar o arquivo vivo das Alagoas do dr. Paulo César Farias”, alega Sanguineti.

O relato de George Sanguineti batia de frente com o laudo do médico Fortunato Badan Palhares, perito que sempre insistiu na tese de crime passional.

“O nosso laudo traduz exatamente o que aconteceu naquele local. E a prova disso é que o próprio Supremo Tribunal Federal acabou, por unanimidade de votos dos ministros, aceitando o nosso laudo como não sendo o laudo falso e caracterizando como sendo homicídio seguido de suicídio”, contrasta Fortunato.

As duas versões foram discutidas a exaustão na época e, até hoje, a história segue aberta.

Hipóteses

Paulo Cesar Farias – tesoureiro de campanha de Fernando Collor – virou símbolo do escândalo que culminou no impeachment do presidente em 1992.

“Nunca intermediei qualquer negócio. Agora, quero disser a V. Excelência, e jamais poderia negar aqui, que sempre recebi inúmeros pedidos”, disse PC à época.

PC Farias voltaria as manchetes policiais em junho de 1996, três anos e meio depois da queda de Fernando Collor de Melo.

O empresário e a namorada – Suzana Marcolino – foram encontrados mortos na cama do quarto de uma luxuosa mansão no litoral de Alagoas. Cada um levou um tiro no peito.

ATENÇÂO: Imagem forte

Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Os defensores do crime passional sugerem que ela, inconformada com o possível fim do namoro, matou Paulo César e depois cometeu suicídio.

A hipótese, a primeira a aparecer, foi confirmada pelo laudo de Badan Palhares, o perito oficial. “Não há a quem procurar. O assassino está morto e morreu junto com o PC: é a Suzana, não tem dúvida absolutamente nenhuma”.

O legista da Unicamp foi acusado, no entanto, de deixar de medir a altura de Suzana Marcolino durante a exumação. Ela era mais baixa do que Paulo César Farias, o que inviabilizaria a tese de crime passional.

Em novembro de 1999, a polícia indiciou Augusto Farias, irmão de PC, como autor intelectual do duplo homicídio.

Ele se defendia: “como você tem um segredo em 40 pessoas? Dos mais humildes, como os caseiros, vigias, seguranças, sobrinhos, irmãos, netos. Para nós só tem uma versão e a versão é que tem quatro inocentes”, afirmou Augusto na época.

Seguranças

O inquérito contra Augusto Farias foi arquivado, mas o Ministério Público denúnciou quatro seguranças de Paulo César Farias.

O promotor de Alagoas – Marcos Mousinho – acusa os ex-funcionários de negligência.

“A imputação que o MP sustenta e sustentou em plenário é de que os seguranças tinham a obrigação de impedir a morte daquelas pessoas que eles são garante de vida. Como eles não impediram a morte de PC Farias, eles respondem isso, de acordo com a legislação, como aqueles que tivessem matado PC Farias. É da mesma forma. É uma omissão que se equivale a uma ação”, entende o promotor.

O inquérito foi encerrado em 1999 e o Ministério Público denunciou Adeildo dos Santos, Reinaldo Correia, Josemar dos Santos e José Geraldo. Em 2011, o STF negou o último recurso da defesa dos ex-funcionários de PC Farias, que foram a júri popular.

No julgamento, os quatro réus conseguiram a absolvição. A justiça não apontou o autor do crime, mas confirmou a tese de duplo assassinato.

O advogado da família Farias e dos seguranças, José Fragoso Cavalcanti, avalia que as provas sobre crime passional são contundentes. “Eu não tenho nenhuma dúvida de que o caso está concluíudo. Os jurados reconheceram. A tese da defesa foi de que a Suzana matou o Paulo César e em seguida suicidou-se, e as provas dos autos são exuberantes nesse sentido”, entende Fragoso.

Nas palavras do promotor Marcos Mousinho, que tenta reabrir o caso, uma quase certeza: “Eu acho que isso não vai levar em nada. Ele vai recursar ainda (contra o pedido de reabertura do caso) ao STJ e STF. E isso leva anos. Possivelmente eu não esteja nem mais atuando no Ministério Público, já esteja aposentado quando isso vier. A minha esperança é muito pequena que ainda haja uma punição para esse crime”, lamenta Mousinho.

Versões de um lado e do outro – a morte de Paulo César Farias é até hoje um mistério e um capítulo a parte na história da República das Alagoas.

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