‘Escapei da morte por um minuto’, diz sobrevivente da tragédia de Petrópolis

Morador da região do Alto da Serra, Rodrigo Kopke, de 48 anos, decidiu fumar na parte externa da casa segundos antes de seu quarto ser levado pela avalanche de lama: ‘Foi um terror, um filme de terror’

  • Por Eduardo Morgado
  • 17/02/2022 21h34 - Atualizado em 17/02/2022 21h59
Reprodução/Arquivo Pessoal Rodrigo Kopke posa para foto em Petrópolis Rodrigo Kopke detalha como se salvou de ser soterrado após deslizamento de terra em Petrópolis

As fortes chuvas que atingiram Petrópolis, cidade da Região Serrana do Rio de Janeiro, na terça-feira, 15, causaram mais de uma centena de mortos e desaparecidos. Entre tantos óbitos, houve quem conseguiu sobreviver às avalanches de lama por questão de segundos. É o caso de Rodrigo Kopke, de 48 anos, morador da rua Teresa, que teve parte da sua casa demolida pela enxurrada. O desenvolvedor de sistemas conseguiu se salvar por sair do seu quarto um minuto antes da terra atingir o cômodo em que estava. “Eu estava em casa, estou trabalhando em regime de home office. Estava pronto para deitar. Já tinha fechado a janela, ligado a TV, arrumado a cama, colocado a garrafinha de água na cabeceira e iria deitar para descansar e esperar a chuva passar. Foi quando resolvi sair para fumar. Estava tudo tremendo e comecei a escutar estalos. Achei que fossem pedras, mas era a casa. Olhei para o lado e o quarto cedeu. Em coisa de um minuto, se eu não levanto para fumar, eu tinha ido junto”, conta em entrevista à Jovem Pan.

Rodrigo está vivo, mas viu sua casa ser engolida pelo desastre da natureza. Desesperado, ele diz que, naquele momento, percebeu que vivia “um pesadelo”. O sobrevivente precisou pular muros para chegar a um local seguro. “As lajes estavam todas descendo. Tem um vizinho que mora em frente e o único jeito era arriscar e pular para o quintal dele. A água quase me levou, a enxurrada. Ali eu achava que tudo ia cair na minha cabeça. Pulei na água e fui para o quintal do vizinho. Nesse momento caíram mais quatro barreiras. Olhei para cima e tinha um bambuzal, comecei a subir. Eu e meu cunhado subimos, arrebentei alguns bambus e pulei no mato. Tive que pular em um bambuzal, depois pular duas casas e sair na rua Teresa. Foi um terror, um filme de terror”, relata, aflito, ao relembrar as cenas que viveu naquela terça.

O morador explica que a queda de lama ocorreu porque uma encosta que realizava a contenção de uma pedra, localizada no alto do morro, cedeu. Em um piscar de olhos, o lamaceiro escorreu pela rua Teresa até atingir o andar em que ele morava. Com o desastre, Rodrigo Kopke foi para a casa da noiva, localizada na rua Pedro Ivo, também em Petrópolis. No local, além do desenvolvedor de sistemas, estão outras oito pessoas. “Não consegui voltar [ao local]. Estouraram duas colunas embaixo. Uma na varanda e outra dentro do meu quarto. São três lajes e elas estão penduradas no meio do barro. Meu andar é o de baixo, minha irmã e minha sobrinha moram no andar de cima, mas eles não estavam em casa. Está praticamente condenada”, resume. À reportagem, o sobrevivente disse que está traumatizado e passou as duas últimas noites em claro. Segundo Rodrigo, assim que seus olhos fecham, as imagens da barreira cedendo e da enxurrada tomando parte de sua casa tomam conta de sua memória. “Vi a morte na minha frente, fiquei em choque, tinha tudo para não estar mais aqui neste momento”, finalizou.

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