Empresa de obra no Rodoanel devolvia dinheiro em espécie, diz gerente da Caixa

  • Por Jovem Pan
  • 24/08/2018 09h53
Eduardo Saraiva/A2IMG Eduardo Saraiva/A2IMG A Operação Pedra no Caminho apura fraudes no Rodoanel Norte. A operação já denunciou 14 investigados e abriu novas frentes de investigação

O gerente regional da Superintendência da Caixa Econômica Federal, Rafael Campagnucci Pereira, disse em depoimento à Operação Pedra no Caminho, em Santana, Zona Norte de São Paulo, que uma empresa ligada às obras do Rodoanel Norte embolsava valores de algumas empreiteiras, retirava e devolvia metade do dinheiro às construtoras. Campagnucci revelou que a informação foi obtida com o próprio dono de uma das empresas, a Catita Terraplanagem, durante um reunião no Caixa. As informações são do jornalista Fausto Macedo.

A Operação Pedra no Caminho apura fraudes no Rodoanel Norte. A operação já denunciou 14 investigados e abriu novas frentes de investigação.

As declarações do gerente foram prestadas em 26 de junho de 20187, no Ministério Público Federal (MPF). Campagnucci apontou que a Catita, na época, se tornou “um dos maiores devedores da Superintendência” e uma reunião foi convocada com finalidade de adimplência.

“A empresa Catita Terraplenagem possui, em dívidas entre as três agências da Caixa Econômica Federal sob a superintendência do depoente, cerca de R$ 2,5 milhões; que tiveram uma reunião com a empresa Catita Terraplenagem, com objetivo de verificar se a empresa tinha condições de renegociar suas dívidas”, contou Campagnucci.

O gerente regional ainda revelou ao MPF que esse encontro aconteceu no dia 2 de junho de 2016. Rafael também disse que, além dele mesmo, estiveram na reunião uma gestora da plataforma de Adimplência da Superintendência de Santana, um gerente geral de uma agência da Caixa e o empresário Nestor Pinheiro Santos e seus filhos Janaína Teixeira Santos e Jairo Teixeira Santos, pela Catita.

“Perceberam que a Catita Terraplenagem tinha o mesmo faturamento de dois anos atrás, do momento em que foi feita a dívida, de modo que não conseguiria pagar a renegociação”, afirmou Rafael Campagnucci.

“Neste momento, ao que pareceu até que meio a contragosto dos filhos, o senhor Nestor revela que ‘há uma situação que não sabia se poderia falar, mas que prestava serviços para as grandes construtoras OAS e Camargo Corrêa, e que tinha a combinação com eles de ter que devolver metade dos valores às construtoras’; que Nestor relatou que recebia o valor das construtoras, tinha que sacá-los e devolver metade dos valores; e que tinha que fazer os pagamentos às construtoras em espécie; que se referiu aos serviços prestados pela Catita Terraplenagem nas obras do Rodoanel Trecho Norte”, revelou o gerente aos investigadores.

Rafael confessou ao MPF que decidiu avisar o órgão sobre a reunião com os sócios da Catita depois de ouvir “notícias na imprensa sobre o Trecho Norte do Rodoanel”. Além dele, outra funcionária da Caixa, que também estava no encontro, falou à Procuradoria.

“Participou da reunião de 2 de junho de 2016, nas dependências da Superintendência de Santana, e que tal reunião lhe pareceu muito ‘estranha’, porque os dois sócios ficaram calados, pois quem conduziu a reunião pela empresa foi Nestor Pinheiro Santos”, revelou a gestora da plataforma de Adimplência do banco Tatiana Silva Prestes.

“Nestor Pinheiro Santos relatou uma situação que deixou a depoente muito surpresa e assustada: ‘que tinha que devolver metade dos valores para as construtoras para quem prestava serviço, citando a OAS e a Camargo Corrêa’, e por isso o faturamento da Catita não condizia com os documentos comprobatórios de faturamento que apresentavam; e quando deixou de receber dessas empresas o faturamento deles diminuiu; que se referiu aos serviços prestados pela Catita Terraplenagem na obra do Rodoanel Trecho Norte”, discorreu Tatiana.

Ao MPF, a gestora contou que “a empresa fez à época uma proposta para Caixa mas eles queriam pagar uma parcela de valor muito reduzido”.

Ainda de acordo com Tatiana, “os contratos da empresa continuam em execução, para tentar retomar os equipamentos que foram financiados à empresa”.

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