Doria admite possibilidade de disputar governo do Estado em 2018

  • Por Estadão Conteúdo
  • 09/04/2017 09h26
Reprodução/Facebook Alckmin Doria

Próximo dos cem dias de governo, que se completam nesta segunda-feira, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), admitiu ao jornal O Estado de S. Paulo pela primeira vez que pode deixar o cargo para se candidatar ao governo estadual. Isso caso haja um pedido do governador Geraldo Alckmin (PSDB), ao qual reforça a fidelidade sempre que confrontado com a possibilidade de uma candidatura a presidente.

Em entrevista para falar dos primeiros dias à frente da Prefeitura da mais importante cidade do País, Doria se mostra no controle de tudo o que ocorre em sua volta e “acelera” ao destacar números e ações como gestor. Sem parar um minuto, compartilha parte da conversa pelo Instagram e admite que o uso das redes sociais já é uma de suas marcas, amplamente copiada.

Dentro do PSDB, há um desconforto entre aliados do governador Geraldo Alckmin sobre uma possível aproximação sua com o senador Aécio Neves para ser candidato a presidente. Tem acontecido?

Nenhum desconforto. O que tenho feito é administrar a cidade e com boa margem de êxito. Uma pesquisa pública (Instituto Paraná) indica 70% de índice de aprovação, a maior marca da história para os três primeiros meses de um prefeito em São Paulo e mesmo de fora.

Há uma onda para levá-lo a disputar a Presidência?

Existe, mas não é nem provocada nem alimentada por nós.

Se o nome do senhor surgir de forma competitiva em alguma pesquisa de intenção de voto para presidente, ano que vem, e houver uma pressão do PSDB, pensaria nesta hipótese?

O melhor que posso dar para a democracia brasileira é ser um bom prefeito da cidade de São Paulo, e é o que tenho feito. Meu candidato para a Presidência da República é o Geraldo Alckmin. Já reafirmei isso diversas vezes.

O senhor acha que isso está colando? As pessoas acreditam nisso?

Eu acredito. Não tenho a capacidade de mover as pessoas, mas tenho a capacidade de ser leal e falar a verdade: Geraldo Alckmin é o meu candidato à Presidência da República.

E se ele pedir para o senhor ser candidato a governador?

Bom, se ele pedir, mais adiante ou no futuro, vamos analisar essa situação. Hoje ela não existe, não houve apelo. Eu nem sequer trato desse assunto com o governador, que sabe da minha lealdade. Aliás, um dos valores que preservo é a lealdade.

Seria desleal com o Alckmin então ser candidato em 2018?

Nas (atuais) circunstâncias, sim.

O senhor então deixa aberta a possibilidade de ser candidato ao governo, caso Alckmin peça?

Com o Geraldo tenho uma relação de dever, de amizade, de confiança, que será preservado sempre.

Se não pensa na candidatura presidencial, por que então rebate comentários de Ciro Gomes ou Fernando Henrique Cardoso sobre a possibilidade de uma candidatura nacional?

Faço de forma bem-humorada, gosto desse embate político.

Por que falar tanto do Lula então? Parece uma obsessão?

Adoro eles e eles me adoram.

O senhor tem dito reiteradas vezes que vai “prefeitar” quatro anos, mas tem feito, ao mesmo tempo, um discurso nacional e sempre crítico ao Lula e ao PT, evocando o antipetismo. Por que manter isso, com Bandeira e Hino Nacional cantado pela Fafá de Belém, se não é candidato?

Não precisa excluir a Bandeira do Brasil para ser municipalista e defender os temas de São Paulo. Cantar o Hino Nacional também não evoca antagonismo ao Lula e ao PT. E o meu discurso é o mesmo que usei durante a campanha. Não mudei, apesar de não estar em campanha. Mas o meu discurso antipetista vai prosseguir. Preservo a figura do Fernando Haddad (ex-prefeito de São Paulo) porque reconheço nele uma boa pessoa, um fato raríssimo dentro do PT. Ele é honesto, mas não poupo o PT nem vou poupar.

O senhor foi eleito com a bandeira de levar para o setor público a eficiência do setor privado. Após cem dias, o que o surpreendeu positivamente e negativamente em relação ao modo de operação da administração pública?

Positivamente, a reação do funcionalismo, muito superior à minha expectativa. A linha auxiliar do governo é o funcionalismo público. Temos bons secretários, bons dirigentes, montamos uma boa estrutura de governo. Sobre o aspecto negativo, nenhum que eu já não soubesse, que não tivesse previsto. Tem os “istas”, como eu brinco. Sempre tem os especialistas, os petistas e outros “istas” que sempre dão opinião contrária, mas isso faz parte, entendo com naturalidade dentro do espírito democrático.

Falando em funcionalismo, o senhor já declarou ser favorável à reforma previdenciária. Recentemente, o presidente Michel Temer retirou os servidores da lista de trabalhadores que serão afetados com as novas normas, repassando essa função aos Estados e municípios. Existe um projeto de lei em trâmite na Câmara que estabelece teto e aposentadoria complementar para o funcionalismo municipal. O senhor é favorável?

Vamos tomar como referência o que o governo do Estado já vem estabelecendo, bem dentro dessa linha. Talvez não haja necessidade de se aprovar o que está na Câmara. Um grupo de trabalho estuda esse assunto.

O senhor anunciou ter cumprido ao menos duas promessas de campanha: aumentar a velocidade das Marginais e zerar a fila de exames médicos. Por outro lado, há compromissos assumidos pelo senhor na eleição que não têm sido alvo de anúncios até agora, como a contratação de 800 médicos, a construção de corredores de ônibus modernos e ampliação do ensino em tempo integral. Essas promessas nem sequer foram para o plano de metas. Por quê?

As metas são para quatro anos, não cem dias. A contratação de médicos, o ensino integral e o corredores serão feitos. Não houve desistência. A contratação de médicos, que faz parte do projeto prioritário de saúde, provavelmente ocorrerá no ano que vem. Neste ano não temos condições de contratar, face ao déficit que herdamos, que foi muito grande. Mas nada impede que façamos o ano que vem. Ensino integral também é meta e vamos fazer, mas precisa de recursos também. Não dá para fazer apenas por deliberação, aumenta o custo. Os corredores vamos fazer dentro de um programa ostensivo de privatização. Mas quero lembrar aqui vários programas que foram feitos dentro desses cem dias. O programa de zeladoria urbana era uma meta nossa, muito clara, quando dizíamos que a cidade estava maltratada, malcuidada e abandonada. O programa Cidade Linda já realizou 15 operações. É um êxito: mais de 450 toneladas de lixo recolhidas, mais de 2,5 mil árvores podadas, mil plantadas, 4 km de asfalto reposto em buracos e uma adesão da população. Também prometemos que faríamos mutirões de calçadas e fizemos (neste ponto, o prefeito ainda se alonga para falar dos novos banheiros públicos, na ‘nota do milhão’ e dos avanços Saúde).

Nada deu errado nesses cem dias?

Diria que nós subestimamos um pouco a força dos pichadores, articulados com os grafiteiros. Subestimamos essa relação de muita pressão que os pichadores exercem sobre os grafiteiros, até porque os grafiteiros foram no passado pichadores, então eles têm ainda uma relação de amizade e os pichadores intimidam os grafiteiros e os ameaçam constantemente. Levamos cinco semanas para reverter esse processo, aí foi um aprendizado.

Em relação aos patrocínios, às doações, houve uma certa polêmica sobre a forma dos pedidos, se não foram atropelados os processos. Alguns anúncios foram feitos antes de se lançar os chamamentos públicos.

Nós respeitamos, apenas aceleramos os processos e iniciamos um novo paradigma. Isso nunca foi feito. Nunca houve solicitações ao setor privado como São Paulo agora tem feito. Nós já superamos a casa dos R$ 270 milhões de recursos privados investidos na Prefeitura, de medicamentos a automóveis, de motos a tinta, material de construção, árvores, roupas, calçados, material de higiene, até alimentos e água mineral. O que nós fizemos foi um novo paradigma. Não rompemos nenhuma lei, apenas agimos com velocidade nesse sentido e vamos continuar. Quem tem R$ 7,5 bilhões de déficit não pode imaginar que vai conseguir arrumar dinheiro em árvore.

Dados da execução orçamentária mostram que até agora o senhor empenhou cerca de R$ 330 milhões em investimentos e executou de R$ 80 milhões a 100 milhões. Em contrapartida, a Prefeitura tem gasto R$ 260 milhões por mês, em média, em subsídio para manter a tarifa do ônibus congelada. Diante da situação econômica da cidade, isso não foi um equívoco?

Não, foi um acerto. Não se pode fazer política pública apenas pelo lado financeiro. Deve ser pelo lado financeiro e social. É preciso um balanço. E essa foi uma decisão amparada no plano social. Uma cidade que tem 2,2 milhões de desempregados, em um País que vive a pior recessão econômica de sua história, não há condições de impor uma alta de R$ 3,80 para R$ 4,40 (valor considerado necessário pelo setor). Não faria sentido.

E vai dar para bancar isso até o fim do ano? Não é uma decisão que afeta demais as outras áreas?

Evidentemente que afeta, mas dá para pagar, com responsabilidade fiscal. Isso é uma deliberação da Prefeitura, de ordem social. Não fui eu que criei os benefícios, as gratuidades. São Paulo é a cidade do País com o maior volume de gratuidades.

O senhor vai rever as gratuidades, pensa em reduzir?

Neste ano, não. Para o ano que vem, sim. Há excessos. Não se pode imaginar um estudante ter oito bilhetes gratuitos em um fim de semana.

A Câmara Federal aprovou um projeto que regulamenta no País o serviço de transporte por aplicativo, como o Uber. Se esse projeto virar lei, o senhor pensa em mudar as regras em vigência em São Paulo?

Não há razão para isso. As empresas estão pagando as taxas cobradas pelo Município.

O senhor atribui sua popularidade também ao modo como se relaciona com o eleitorado nas redes sociais?

Sim, é fato. A gestão se faz na prática, naquilo que você realiza, nas boas práticas para saúde, educação, mobilidade, segurança, para as atividades que compõem a Prefeitura. A comunicação também representa uma forma de prestar contas à população, seja ela sua eleitora ou não. Apenas tenho utilizado esses mecanismos, de forma presente, transparente e constante.

A população aprova o senhor porque o senhor é bom de marketing ou porque sua gestão é boa?

Pergunte para a população.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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