Empresário diz que “lavou” R$ 2,7 milhões para Cabral

  • Por Estadão Conteúdo
  • 10/05/2017 17h46
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Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr Sérgio Cabral - abr

Réu por lavagem de dinheiro do esquema de corrupção liderado pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) e delator, o empresário Luiz Alexandre Igayara disse nesta quarta-feira, 10, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio, que “esquentou” a pedido dele cerca de R$ 2,7 milhões.

O dinheiro seria, segundo Cabral lhe explicou então, de sobras de campanha. Boa parte chegou em espécie, e foi lavado por meio de contratos fictícios firmados com o escritório de advocacia da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo, ele disse.

“Algumas vezes”, afirmou o empresário, os valores foram transportados pelo colaborador de Cabral Carlos Miranda, “o homem da mala de dinheiro” do esquema; noutras vezes, por carros-fortes da empresa TransExpert, que, segundo as investigações, participavam do sistema de corrupção.

As tratativas todas eram feitas com Cabral, afirmou Igayara – que o conheceu em 1994, quando ele era deputado. Os dois firmaram uma relação de “amizade e respeito”, esclareceu o empresário. “Nunca falei desses assuntos (lavagem) com ela (Adriana), em absoluto, era sempre com o governador”.

Igayara disse que o “branqueamento” do dinheiro começou em julho de 2007, sete meses depois de Cabral assumir o governo. “Nós nos encontramos num café, no Palácio (Guanabara), e ele perguntou se eu poderia legalizar uma sobra de campanha de R$ 50 mil. Ele disse ‘te dou esse recurso e vou fazer uma fatura’. Era o governador que me pedia, uma pessoa que eu admirava e respeitava Se fosse outra pessoa, eu não faria. A partir do momento em que eu concordei, o Carlos Miranda ia lá levar o dinheiro, nós recolhíamos os impostos e pagávamos.” A primeira empresa favorecida foi a Gralc, de Carlos Miranda.

Em 2012, vieram pedidos de Cabral para Igayara “esquentar” R$ 639 mil. Mais tarde, em 2014, foram feitos pagamentos que somavam R$ 1,9 milhão. Nas duas ocasiões, a lavagem foi feita via escritório de Adriana Ancelmo, contou o delator. No total, o valor “esquentado” chegaria a algo em torno de R$ 2,7 milhões. Em todas as situações, Cabral alegou serem sobras de campanha. “Eu imaginei que era um dinheiro que ele tinha guardado. Eu não entrei nesse mérito (da origem do dinheiro)”, declarou o empresário.

Igayara teve o acordo de colaboração premiada homologado por Bretas, anunciou, pouco antes do depoimento, o juiz. Após a declaração de Bretas, a defesa de Adriana Ancelmo, que vai prestar depoimento ainda nesta tarde de quarta-feira, protestou e solicitou o adiamento das duas oitivas. O juiz indeferiu o pedido.

Segundo as investigações, Igayara, um dos sócios da Rica Alimentos, participou do sistema engendrado por Cabral em seus dois mandatos (2007-2014) firmando contratos fictícios com o escritório de advocacia da ex-primeira-dama e outras firmas que participavam do esquema.

Por sua vez, Cabral, em 2014, tentou ajudá-lo a negociar a venda da Rica, que estava em dificuldades financeiras, à gigante do ramo alimentício JBS. O ex-governador alegou interesse do Estado na transação, uma vez que a empresa é do Rio e gerava muitos empregos à população. O negócio não progrediu, uma vez que não houve consenso quanto ao valor da Rica. O delator confirmou o episódio a Bretas.

Em novembro do ano passado, Igayara foi conduzido coercitivamente a depor no âmbito da operação Calicute da Polícia Federal, cujo alvo principal foi Cabral. Ele estaria agora negociando um acordo de delação premiada.

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