Empresário Adir Assad admite ter pago R$1,7 bi em propinas
O empresário Adir Assad prestou depoimento hoje (9) no inquérito da Operação Irmandade, que apura desvio milionário nas obras de Angra 3 da Eletronuclear. Ele admitiu que, sozinho, foi responsável pelo pagamento de R$1,7 bilhões em propinas, entre 2008 e 2011, por meio de contratos fictícios ou superfaturados com empreiteiras. O valor investigando nessa operação é de cerca de R$ 300 milhões.
Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Adir explicou que está preso desde 2015, por uma condenação do juiz Sérgio Moro relativa à Operação Saqueador, e que esta foi a primeira vez que resolveu falar em juízo, pois decidiu ficar calado nos dois depoimentos prestados a Moro em Curitiba.
Assad admitiu que cometeu crimes e agradeceu a oportunidade para esclarecer os fatos. Explicou que era um empresário de sucesso na área de entretenimento, sendo responsável por trazer ao Brasil shows de grandes estrelas internacionais, como Shakira, Beyoncé e U2, mas que resolveu mudar para o ramo da engenharia, sua formação profissional, para “ganhar mais dinheiro.”
“Já tínhamos um relacionamento muito bom com as empreiteiras e sabíamos como funcionava esse setor. Já chegávamos assim: tem um negócio que vai custar zero. A gente coloca uma ou duas máquinas para dar evidência de serviço, mas não houve de fato serviço, só manipulação de tudo. Fica evidente pelo valor da nota fiscal, a máquina tinha que trabalhar ininterrupta dois anos a R$100 a hora para dar esse valor. E a gente fazia quinzenal ou mensal. Eu tinha grande relacionamento com os bancos e tinha facilidade para pegar dinheiro em espécie no caixa”, explicou.
Assad explicou que era cobrado de 15% a 20% sobre o valor de cada negociação, na qual suas empresas recebiam pelo serviço não prestado, ou seja, vendendo notas fiscais, e devolviam a quantia em espécie para as construtoras, abatida a participação. “Por exemplo, eles pagavam R$ 100 mil e recebiam de volta R$ 85 mil.”
O empresário afirmou que o negócio da venda de notas começou em 2008, ao ser procurado pela Delta com essa proposta, e durou até 2011, quando foi deflagara a Operação Saqueador, na qual foi preso o contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira. Segundo Assad, Cachoeira seria um “concorrente” dos negócios com a Delta e seus contatos na empreiteira Andrade Gutierrez teriam admitido que a operação para “abafar” a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investigava o caso teria custado R$ 30 milhões.
Também prestaram depoimento hoje como investigados da Operação Irmandade os sócios de Adir Assad: seu irmão Samir Assad e Marcelo Abbud, um amigo de infância. Os três admitiram a participação nos crimes que constam na acusação e negaram ter tido qualquer contato ou contrato direto com a Eletronuclear ou dirigente da estatal que, de acordo com os três, só conheceram em Bangu, onde estão ou estiveram presos. Abbud foi preso no dia 30 de junho de 2016 e solto no dia 7 de julho do mesmo ano. Segundo eles, toda a negociação e entrega de dinheiro era feita com a Andrade Gutierrez, que repassaria para os diretores da empresa de energia e agentes públicos.
Nenhum deles soube citar nomes de diretores ou políticos que teriam recebido dinheiro do esquema, mas Adir explicou que os contratos fictícios começaram nas obras da Linha 4 do metrô de São Paulo, para repasse de propina a políticos do governo do estado, do PSDB, e que os repasses para a Eletronuclear seriam a maior parte para o PMDB e uma parte pequena para o PT.
Adir Assad e Marcelo Abbud voltam a depor na tarde de hoje ao juiz Marcelo Bretas, para falar da relação de suas empresas com a Delta Engenharia. Também está previsto o depoimento de outras nove pessoas, entre elas Carlinhos Cachoeira.
Dinheiro viajava como “lasanha”
O empresário informou que a Delta montou uma equipe com quatro funcionárias que iam a São Paulo para pegar o dinheiro. Os valores eram de até R$ 170 mil, para caber nas malas. “Duas vezes por semana iam buscar o dinheiro. Não colocava mais do que R$ 150 mil ou R$ 170 mil por mala”, disse. Ele acrescentou que as parcelas, consideradas por ele como “menores”, ocorriam nestes valores para facilitar o transporte e evitar roubos.
O transporte era feito em malas com o dinheiro arrumado entre roupas. “Elas faziam como lasanha, vai. Uma camada de roupa outra de dinheiro”, detalhou.
Segundo Assad, as empreiteiras do país começaram a ter problemas a partir da instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, em abril de 2012, para apurar o envolvimento do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, com políticos e agentes públicos. “Quando instalaram a CPMI do Carlos Ramos eles não sabiam exatamente onde ia bater isso. Quando começou a respingar nas nossas empresas, começou um alvoroço no mercado”, contou.
Assad reconheceu que o esquema em que se envolveu era ilícito e disse que se arrepende de ter participado.
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