Em nova resposta pós-manifestações, ministros de Dilma enfatizam combate à corrupção e defendem diálogo
Após reunião nesta manhã em Brasília de Dilma com o vice-presidente Michel Temer e nove ministros, dois deles discursaram no início de tarde desta segunda (16) em respostas às manifestações contra o governo de domingo.
José Eduardo Cardozo (da Justiça) e Eduardo Braga (MInas e Energia) enfatizaram novamente o caráter democrático das manifestaçõese defenderam o diálogo. Para ambos, a principal reinvidicação das ruas foi sobre a corrupção. Cardozo garantiu que até o final da semana, a presidente encaminhará proposta de punição mais dura a envolvidos com desvios, já prometida nas eleições do ano passado.
Braga, por sua vez, enfatizou a questão econômica. Ele reconheceu que o modelo brasileiro se esgotou (apesar de defendê-lo, dizendo que evitou que a crise chegasse às casas e aos empregos dos brasileiros) e reassegurou a necessidade de enfrentar o “realismo tarifário” a fim de “assegurar os fundamentos da economia para que o Brasil volte a crescer”
Questionado pela ausência da presidente Dilma, ela mesma, nos pronunciamentos pós-protestos, Cardozo garantiu que o que eles diziam era a voz da própria presidente, uma vez que fruto de “uma reunião intensa” no gabinete do Planalto.
Coinfira as principais falas e os principais temas tratados pelos ministros de Dilma:
Corrupção
“Reitero que nos próximos dias até o final da semana, Dilma irá lançar um conjunto de medidas já anunciadas na campanha eleitoral e que visam dotar o estado brasileiro de mais mecanismos para combater a impunidade”, garantiu Cardozo em relação à corrupção, que entende ser o principal clamor das manifestações.
Reforma Política
Proposta em resposta às manifestações reafiramada pelo governo foi a questão da reforma política. “O Brasil precisa refletir sobre isso para que o país possa ter um sistema político adequado ao momento que vivemos”, para garantir uma representatividade mais adequada, defendeu Cardozo, “para que situações de corrupção como essa não se repitam”.
Responder à voz da rua contra a corrupção implica, segundo o ministro, em “punir, mas significa também combater as causas da corrupção”. “É necessário, sim, que se debata a reforma política, sem preconceitos, sem dogmatismos”, defendeu.
Economia, ajustes tarifários e programas sociais
Eduardo Braga disse: “O governo com humildade tem tentado enfrentar uma grande crise econômica que bateu às nossas portas”. Ele também assumiu que o governo poderá mexer em programas sociais, que “terão de sofrer correções quando necessários no cumprimento de seus objetivos”.
O ministro de Minas e Energia garante que o governo “está vencendo” o desafio das crises hídrica e energética para garantir a “segurança energética”. “Fizemos o maior programa anti-cíclico da história do Brasil”, afirmou Braga.
Assumiu também o ministro: “nossa capacidade de subsidiar esse esforço anticíclico chegou ao limite da responsabilidade”. Como o governo não consegue mais sustentar sua política econômica, Braga falou sobre a necessidade de compartilhar o desafio “com todos, com os trabalhadores, os empresários, os políticos, com todos”.
Questionado se a presidente Dilma não poderia prever isso já durante as eleições, Braga defendeu a presidente e não viu contradições entre o discurso no processo eleitoral e as medidas econômicas de austeridade adotadas no início de 2015.
“Durante toda a campanha a presidente Dilma defendeu o modelo que nós estamos implementando no país e que está dando certo”, disse. “No entanto, nós chegamos aos limites de nossos recursos para fazê-lo”, assumiu. “Nós tínhamos a perspectiva de que o cenário seria mais favorável”, lamentou.
Braga reconheceu ainda a necessidade do País de mais obras de infraestrutura, como portos, estradas e aeroportos, e justificou o atraso em diversos projetos da própria pasta citando a “desafiadora” questão de serem aprovados por Tribunal de Conta da União e judiciário.
Por fim, ele garantiu que um melhor balanço do governo Dilma e suas promessas só poderá ser feito em 2018, ao término de seu mandato. “Dilma foi eleita por mais quatro anos e nós estamos apenas no segundo mês do mandato”, argumentou.
Piada
Um breve momento de descontração durante a entrevista coletiva representa bem a difícil situação política que o governo enfrenta. Dilma tenta lidar com o PMDB no Congresso Nacional, segunda maior sigla do legislativo, até então aliada, mas que recentemente tem tomado medidas de oposição ao Planalto e endurecido o discurso.
Após Braga, que é do PMDB, completar o discurso do petista Cardozo sobre política econômica, o segundo elogiou e fez uma piada: “Eduardo Braga complementou perfeitamente o que eu ia falar, para você ver que a harmonia aqui de PT e PMDB é total”. A pequena anedota foi recebida com sorrisos amarelos.
Trocas ministeriais
Questionado se Dilma pretende trocar alguns de seus ministros em resposta às ruas, como se especula, Cardozo garantiu que o assunto não foi tratado na reunião desta manhã.
Mas colocou seu cargo à disposição e reafirmou a liberdade da presidente em trocar membros de sua alta cúpula do governo. “Eu estou ministro, não sou ministro, e acho que isso vale para todos”, disse. “A hora em que ela achar conveniente ela subsititui um ministro (…), é um direito dela.”
Diálogo
Cardozo garantiu que “o governo está inteiramente aberto ao diálogo” e “com todos”, “pouco importa se são forças que apoiam o governo ou que são contra o governo”. Para Cardozo, as manifestações “demonstram a solidez de sua democracia”(do Brasil). Uníssono, Braga disse que Dilma governa também “para os que votaram contra e até para aqueles que não compareceram às urnas”.
O ministro da Justiça citou “lideranças políticas nacionais e lideranças sociais” e disse: “O Brasil precisa se tolerar nas suas divergências”. Na área política, Cardozo defendeu a conversa com senadores e deputados: “É fundamental que o poder executivo dialogue com o Congresso Nacional, respeitando os seus campos, mas buscando convergências”.
“O governo respeita as pessoas que não pensam como ele pensa e quer ouvi-las”, garantiu.
Perguntado de que forma se daria esse diálogo, Cardozo não deu muitos exemplos, mas citou “contatos do mundo político, com reuniões, com procura de ministros às lideranças”, ao final do que garantiu: “a ideia do diálogo não é algo retórico, é algo real e substantivo”.
Reação de Dilma
Os homens de confiança da presidente também foram questionados como foi a reação emocional da presidente frente aos protestos de domingo. Braga enfatizou de forma elogiosa o histórico de a presidente. “A presidente dilma sofreu uma prisão lutando pela democracia”.
“A presidente Dilma, mais do que qualquer um (…), tem valores democráticos muito fundados em sua formação política”, discursou. “Ela encarou as manifestações de ontem com esse sentimento”.
Cardozo, por sua vez, reafirmou a “firmeza” da presidente, cara a toda mulher brasileira em sua visão. “A presidente é muito firme, ela sabe conduzir a sua equipe dentro das orientações que levaram-na a chegar à presidência da república”, disse. “Ela é firme para enfrentar os desafios que se colocam”.
Panelaço 2
Cardozo também comentou o que achou do “panelaço” que o discurso dele e do ministro da Secretaria-Geral Miguel Rossetto deram ainda no domingo à noite. “Uma pessoa que se constrange com manifestações democráticas não é democrática”, afirmou. “As pessoas que não queriam ouvir bateram suas panelas e o que nos prejudica isso?”, questionou.
“Na ópoca da ditadura, se alguém batesse panela quando o ministro falava, ele era preso, enquadrado na lei de segurança nacional”, comparou. “Eu estaria rasgando o passado de luta do povo brasileiro se estivesse algum constrangimento em relação a isso”, concluiu.
Fotos do texto: Agência Brasil
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