Especial “Tancredo Neves, o homem da transição”; capítulo 1: o nascimento político do conciliador
Confira o primeiro capítulo da série especial sobre os 30 anos da morte de Tancredo Neves, preparada pelo repórter Thiago Uberreich.
Um conciliador é aquele capaz de harmonizar, pacificar, trazer a paz para as trincheiras da guerra. Na política são poucos os estadistas que conseguiram fazer do adversário um aliado e, ao mesmo tempo, atrair multidões cheias de esperança. “Não vamos nos dispersar; continuemos reunidos como nas praças públicas, com a mesma emoção e a mesma decisão”, dizia Tancredo Neves.
Moderado, franciscano, mineiro, entusiasmado por democracia e ideais de um novo Brasil. um Brasil que precisava se livrar do entulho autoritário. “Nunca em nossa história tivemos tanta gente nas ruas para reclamar a recuperação dos direitos de cidadania e manifestar o apoio a um candidato”, comemorava Tancredo.
Em 21 de abril de 1985 morria aquele que talvez melhor encarnou a esperança por um novo país. Esperança que não morreu.
“Com a mesma fé o Brasil haverá a partir de agora de realizar os ideais do líder que acaba de perder, Tancredo Neves”, disse o então secretário de Imprensa da Presidência da República, jornalista Antonio Britto, quando da morte do político.
“A esperança é o único patrimônio dos deserdados, e é a ela que recorrem as nações ao rerssurgirem dos desastres históricos”, afirmou Tancredo na convenção do PMDB, em agosto de 1984, que o indicou oficialmente candidato do partido à Presidência da República.
Início político
Tancredo de Almeida Neves nasceu em São João Del Rey em 4 de março de 1910. Advogado, entrou na política pelo Partido Progressista – em 1935, foi eleito vereador na cidade mineira.
Já nos anos 1950 no PSD, ganhou para deputado estadual e federal. Em 1954, como ministro da Justiça de Getúlio Vargas, acompanhou a crise de perto, que culminou no seu suicídio. Tancredo Neves foi surpreendido pela atitude extrema do presidente Getúlio Vargas.
31-12-1954: O presidente Getúlio Vargas (ao centro), o vice-presidente, João Café Filho (à esq.), e, o ministro da Justiça, Tancredo Neves, durante almoço ma casa do prefeito do Distrito Federal, no Rio de Janeiro (RJ). (Foto: Acervo UH/ Folhapress)
Em 1961, nova turbulência política, com a renúncia de Jânio Quadros. O vice João Goulart só assumiu depois da implementação do parlamentarismo e Tancredo Neves exerceu o cargo de primeiro ministro até 1962.
O historiador da USP Boris Fausto salienta que o modelo de governo não durou muito, mas foi costurado pelo político mineiro para evitar o golpe. “O Parlamentarismo não durou muito, por mais conciliação que houvesse. Essa marca da conciliação, da moderação, foi constante na vida dele, na história política dele”, avalia Fausto.
Modelo conciliador
O historiador da UFRJ José Murilo de Carvalho aponta que Tancredo era uma autoridade em negociar. “Era um negociador emérito; ele também não teve dúvida em defender mandato do Jânio em 1961”, considerou.
Os militares que em 1961 retornaram aos quartéis voltaram com tudo em abril de 1964 em meio a crise no governo João Goulart. O golpe estava deflagrado – começava o período das trevas no país.
25.03.1962: Tancredo Neves visita a Fortaleza de São João, no RJ. (foto: Acervo UH/Folhapress)
O deputado Tancredo Neves não votou no marechal Castelo Branco na eleição indireta para a escolha do primeiro presidente militar. “Eu fui amigo do presidente Castelo Branco, que tinha o meu respeito, a maior homenagem (…), mas não pude votar nele para a presidência da República. Eu fui o único nome do PSD que não deu seu voto ao presidente Castelo Branco”, contou Tancredo.
Como parlamentar durante a ditadura, Tancredo Neves foi um dos nomes do MDB, sigla criada ao ser instituído o bipartidarismo. De um lado estava a Arena, do governo, e do outro o Movimento Democrático Brasileiro: a oposição consentida.
O ex-presidente José Sarney resume: “Perguntaram a ele quais eram as dez virtudes de um político; ele disse: ”As sete primeiras são paciência, as três últimas você pode completar com as que quiser””.
Habilidoso, conciliador e corajoso, mas, antes de tudo, paciente.
Tancredo Neves soube esperar e se consolidou como o grande nome da volta da democracia no Brasil ao liderar o processo de abertura política.
“Vamos às ruas reunir o povo pela luta democrática, com a certeza de que nossa será a vitória.”
Reportagem especial de Thiago Uberreich em razão dos 30 anos da morte de Tancredo Neves. Confira todos os capítulos de “Tancredo Neves, o homem da transição”:
- Capítulo 1: o nascimento político do conciliador. CLIQUE AQUI.
- Capítulo 2: as Diretas e a esperança democrática. CLIQUE AQUI.
- Capítulo 3: a vitória nas indiretas e a comoção nacional na doença. CLIQUE AQUI.
- Capítulo 4: os últimos dias e a esperança de fazer uma grande nação. CLIQUE AQUI.
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