Fenômeno “novo”, fake news diferem de boatos e viralizam como verdade pela internet
Em tempos de publicação abundante de notícias também é comum nos depararmos com aquelas que parecem ser verdadeiras, mas, na realidade, trazem em seu conteúdo algo que, longe não é verídico. Do termo em inglês “fake news” podemos traduzir facilmente para “notícias falsas”, algo que vem sendo muito debatido nos últimos meses.
“Em geral é definido como notícia falsa, mas é algo que não advém de um erro de apuração, mas de um erro malicioso. Ou seja, um fato errado que foi apresentado na forma de notícia com o intuito de enganar. Normalmente tem propósitos políticos, econômicos ou uma combinação das duas coisas”, explicou Pablo Ortellado, do Grupo de Pesquisa em políticas Públicas para o Acesso à Informação da Universidade de São Paulo (USP).
Fenômeno teoricamente novo, as fake news passaram a ser utilizadas em dezembro de 2016 na campanha presidencial americana para designar blogs maliciosos que difundiam informações falsas sobre a então candidata democrata, Hillary Clinton.
Mas a mentira é um fenômeno antigo. Então vale diferenciar: a fake news não é igual a um boato.
“Quem referenda um boato é uma testemunha”, diz Ortellado. Os boatos do WhatsApp, por exemplo, trazem informações sempre atribuídas a uma testemunha.
“Meu cunhado trabalha na Polícia Federal e há uma investigação em curso que a imprensa não quer revelar”, “um vizinho que trabalha na Casa Civil disse que o presidente sabe tal coisa”. Você já recebeu uma mensagem dessas e acreditou? Pois bem, ter essa “testemunha” é o que “dá credibilidade a esse fato oculto relatado”, de acordo com o especialista.
Já na notícia falsa, quem dá a validade da informação é um suposto jornalista, que supostamente teria apurado a informação. A fake news aparece em um site muito parecido aos que já existem, ou com uma escrita jornalística semelhante, mas sempre há algo que entrega sua falsidade.
A fake news, que costuma se disseminar via redes sociais e aplicativos de mensagem, tem um grande alcance e preocupa, ainda mais em época de eleição, como é o caso do Brasil. “Todo dia tem notícia falsa circulando sobre assuntos políticos. Basta o clima político esquentar que começam a circular notícias falsas. Os dois campos políticos no qual o Brasil está dividido começam guerra de informações e, no meio disso, invariavelmente surgem notícias falsas”, ressaltou Ortellado.
Quem compartilha tem culpa?
Compartilhar uma fake news não necessariamente configura em crime. Mas é preciso questionar: a pessoa que compartilhou sabia que era fake news? Ela teve intenção de passar porque era fake?
Segundo Fabro Steibel, diretor-executivo do ITS-Rio e professor da ESPM-Rio, é complicado responsabilizar quem compartilha uma fake news. Mas ele fez o alerta: “isso não quer dizer que você esteja livre da responsabilidade social de verificar se a informação é verdadeira ou não (…) Compartilhar uma informação que você sabe ser falsa para danificar a honra de alguém é crime”.
“Existe uma dificuldade de definir o que é fake news, mas há o jornalismo malfeito com informação sem ser verificada, tem fake news que a gente não sabia que era mentira. Tem ‘barrigadas’ no jornalismo [informação errada publicada sem intenção], tem informação feita para ser mentira. E aí a responsabilidade de passar isso para frente depende. Você tem noção de que a informação que você passa, você é responsável por ela”, disse Steibel. “Isso não significa que você possa sempre saber o está compartilhando. O mais importante é que você não seja leviano em passar para frente”, completou.
Então sejamos claros: quem é o responsável, ao menos em um primeiro momento, é quem produz a informação falsa. Mas isso não quer dizer que quem compartilha não seja corresponsabilizado.
Entretanto, também é preciso compreender as características e a situação de quem compartilha tal fake news. “Se não responsabilizar quem compartilha, dá carta branca para outros compartilharem sem serem responsabilizados. Mas também não dá para pesar a mão, senão daqui a pouco compartilhar qualquer coisa é crime”, explicou o professor da ESPM.
Outra coisa que difere da fake news é a opinião. As opiniões partem de uma pessoa específica e deve ficar claro de que o que foi divulgado faz parte da opinião de quem propaga.
De quem é a responsabilidade de desmentir a informação?
A imprensa faz sua parte, mas há ainda a responsabilidade por parte de quem recebe uma fake news verificar se ela é verdadeira ou não. Há, hoje em dia, sites de verificação como a Agência Lupa, Aos Fatos e Agência Pública, que se dedicam a desvendar fake news. Boatos.org e E-farsas também desmentem boatos e notícias falsas que circulam pela internet.
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