5% dos moradores de distritos mais afetados por Covid-19 em SP já têm anticorpos
Um estudo conduzido nos seis distritos com maior incidência de Covid-19 na cidade de São Paulo mostra que até o início desta semana 5,19% dos moradores dessas localidades desenvolveram anticorpos ao coronavírus. O levantamento aponta também que 91,6% dos casos de infecção estão fora das estatísticas oficiais.
A pesquisa, comandada por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com apoio do Instituto Semeia e participação de profissionais do Laboratório Fleury e Ibope Inteligência, fez exames sorológicos em 520 pessoas com mais de 18 anos nesses seis distritos, e 27 apresentaram anticorpos.
Os distritos escolhidos foram os três com maior registro de contaminação (Morumbi, Bela Vista e Jardim Paulista) e os três com maior número de óbitos (Pari, Belém e Água Rasa), segundo dados da Prefeitura. Os cientistas planejam refazer os exames pelo menos uma vez por mês.
Equipes formadas por técnicos do Fleury e pesquisadores do Ibope foram de casa em casa para coletar amostras de sangue venoso dos moradores escolhidos por critérios exclusivamente estatísticos, inclusive os que não apresentaram sintoma.
Estudos com testes sorológicos são importantes porque ajudam a avaliar se uma determinada população está próxima ou distante da chamada “imunidade de rebanho” – momento em que o vírus passa a ter poucas rotas de contágio, pois a maioria das pessoas apresenta anticorpos por já ter sido contaminada. Com isso, autoridades planejam com mais precisão estratégias de flexibilização das medidas restritivas.
Não se sabe com segurança qual é o porcentual de habitantes que precisam desenvolver anticorpos até que se atinja a imunidade de rebanho. No caso do novo coronavírus, há estimativas que variam de 70% a 90%.
O próximo levantamento, marcado para começar no dia 10 de junho, vai incluir toda a cidade. A partir dos números coletados na próxima pesquisa será possível calcular a velocidade com que a doença está se espalhando na cidade.
A pesquisa ajuda a dimensionar o alto índice de subnotificação. Segundo o levantamento, 91,6% dos casos estão fora dos números oficiais. O motivo é a falta de testes. Com poucos recursos, apenas os casos mais graves, de pessoas que chegam a ir aos hospitais, são testados e contabilizados. Os pacientes assintomáticos ou com sintomas leves dificilmente chegam a ser testados. Estima-se que, entre os infectados, 80% desenvolvam sinais leves da doença como cansaço, febre ou dor de garganta. Já a nova pesquisa fez exames sorológicos com precisão de até 99,5% em pessoas escolhidas de acordo com critérios estatísticos, desconsiderando se os examinados desenvolveram ou não sintomas da doença.
Outro número revelador é a taxa de letalidade de 0,95% do vírus, bem inferior à média nacional de 6,9% do Ministério da Saúde. O motivo da diferença, mais uma vez, são pessoas assintomáticas ou com sintomas leves.
*Com Estadão Conteúdo
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