Estudo da USP revela que cerrado brasileiro passa por seca sem precedentes nos últimos 700 anos
Aquecimento global na região tem sido mais intenso, com temperaturas acima da média global e isso tem causado um distúrbio hidrológico
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e publicado na revista Nature Communications revelou que a seca no cerrado brasileiro atingiu níveis sem precedentes nos últimos 700 anos. O aquecimento global na região central do país tem sido mais intenso, com temperaturas cerca de 1°C acima da média global de 1,5°C. Isso tem causado um distúrbio hidrológico, com a evaporação de uma parte significativa da água da chuva antes de se infiltrar no solo devido ao calor intenso próximo ao solo. Essa anomalia tem gerado mudanças no padrão de chuva, com eventos mais concentrados, e menor recarga nos aquíferos, o que pode afetar os rios tributários do rio São Francisco. O estudo, apoiado pela Fapesp e pela National Science Foundation dos Estados Unidos, analisou dados de temperatura, vazão, precipitação regional e balanço hidrológico da Estação Meteorológica de Januária, uma das mais antigas de Minas Gerais, e correlacionou com variações na composição química de estalagmites de uma caverna no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu.
Os pesquisadores conseguiram reconstituir o clima até sete séculos atrás, utilizando dados geológicos para comprovar que o cerrado está mais seco devido ao aumento da temperatura causado pela atividade humana na emissão de gases do efeito estufa. A seca atual não tem precedentes e a tendência é que piore ainda mais, de acordo com Francisco William da Cruz Junior, um dos autores do estudo. A Caverna da Onça, onde foram coletados os dados químicos das estalagmites, é um ambiente aberto e influenciado pela variação de temperatura externa, o que permitiu avaliar os efeitos da seca na química das formações rochosas. O trabalho inédito integra um projeto de pesquisa que visa reconstituir a variabilidade do clima e das mudanças climáticas durante o último milênio por meio de registros de formações rochosas em cavernas e anéis de crescimento de árvores. A inovação do estudo está em utilizar dados químicos de espeleotemas para identificar variações nos ciclos hidrológicos e associá-los às mudanças causadas pelo aumento da temperatura nos trópicos. Além disso, o grupo tem realizado estudos de paleoclima com base em árvores fósseis encontradas no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, obtendo dados independentes sobre o fenômeno da seca sem precedentes.
Publicado por Heverton Nascimento
*Reportagem produzida com auxílio de IA
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