Em delação, Palocci acusa Lula de interferir em fundos de pensão

  • Por Jovem Pan
  • 25/11/2018 11h20 - Atualizado em 25/11/2018 13h41
EFE Benefícios da delação do ex-ministro serão julgados esta semana

O ex-ministro Antônio Palocci relatou suposta atuação criminosa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para viabilizar o projeto de nacionalizar a indústria naval e arrecadar recursos para “quatro ou cinco” campanhas do PT à reboque da descoberta do pré-sal. Em delação premiada, Palocci citou que esse dinheiro beneficiaria a eleição de Dilma Rousseff em 2010.

Segundo a delação, Lula e Dilma teriam determinado que cinco ex-dirigentes de fundos de pensão do Branco do Brasil (Previ), da Caixa (Funcef) e da Petrobras (Petros), capitalizassem o “projeto sondas”. Essa operação resultou na criação da Sete Brasil, que viabilizava a construção de navios-sonda (que perfuram poços de petróleo) para a Petrobras.

Para explorar o pré-sal, a estatal havia anunciado em 2008 que precisaria de 40 embarcações do tipo – sendo que no mundo, existiam apenas 100. “Dentro desse investimento, tinha todo ilícito possível”, afirmou o ex-ministro à Polícia Federal. As ordens de Lula eram cumpridas e os presidentes do fundo “eram cobrados a investir sem analisar”.

Palocci e o ex-presidente petista estão presos, condenados por crimes no âmbito da Operação Lava Jato. Nesta semana, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou recurso da defesa de Lula para absolvição e anulação de processo julgado inicialmente por Sérgio Moro. Na sexta-feira (23), Lula, Dilma e Palocci viram réus por organização criminosa em obra superfaturada da Petrobras.

Polícia confirmou dados

Para confirmar as informações da colaboração premiada, a Polícia Federal reuniu dados que indicam que foram ignorados prazos, estudos técnicos detalhados e apontamentos de riscos e prejuízos. Segundo o delator, “todos” sabiam que estavam “descumprindo os critérios internos” dos fundos de pensão “e também gerando propinas ao partido”.

Palocci citou cinco ex-dirigentes, entre eles Sérgio Rosa e Ricardo Flores (Previ), Guilherme Lacerda (Funcef) e Wagner Pinheiro (Petros). O quinto citado é Luís Carlos Affonso, da Petros, cuja prisão foi determinada pela justiça na sexta, durante a 56ª fase da Lava Jato. Endereços de Pinheiro também foram alvo de buscas. A suspeita contra eles é de irregularidades em obra da Petrobras na Bahia.

Ex-chefe das pastas de Fazenda e Casa Civil, o petista ainda apontou que Lula realizou “reuniões” com os representantes de fundos, “muitas vezes em conjunto”. Isso forneceu pistas para que a PF confirmasse alguns encontros que estariam registrados em atas “oficiais”. Palocci afirmou ter alertado Lula sobre os riscos, por não serem “atas de reuniões, mas relatos de ilícitos”.

O Partido dos Trabalhadores ocupou os comandos da Previ, Funcef e Petros desde o início do governo Lula, em 2003. O papel de liderança de Palocci no esquema político alvo da Operação Lava Jato pesou na decisão da Polícia Federal em aceitar a delação. Os termos acordados foram homologados em junho pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região.

Defesas

Em nota, a Previ afirmou que o investimento em sondas foi realizado de acordo com normas regulatórias. Já a Petros informou que “não teve acesso à delação e não comenta investigações em andamento”. A Funcef não quis se manifestar.

Lula e Dilma negam todas as acusações e acusam Palocci de mentir para sair da prisão. Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins diz que a delação foi recusada pelo Ministério Público Federal e que “mente, sem apresentar prova” para “obter generosos benefícios”.

O advogado Rafael Favetti, que defende Guilherme Lacerda, informou que “reafirma a lisura dos procedimentos feitos por ele”. O ex-presidente da Previ, Sérgio Rosa, não comentou o caso. Os demais ex-dirigentes dos fundos não foram localizados.

Semiaberto

A delação de Palocci tem 18 termos de depoimento. Um segundo “pacote” de informações aguarda homologação no Supremo Tribunal Federal (STF). Na próxima quarta-feira (28), os benefícios serão julgados e o ex-ministro pode sair da prisão para cumprir pena em casa, em regime semiaberto.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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