Em 1ª entrevista após afastamento, Dilma critica equipe formada por Temer; veja

  • Por Jovem Pan
  • 19/05/2016 17h23
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Reprodução/The Intercept Dilma

Em sua primeira entrevista após ser afastada, a presidente Dilma Rousseff mostrou-se “mais firme, combativa e determinada do que nunca”. Essas foram as palavras usadas pelo jornalista Glenn Greenwald, do “The Intercept”, que conversou com a petista nesta terça-feira (17).

Na entrevista divulgada nesta quinta-feira (18), a presidente Dilma voltou a falar sobre o o processo de impeachment, se disse injustiçada e criticou o líder do “golpe”, Eduardo Cunha.

Dilma foi questionada pelo motivo de ter Cunha e Michel Temer como aliados tão próximos. A petista defendeu as alianças. “Quanto maior a base de alianças, menos política e ideologicamente alinhada. Então, você passa a ter de construir alianças muito amplas. Este é um processo extremamente complexo. Além disso, tem outra característica. Esse golpe, ele tem um líder. O líder não é o presidente interino, o líder é o presidente da Câmara [Eduardo Cunha], que foi agora afastado. Um pouco atrasado, mas antes tarde do que nunca, como eu disse. Este líder, eminentemente, representa um setor conservador, extremamente conservador”, declarou.

A presidente afastada criticou ainda a equipe ministerial do presidente interino Michel Temer, ao que ela classificou como “ilegítimo”.

“O que está me parecendo é que este Governo interino e ilegítimo, ele será um Governo bastante conservador em todos os seus aspectos. Um deles é o fato de que ele é um Governo de homens brancos, sem negros, num país que o último senso, o senso de 2010, teve uma declaração que eu acho muito importante, que foi que mais de 50% se declarou de origem afrodescendente. Bom, não ter uma mulher e não ter negros no Governo, eu acho que mostra um certo descuidado com que País que você está governando”.

Pedaladas Fiscais

Questionada sobre as pedaladas fiscais, foco da denúncia que pede seu impedimento, A presidente afastada reafirmou que não cometeu crime. “Não são um crime de responsabilidade como não são um crime contra o orçamento, nem nada. Não são crime”.

Luta contra o impeachment e injustiça

Assim como em entrevistas e pronunciamentos anteriores, Dilma Rousseff reafirmou que continuará lutando. “Estou lutando até o fim”.

“No dia que eu saí da condição de Presidente operacional, porque eu sou a Presidente efetiva do Brasil, e a legítima. Eu acho que afeta no seguinte sentido: porque é uma injustiça. Talvez a coisa mais difícil pra uma pessoa suportar além da dor, da doença e da tortura, seja a injustiça. Por quê? Porque você fica como se estivesse preso numa armadilha. É claro que eles passaram, durante um tempo – eles falaram que eu era uma pessoa, uma mulher, eu acho que eles supuseram que eu podia renunciar”, disse.

Dilma criticou ainda aqueles que querem sua renúncia. “Minha presença é incômoda. Como eu não tenho conta no exterior, já me viraram dos lados avessos, eu nunca recebi propina, eu não aceito conviver com a corrupção”.

Operação Lava Jato

Dilma Rousseff afirmou que pode existir a ameaça da Operação que investiga os escândalos de corrupção na Petrobras seja “enterrada” após a sua saída.

“Eu acho que essa pode ser uma ameaça, mas eu acredito também que nesse processo da Lava Jato tem muitos atores. Então, eu não acho que seja algo trivial enterrar a Lava Jato”, disse.

Ao citar o senador Aécio Neves, que teve sua investigação no âmbito da operação suspensa pelo ministro Gilmar Mendes, a petista defendeu que no Brasil não se tenha “dois pesos e duas medidas”. “Quando se investigar, que se investiguem todos. Ninguém pode ser poupado da investigação”, completou.

Fim da democracia?

Dado o decorrer do processo de impeachment no Senado Federal, a presidente negou que a democracia tenha chegado ao fim, mesmo defendendo que o processo contra si é “golpe”.

“Por que eu não diria que chegou ao fim da democracia? Porque hoje, as instituições, elas podem até ter abalos, mas elas são mais sólidas do que se imagina. Eu temo hoje, por que o que acontece com um governo ilegítimo? Um governo ilegítimo, ele tenta recobrir, sobre o manto de uma pseudo-ordem, o impedimento da manifestação, do direito de expressão e, sobretudo, mostra, eu acho, um grande apetite por cortar programas sociais”, explicou.

Reação das ruas

Diante de um Governo que vê como “ilegítimo”, Dilma defendeu a luta e os protestos. “Eu acho que o que tem que se fazer aqui no Brasil é lutar contra, protestar e, inclusive, eu acho, exercer uma pressão sobre os congressistas, uma pressão sobre todas as áreas sociais”.

(Manifestação contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff na Praia de Copacabana. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Apoio do PT

O jornalista norte-americano trouxe à tona que a chefe de Estado afastada perdeu parte de seu apoio na bancada petista. Dilma negou: “eu não acho que a base do meu partido me abandonou”.

“Eu tenho visto pelo contrário, eu tenho visto um grande apoio pela base do meu partido, pela base progressista no Brasil. Acho que um dos resultados desse processo foi uma grande reaglutinação”, finalizou.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

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