Dilma: vivemos um golpe de Estado diferente do que aconteceu na Turquia

  • Por Estadão Conteúdo
  • 18/07/2016 17h24
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Brasília - DF, 20/06/2016. Presidenta Dilma Rousseff durante entrevista para o Jornal El-País no Palácio da Alvorada. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR Roberto Stuckert Filho/PR/Fotos Públicas Dilma Rousseff

A presidente afastada Dilma Rousseff voltou a defender seu mandato durante evento na Universidade Federal de São Bernardo do Campo, cidade do Grande ABC Paulista, e a classificar de golpe o seu afastamento da Presidência da República. Diante de uma plateia com quase 500 pessoas, formada em sua maioria por professores, alunos da universidade, presidentes de associações e sindicatos ligados ao ramo da Educação, Dilma iniciou seu discurso reforçando que o motivo do evento era discutir a democracia que permitiu ao Brasil a construção de uma política educacional, de ciência, tecnologia e inovação.

“Estamos aqui discutindo a democracia que permitiu no Brasil, com seus erros e acertos, a construção da política educacional, de ciência e tecnologia, e inovação”, disse. Ela fez questão de dizer que o Brasil vive um golpe de Estado, mas diferente do que aconteceu na Turquia. “Eu acredito que estamos vivendo um golpe de Estado diferente do que aconteceu na Turquia, que vive na região um problema de guerra. A Turquia sofreu um golpe tipicamente militar. É preciso que a gente raciocine sobre as diferenças entre nós e o golpe lá porque um dos maiores argumentos dos golpistas é que nós não vivemos um golpe porque não há armas e não existem tanques nas ruas”, disse Dilma. 

Na Turquia, de acordo com ela, há a tentativa de tirar o governo e, necessariamente, acabar com o regime democrático. “Nós vivemos um outro momento. Aqui no Brasil nós temos uma outra circunstância. Nós temos o golpe parlamentar, que alguns chamam de golpe frio, e outros de golpe institucional. Mas se no golpe militar você tem o machado derrubando a árvore da democracia, no golpe parlamentar você tem as parasitas atacando a árvore. Isso é muito grave”, comparou a presidente afastada.

Para Dilma, no Brasil o “golpe” visa a assegurar “uma pauta que não foi e não será aprovada sem que passe pelo crivo do voto popular”, disse. Ela ainda acrescentou que, diante da crise, o governo tem um conflito distributivo, de definir para onde vai o dinheiro. Segundo Dilma, é uma “temeridade” achar que o dinheiro garantido para a população ou que políticas feitas são intocáveis.

Segundo Dilma, a disputa sobre o dinheiro público se dá em relação à ação do Estado como um processo de garantia de direitos individuais e coletivos como interferência na ordem econômica. Ainda de acordo com ela, por trás do “golpe” no Brasil há uma ambição muito forte pelo parlamentarismo.

Dilma voltou a se defender das acusações de ter cometido crime de responsabilidade. “Isso já está ficando chato porque não só o Senado, como a comissão de perícia que a Comissão do Impeachment nomeou, diz que não há crime de responsabilidade. E na semana passada o Ministério Público Federal disse que não se caracteriza irregularidade em pedaladas. Se for, todos os presidentes anteriores a mim serão responsabilizados”, disse.

Dilma voltou a dizer que no Orçamento Público do governo interino de Michel Temer não há previsão de crescimento nos gastos com Saúde e Educação. Ela criticou o que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, enumerou de planos A, B e C para a solução do problema fiscal. De acordo com ela, os planos do governo visam a cortar gastos, privatizar, mas não deixa claro de onde virá o aumento de arrecadação porque não fala que terá de aumentar impostos.

Inflação, juros e câmbio

Dilma disse ainda que, caso volte à Presidência da República, seu governo irá tratar da relação entre inflação, juros altos e taxa de câmbio. Ela não detalhou como pretende fazer isso. Apenas disse que “temos que tratar a relação no Brasil entre inflação, taxa de juro e taxa de câmbio. Temos que tratar essa tríade porque em 2013 reduzimos a taxa de juros a seu menor valor em toda a historia do Brasil e não conseguimos manter”.

O menor patamar da taxa Selic foi registrado entre o final de 2012 e o início de 2013, quando o governo Dilma, por meio do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), reduziu os juros a 7,25% ao ano. A medida foi duramente criticada pelo mercado que viu na decisão uma porta de entrada para o galope inflacionário.

“Eu posso explicar em algum momento no futuro por que é difícil manter a taxa de juros nesse patamar e a redução dos spreads bancários sem haver, por parte da população, uma compreensão e um processo de desindexação”, disse Dilma. Ela reconheceu que depois de ter reduzido a Selic a seu menor patamar histórico, gerou-se no País uma “profunda” pressão inflacionária. “Não é possível a queda da taxa de juros com a inflação elevada. Nós vamos ter que encarar as duas coisas”, disse.

No entanto, ela refutou a tese de que a inflação no País resulta da decisão do governo de indexar o salário mínimo à variação do PIB de dois anos atrás e à inflação do ano anterior.

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