Doutora em política diz que corrupção “tem um peso que jamais teve” nas eleições

  • Por Jovem Pan
  • 10/10/2014 15h38
Thaís Brandão / Jovem Pan Lourdes Sola foi a convidada e comentarista do Jornal da Manhã desta sexta-feira

A entrevistada e comentarista do Jornal da Manhã desta sexta-feira foi a professora de Ciências Políticas da USP e ex-presidente da Associação Internacional de Ciências Políticas, além de doutora em Oxford e pós-doutora na Universidade de Notre Dame, Lourdes Sola.

Lourdes analisou o burburinho político que toma conta do Brasil em meio ao segundo turno das eleições presidenciais e graves denúncias de corrupção.

Para a cientista política, a onda de corrupção que está sendo acentuada pelo vazamento dos discursos de Paulo Roberto Costa à Polícia Federal “tem um peso que jamais teve”, mesmo considerando que não é o único fator determinante.

“Se você tivesse a economia bombando, a questão da corrupção poderia ficar um pouco mais atenuada”, disse Sola, citando o medo da inflação e do desemprego como argumentos de que a economia não está “bombando”, temas abordados mais profundamente na entrevista do economista Eduardo Gianetti, que foi o principal conselheiro da área na campanha de Marina Silva.

A doutora em política avalia que há uma “mudança de contexto”, tanto no campo político como econômico, e diz que “a questão é quem vai explorar mais essa mudança de contexto”.

Discurso

Para o contexto econômico gerar dividendos eleitorais, há que se haver uma mudança de discurso, de forma que se traduza de forma simples a aplicação dessas questões, analisa Sola.

“Nos últimos 12 anos, nós tivemos essa ênfase do discurso social. Os que estão competindo com esse discurso têm que mostrar com mais clareza, e conquistar espaço mostrando que igualdade social se melhora através do crescimento”, afirmou. “Você tendo abundância maior de recursos maior, dá para compatibilizar.”

“Isso tem que ser traduzido para o eleitor porque é um discurso novo, mas ainda tecnicamente qualificado”, pndera a cientista política. “Os fatos são visíveis, mas a capacidade de interpretar os fatos não é imediata”, disse. “Daí a importância não apenas do discurso, mas da propaganda.”

E para Sola, essa tradução é um dos maiores defeitos do PSDB. “Um dos déficits dos tucanos é a capacidade de comunicar, de traduzir em miúdos ao eleitor (…) a importância do crescimento, do tripé (macroeconômico), etc”, arguiu a professora em conversa com o economista Gianetti.

Doloroso

Voltando à questão política, Sola disse que o escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras, investigado pela polícia na Operação Lava Jato, é um dos mais graves que ela já presenciou em seus quase 50 anos de profissão como cientista política. “É totalmente inédito, mas é muito doloroso”, lamentou. “Isso é devastador para democracia”.

“Se você pensar que em meados de 1990 já aparecia uma áurea de anti-corrupção, de justiça, de igualidade, etc, não há nada mais desvastador da fé das pessoas e da confiança que algo desse tipo”, lamentou.

Para Sola, um reflexo disso se mostra em alguns candidatos escolhidos a deputado federal. “Os grandes (deputados) vencedores não são pessoas que exatamente revelam uma identificação com a causa pública”.

Financiamento

Sobre a questão do financiamento privado de campanhas, que o âncora Joseval Peixoto chama de “investimento” das grandes corporações em busca de retorno futuro, a ex-presidente da Associação Internacional de Ciências Políticas lembra que “isso é um problema universal”.

É por meio dele que “o poder econômico se mostra, ou se defende, ou ataca” e “não há mecanismos de controle”, considerou. “Os que poderiam ajudar a construir mecanismos de controle não só se ausentaram como foram cúmplices numa escala inédita.”

Sola, mesmo assim, se diz uma “otimista nata” e avalia que muitas coisas mudaram nesse contexto.

O contexto para a reforma política, entretanto, mudou e perdeu-se a chance de efetivá-la durante as manifestações de junho de 2013, avaliou.

Na conversa final do Jornal da Manhã, Sola congratulou a paquistanesa Malala Yousafzai, que venceu o Nobel da Paz.

Paulistana do Brás, corintiana, Lourdes revela que José Serra, Rubens Ricupero, Zizi Possi, “erámos todos vizinhos e assistíamos à missa na igreja São Jesus do Brás”, na zona leste de São Paulo.

Ela ainda revela que, de seus livros publicados, o favorito é o que foi feito a partir de sua tese de doutorado: “Ideias econômicas, decisões políticas” (EdUSP), sobre o período de instabilidade e populismo que levou ao golpe militar de 1964.

Ouça a entrevista completa de Lourdes Sola no áudio acima.

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