Fabio Schvartsman fez de ‘Mariana nunca mais’ um lema de papel, diz promotor

O MP de Minas Gerais denunciou o presidente da Vale e outras 15 pessoas nesta terça-feira (21). A barragem I da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, se rompeu em 25 de janeiro de 2019 – 270 pessoas morreram na tragédia

  • Por Jovem Pan
  • 21/01/2020 18h20
Bombeiros/Minas Gerais Bombeiros de Minas Gerais ainda buscam por 11 desaparecidos Bombeiros de Minas Gerais ainda buscam por 11 desaparecidos na tragédia do rompimento da barragem de Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019

O ex-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, afastado do comando da mineradora em decorrência da tragédia de Brumadinho, chegou à companhia com a bandeira “Mariana nunca mais”, mas fez esse um “lema de papel”, disse o promotor e coordenador da força-tarefa sobre o caso de Brumadinho, Willian Garcia, em coletiva de imprensa nesta terça-feira (21).

Segundo ele, o executivo, que chegou à mineradora logo depois da queda da barragem da Samarco, uma joint venture da Vale com a BHP Billinton, e estava ciente dos riscos da atividade da empresa. Schvartsman foi denunciado por homicídio duplamente qualificado, enquanto os demais podem responder pelo crime de homicídio doloso.

Garcia disse, ainda, que Schvartsman chegou ao comando da Vale com a intenção de fazer com que a mineradora se tornasse a líder no setor, mundialmente, em valor de mercado. Por conta dessa missão, de acordo com ele, o executivo deu incentivos à executivos de que problemas que pudessem atrapalhar esse objetivo fossem ocultados. “Ele canalizou esforços para atingir esse objetivo, assumindo riscos inaceitáveis”, afirmou.

O promotor afirmou também que a Vale criou um ambiente hostil para o recebimento de denúncias. Ele citou, como exemplo, um e-mail que foi recebido pelo ex-presidente da Vale, que de forma anônima avisou que estruturas da barragem estavam “no limite”. Garcia comentou, ainda, que a Vale tentou identificar e retaliar esse “denunciante de boa fé”, ao invés investigar a barragem citada na mensagem.

Garcia disse ainda que ao menos desde novembro de 2017 se sabia sobre os riscos sobre a barragem 1 de Brumadinho, que rompeu há um ano. Tais riscos dessa barragem foram objetivo de painéis de eventos com especialistas. O promotor frisou que penas por homicídio duplamente qualificado podem ir de 12 a 30 anos de prisão.

O Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) também divulgou a lista de denunciados nesta terça. Onze indiciados e denunciados ocupavam, à época do evento criminoso, os seguintes cargos na Vale:

1. Fabio Schvartsman (diretor-presidente);

2. Silmar Magalhães Silva (diretor do Corredor Sudeste);

3. Lúcio Flavo Gallon Cavalli (diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão);

4. Joaquim Pedro de Toledo (gerente-executivo de Planejamento, Programação e Gestão do Corredor Sudeste);

5. Alexandre de Paula Campanha (gerente-executivo de Governança em Geotecnia e Fechamento de Mina);

6. Renzo Albieri Guimarães de Carvalho (gerente operacional de Geotecnia do Corredor Sudeste);

7. Marilene Christina Oliveira Lopes de Assis Araújo (gerente de Gestão de Estruturas Geotécnicas);

8. César Augusto Paulino Grandchamp (especialista técnico em Geotecnia do Corredor Sudeste);

9. Cristina Heloíza da Silva Malheiros (engenheira sênior junto à Gerência de Geotecnia Operacional);

10. Washington Pirete da Silva (engenheiro especialista da Gerência Executiva de Governança em Geotecnia e Fechamento de Mina);

11. Felipe Figueiredo Rocha (engenheiro civil, atuava na Gerência de Gestão de Estruturas Geotécnicas).

Da Tüv Süd, empresa alemã responsável pelo laudo que atestou a segurança da barragem, cinco pessoas foram indiciadas e denunciadas:

1. Chris-Peter Meier (gerente-geral da empresa);

2. Arsênio Negro Júnior (consultor técnico);

3. André Jum Yassuda (consultor técnico);

4. Makoto Namba (coordenador);

5. Marlísio Oliveira Cecílio Júnior (especialista técnico).

A barragem I da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, se rompeu no dia 25 de janeiro de 2019, matando 270 pessoas, entre moradores e funcionários da mineradora. Até o momento, 259 foram identificadas pela Polícia Civil. Os bombeiros ainda procuram por 11 desaparecidos. Já a tragédia de Mariana, também em Minas Gerais, aconteceu em 2015 com o rompimento da barragem do Fundão, da mineradora Samarco, e provocou a morte de 19 pessoas.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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