Entenda qual o impacto internacional do caso Dom Phillips e Bruno Pereira para a imagem do Brasil

Desaparecimento da dupla gerou mais de 18 milhões de menções nas redes sociais; à Jovem Pan, cientista político Antônio Lavareda disse que celeridade do governo em desvendar o crime deve mitigar repercussão

  • Por Valéria França
  • 16/06/2022 16h47 - Atualizado em 16/06/2022 17h58
Joao LAET / AFP Dom Phillips Polícia Federal encontrou dois corpos no local das buscas nesta quarta-feira, 15

O desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira ganhou mais repercussão internacional depois que o pescador Amarildo de Oliveira, conhecido como Pelado, confessou à Polícia Federal (PF) os assassinatos. Nesta quarta-feira, 15, as equipes de segurança encontraram dois corpos no local das buscas por Phillips e Pereira. Embora ainda não haja confirmação oficial, as autoridades acreditam que os corpos são da dupla, que desapareceu no domingo, 5, na região do Vale do Javari, uma vez que o local foi apontado por um dos suspeitos. O roteiro indica um desfecho trágico: a morte de duas pessoas que dedicaram a vida para proteger os indígenas, a natureza e o meio ambiente. À Jovem Pan, o cientista político e sociólogo Antônio Lavareda definiu o caso como “um seriado prolongado sem concorrente de audiência no momento”. “Não foi apenas o Brasil que acompanhou o desenrolar desse caso”, pontua. “Apesar de a Policia Federal ainda não ter oficialmente confirmado as mortes, depois dos últimos acontecimentos, esse desfecho trágico aumenta o envolvimento das pessoas”, disse à reportagem.

O interesse sobre o desaparecimento é global. De acordo com levantamento feito pela consultoria Quaest, mais de 18 milhões de citações sobre o caso foram feitas nas redes sociais nos últimos dez dias. A maior parte, como era de se esperar, ocorreu no Brasil (7,8 milhões). Nos Estados Unidos, houve mais de um milhão de publicações. O Reino Unido, por sua vez, registrou cerca de 500 mil menções ao episódio entre os dias 5 e 15 de junho. A imprensa e os órgãos internacionais também deram destaque ao assassinato brutal. O jornal americano The Washington Post estampou em sua manchete a confissão de Pelado: “Homem confessa ter matado jornalista e colega desaparecido, diz polícia”. O britânico The Guardian, para o qual Dom Phillips colaborava, deu destaque ao encontro dos corpos. “Dom Phillips e Bruno Pereira: Polícia brasileira encontra dois corpos em busca de desaparecidos”. O francês Le Monde e o The New York Times também divulgaram reportagens baseadas no depoimento do pescador preso.

Na avaliação de Lavareda, a magnitude e a repercussão do caso aumentam “o passivo negativo do Brasil quando o assunto é proteção indígena e do meio ambiente”. “Para que não fique pior, é preciso haver celeridade nos esclarecimentos dos fatos. O Brasil precisa dar satisfação aos familiares, a sociedade e ao mundo”, acrescenta. A cobrança do Escritório de Direitos Humanos da Organizações das Nações Unidas (ONU) corrobora o diagnóstico do cientista político ouvido pela Jovem Pan. Em nota, a porta-voz da ONU Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, exigiu, nesta quinta-feira, 16, investigações “imparciais, transparentes e exaustivas”. Ainda nesta semana, o primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson, ofereceu ajuda ao Brasil nas buscas pelos desaparecidos, o que ocasionou rumores de uma suposta pressão internacional por uma investigação paralela. “Isso é um absurdo. A Polícia Federal tem total capacidade para apurar os fatos. Uma proposta dessa seria um erro diplomático”, diz Lavareda. Apesar da pressão e das críticas ao governo Bolsonaro, acusado de agir de forma letárgica e minimizar a dimensão do caso, o especialista acredita que o chefe do Executivo federal não perde votos. “Mas fica mais difícil ganhar votos e subir nas pesquisas eleitorais”, finaliza.

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