Em CPI, ex-diretor se diz arrependido e culpa “maus políticos” por corrupção na Petrobras
Em depoimento na CPI da Petrobras realizada nesta terça-feira (05), o ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa disse estar arrependido pelos atos ilícitos que cometeu na empresa.
Costa isentou a Petrobras de responsabilidade pelo esquema de desvio de dinheiro e pagamento de propina. “Nada disso teria acontecido se não fossem alguns maus políticos. A origem do que aconteceu na Petrobras foram maus políticos, que fizeram tudo isso acontecer”, disse.
Segundo ele, em seus últimos sete anos de trabalho na empresa que passou a ter contato e envolvimento com políticos, o que o fez ser nomeado como diretor. “Não se chega à diretoria da Petrobras sem apoio poítico. Tive a infelicidade de aceitar apoio político para chegar lá e me arrependo”, lamentou.
“Relacionamento com políticos”
“Quem teve relacionamento impróprio com o senhor?”, perguntou o deputado Ivan Valente (Psol-SP), deixando claro que “relacionamento impróprio” significava recebimento de dinheiro ilícito para campanhas.
O deputado leu os nomes dos 52 políticos investigados em inquéritos abertos pelo Ministério Público Federal, com autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki.
Desses, Paulo Roberto Costa admitiu ter tido relações ilícitas, que implicavam em pagamento de dinheiro, com 28 políticos.
Eles sabiam
Costa disse que ele e Renato Duque sabiam do cartel na Petrobras e “erraram” ao não fazer nada a respeito.
“Origem da corrupção está em Brasília”
Segundo o ex-diretor, não foi o diretor da Petrobras quem inventou o cartel: “a origem da corrupção está em Brasília”, disse. “Vocês do Legislativo têm papel fundamental para que isso seja redimido”, completou.
Doações de campanha
Paulo Roberto Costa afirmou que doações de campanha feitas por empresas a partidos políticos não passam de uma espécie de “empréstimo”.
“Não existe doação que depois a empresa não queira recuperar. Isso foi dito a mim por empresários”, disse. “Várias doações oficiais vieram de propina. Está claro na operação Lava Jato”, acrescentou.
Campanha de Eduardo Campos
O ex-diretor afirmou ter repassado recursos para a campanha eleitoral do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, morto em 2014.
Costa disse que o pedido foi feito a ele por um secretário de Campos, que hoje ocupa uma vaga no Senado. “[Ele disse] que seria importante ter ajuda financeira para a campanha. Esse contato foi feito e esse recurso foi repassado para ele”, disse.
Relação com João Vaccari Neto
Paulo Roberto Costa disse que nunca esteve pessoalmente com o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. “Eu o vi uma vez em um restaurante, onde eu estava com o (doleiro Alberto) Youssef, e ele me mostrou Vaccari, que estava em outra mesa”, explicou.
Em depoimentos à Justiça, Costa disse que propinas pagas por empresas contratadas pela Petrobras eram repassadas ao PT por intermédio de Vaccari – acusação reforçada nos depoimentos de Youssef.
E-mail para Dilma Rousseff em 2009
Costa admitiu ter enviado um e-mail à Dilma Rousseff em 2009, quando era ministra-chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobras.
O e-mail, segundo ele, alertava-a para o risco de paralisação de obras da estatal. Ele afirmou ainda que o e-mail não tinha relação com o esquema de desvio de dinheiro.
Na mensagem, Costa alertava Dilma de que o Tribunal de Contas da União (TCU) pretendia paralisar três obras da Petrobras por ter encontrado irregularidades.
Propinas
Segundo Paulo Roberto Costa, a propina paga por empresas a diretores, operadores e partidos políticos saía da margem de lucro das contratadas.
“Se a empresa achava que, para ela, era confortável ganhar 12%, ela acrescentava 3% de propina dentro da margem de lucro”, disse. Costa atribuiu o sucesso do esquema à formação de cartel pelas empresas contratadas. “Se não tivesse a formação de cartel, [o sobrepreço] não existiria”, disse.
Contratos e aditivos
Costa afirmou que toda a diretoria executiva da estatal deveria ser responsabilizada por eventuais erros nas contratações ou assinaturas de aditivos com empresas vencedoras de licitação.
O “maior problema” da Petrobras
“A (Operação) Lava Jato é uma coisa repugnante, que não devia acontecer. Mas o maior problema da Petrobras, que arrebentou a Petrobras, foi o preço dos combustíveis, que o governo segurou. O rombo detectado na Lava Jato é apenas 10% desse valor. O governo manteve os preços congelados e arrebentou com a empresa”, disse.
Refinaria de Pasadena
Paulo Roberto Costa atribuiu ao Conselho de Administração da estatal a decisão de comprar a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Na época da compra, presidia o Conselho de Administração da Petrobras a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. “Na época não dava para afirmar que era um mau negócio. Comprar uma refinaria nos Estados Unidos era um bom negócio”, defendeu Costa.
*Com informações de Agência Câmara Notícias
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