Dilma sai pela porta da frente do Planalto e diz a simpatizantes: “vivemos uma hora trágica de nosso País”
Dilma Rousseff deixou nesta quinta-feira (12) o Palácio do Planalto pela porta da frente, pela entrada principal do térreo (debaixo da rampa), acompanhada por assessores e ministros. Representantes de movimentos sociais, bem como militantes do PT e PCdoB também, estiveram presentes. Dilma caminhou até manifestantes que faziam ato a favor da presidente afastada em frente ao prédio oficial, separados por grades. Ovacionada por apoiadores, Dilma discursou de improviso e foi interrompida diversas vezes por gritos de apoio como “Dilma guerreira do povo brasileiro” e “fora, Temer”.
A presidente afastada cumprimentou apoiadores próximos à grade, deve entrar em em instantes em seu carro de uso diário e sair em comboio em direção ao Palácio da Alvorada. O Alvorada é a residência oficial da Presidência, onde poderá continuar morando apesar do afastamento temporário de até 180 dias.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve presente e o tempo todo passava o lenço no rosto com uma expressão de choro. O presidente do PT, Rui Falcão e o ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho também compareceram ao ato de saída de Dilma do Palácio do Planalto, que foi precedido de um pronunciamento oficial.
Aos manifestantes, Dilma disse se disse muito feliz com o apoio recebido, mas afirmou que “a tristeza é porque vivemos uma hora trágica de nosso País”. “A jovem democracia brasileira está sendo objeto de um golpe”, afirmou aos populares. A presidente afastada repetiu que “impeachment sem crime de responsabilidade é golpe”.
“Estou sendo vítima de uma grande injustiça”, declarou Dilma. “Aqueles que não conseguiram chegar ao governo pelo voto direto do povo, aqueles que perderam as eleições tentam agora, pela força, chegar ao poder. E esse golpe está baseado em razões as mais levianas, as mais injustificáveis. Os atos (de) que me acusam são atos corriqueiros, atos que se faz todo dia”, defendeu-se a petista.
Dilma (de branco) cumprimenta manifestantes ao deixar o Palácio do Planalto (Rodrigo Freitas/Jovem Pan)
A presidente lembrou que o aceite do processo de impeachment em 2 de dezembro do ano passado, pelo então presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se deu no mesmo dia em que o PT recusou ceder votos contra a cassação de Cunha no Conselho de Ética. “Eu não sou mulher para aceitar esse tipo de chantagem”, disse, para efusão de aplausos dos simpatizantes.
Dilma afirmou ainda que “a democracia e a Constituição” e “todas as conquistas que tivemos nos últimos 13 anos” estão em jogo. “O programa quando fui eleita é um programa que garante as conquistas sociais. Hoje o que eles estão tentando é acabar ou reduzir as políticas oficiais”.
A presidente Dilma Rousseff recebeu na manhã desta quinta-feira (12) a notificação sobre a decisão do Congresso a respeito do seu afastamento. Coube ao primeiro-secretário do Senado, Vicentinho Alves (PR-TO) a missão de notificar a petista e, em seguida, o vice-presidente Michel Temer, no Palácio do Jaburu.
Discurso interno
Dilma disse pouco antes a apoiadores dentro do Palácio do Planalto que cumpriu a lei e não há motivo para o processo de impeachment. Ela garantiu que vai continuar lutando até o fim. A presidente afastada embargou a voz ao lembrar da tortura e da doença que já enfrentou e afirmou que agora sofre a “dor da injustiça”. “Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes”, declarou Dilma Rousseff. “Não existe injustiça mais devastadora que condenar um inocente”, disse também, ao classificar o processo de impeachment como “farsa jurídica”.
Dilma disse que deu o pronunciamento à nação para “esclarecer os fatos e denunciar os riscos para o País de um impeachment fraudulento, um verdadeiro golpe”. Ela avaliou que conquistas sociais como acesso maior à universidade e programas de assistencialismo de seu governo e do antecessor, Lula, “estão em jogo”.
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Ritual da saída
A ideia anterior era de que Dilma descesse a rampa do Planalto, no entanto, ela foi aconselhada pelo ex-presidente Lula a não dar um caráter de “fim de Governo” para o dia em que deixou o gabinete presidencial. Dilma, ao contrário, quis passar a ideia de que a nova gestão, a cargo de Michel Temer, é ilegítima.
Lula cumprimenta militantes e simpatizantes a favor de Dilma em frente ao Palácio do Planalto (Ed Ferreira/Estadão Conteúdo)
Anteriormente, Dilma havia combinado com João Pedro Stédile, líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que faria o percurso de cerca de 5 km caminhando, mas não considerou esta a melhor opção devido ao número de pessoas que poderiam comparecer ao ato.
Mais cedo, Dilma deixou o Alvorada rumo ao Planalto e recebeu apoio de parlamentares aliados antes de ser notificada pelo primeiro-secretário do Senado.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) chegou ao Planalto afirmando que não irá reconhecer o Governo Temer. “Temer é ilegítimo”, disse. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) reafirmou a tese de que o processo de impeachment é um “golpe parlamentar” e que não seria eleito democraticamente se apresentasse suas pautas. “A agenda deles [Temer] não teve aprovação das urnas”, ressaltou.
Resultado no Senado
Acabou na manhã desta quinta-feira (12) a votação do Senado Federal que optou pelo afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República, por 55 a 22 votos (e apenas uma abstenção, de Renan Calheiros). Com o processo instaurado, começa agora uma contagem regressiva de 180 dias (até 9 de novembro) para o julgamento do impeachment da petista, que será presidido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. Caso seja condenada, Dilma, além de perder o cargo, ficará inelegível por oito anos.
O julgamento virá novamente dos votos dos senadores. Se dois terços dos parlamentares (54 senadores) entenderem que Dilma é culpada por crime de responsabilidade, a petista é afastada definitivamente da Presidência e Michel Temer conclui seu mandato até 31 de dezembro de 2018. Se absolvida, Dilma Rousseff retoma a cadeira presidencial.
A sessão no Senado durou incríveis 20 horas. Manifestaram-se, no total, 73 parlamentares, incluindo o Advogado Geral da União, José Eduardo Cardozo, e o relator do processo, Antonio Anastasia. Os discursos começaram às 10h de quarta-feira (11) e se encerraram apenas às 7h de quinta.
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