Dois em cada três brasileiros apoiariam intervenção na Segurança do Estado
Nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a taxa de apoio a uma eventual intervenção é de 80%, 72% e 71%, respectivamente – acima da média nacional de 64%. No Sudeste, a taxa é de 63%. Apenas na Região Sul a população se divide: 47% a favor e 46% contra. O governo federal não planeja intervir em outros Estados A inclusão da pergunta na pesquisa serve para verificar a percepção sobre o tema.
O apoio generalizado a uma eventual ação intervencionista na maioria das regiões tem diversas explicações, segundo Danilo Cersosimo, diretor do Ipsos. Primeiro, a criminalidade é um problema nacional, e seus efeitos influenciam o cotidiano de parcela significativa da população. “Quando perguntamos quais são os principais problemas da população, a violência aparece em terceiro ou quarto lugar, atrás de saúde e desemprego, e às vezes de corrupção.”
Em segundo lugar, diz Cersosimo, há o entendimento de que intervenção seria “o Exército nas ruas fazendo o papel que a polícia não consegue cumprir”. “Tivemos muitas notícias no País de guerra de quadrilhas, crise de presídios, chacinas, o que reforça a ideia de que o Estado é omisso e ineficiente em relação à segurança. Outras pesquisas mostram que o Exército goza de confiança relativamente alta em relação a outras instituições.”
Para o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o resultado era esperado. “O que as pessoas estão fazendo é dar um grito de desespero. Acham que alguma coisa que venha de fora pode resolver o problema, ainda que não saibam exatamente o que é.”
Já o pesquisador Ivênio Hermes, do Observatório da Violência do Rio Grande do Norte, o apoio à medida, por ora, é sentimental. “Há duas reações: a da realidade e a sentimental. A da realidade precisa de aferição estatística, com estudos anteriores e posteriores à ação para saber se os efeitos perduram. Como esse tipo de verificação ainda não pode ser feito, é natural a reação sentimental, do que é visível.”
Rio
Em relação à intervenção no Rio, o maior porcentual de apoio se concentra no Norte e no Nordeste (83% em ambas regiões). No Sudeste, a taxa é de 72%, ligeiramente abaixo da média nacional, de 75%. No Sul, a medida tem menos aceitação, mas ainda assim o apoio é amplamente majoritário: 67%.
“Houve muita exposição de cenas de violência e criminalidade no carnaval, e a intervenção foi anunciada pouco depois”, disse Cersosimo. “Isso contribuiu para a alta aprovação.”
Para 58%, a intervenção tende a resolver o problema da segurança no Rio. Outros 30% acham o contrário, e 14% não responderam. A pesquisa foi feita antes da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL).
O Ipsos também perguntou quem mais teria a ganhar com a intervenção, apresentando uma lista com opções. Em primeiro lugar ficou o item “o cidadão do Rio”, com 33%. Depois aparecem “o presidente Michel Temer” (18%) e “os mais pobres” (15%). O eventual benefício a Temer ainda não apareceu, ao menos em termos de popularidade. A mesma pesquisa Ipsos, feita duas semanas após o anúncio da intervenção, mostra que a desaprovação a Temer oscilou de 93% para 94%, e que a aprovação se manteve em 4%.
Quando a pergunta se referiu a quem mais perde com a intervenção, 53% responderam que é “o crime organizado”, seguido por “os mais pobres” (13%).
O levantamento revelou alto nível de desinformação sobre a criação do Ministério da Segurança Pública: 46% das pessoas não ouviram falar do assunto.
Nordeste
Moradora do Jardim São Paulo, um dos bairros mais violentos da capital de Pernambuco, Recife, a zeladora Veridiana Xavier, de 38 anos, vive assustada. Mãe de três filhas, ela já foi assaltada quatro vezes nos últimos seis meses. Cansada da violência, Veridiana acredita que a presença das Forças Armadas nas ruas traria benefícios para a população.
“A polícia não dá conta dos bandidos há muito tempo por aqui. Não tem horário nem lugar seguro. Eu e minhas filhas vivemos com medo, não saímos mais nem para a igreja. Eu realmente acho que, se os soldados do Exército fossem para as ruas, as coisas iam melhorar.”
Em Fortaleza, no Ceará, a sensação de insegurança é semelhante, diante de uma onda de medo desencadeada por chacinas e ataques em série a coletivos e prédios públicos organizados por facções criminosas. Morador da capital, Celso Gondim, de 48 anos, que cursa Educação Física, defende a intervenção por acreditar que a violência fugiu do controle.
Há dez dias, Gondim presenciou a execução de um homem na esquina da rua onde mora. Além disso, a chacina de Benfica – em que sete pessoas foram assassinadas -, aconteceu perto de sua casa. “A violência está cada vez mais perto, não apenas na periferia ou nas favelas”, diz.
Para ele, a intervenção poderia ajudar. “Nem a Polícia Civil nem a Militar tem treinamento, armamento e logística para enfrentar o crime organizado.”
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